Tesouros da Indonésia vistos pelo Embaixador em Portugal Mulya Wirana.

Texto de Leonídio Paulo Ferreira

Mala diplomática publicada originalmente na edição de dezembro de 2017 da revista Volta ao Mundo, número 278.

«Com 17 mil ilhas, a Indonésia é o maior país arquipelágico do mundo», nota o embaixador Mulya Wirana, para logo acrescentar «estendendo-se por três fusos horários, o que significa que se puséssemos a parte ocidental no cabo da Roca, a parte oriental estaria na Turquia». Continuando a explicar a dimensão da nação, quarta mais populosa do mundo, o diplomata concorda que, de facto, a Indonésia, embora pluralista em termos religiosos, «é o país com mais muçulmanos, mais até do que os muçulmanos de todo o Médio Oriente somados».

Orgulhoso da diversidade da Indonésia, e prestes a terminar quatro anos de representação em Portugal, o diplomata relata como foi sempre bem acolhido, com o conflito por causa de Timor-Leste a ser já uma leve memória que não afeta a simpatia. Mas o embaixador Wirana acredita que é possível aproximar mais os dois povos, basta dar-lhes a conhecer a história comum, velha de cinco séculos.

«Sabe que a nossa língua tem centenas de palavras de origem portuguesas, como keju/queijo, mentega/manteiga ou boneka/boneca?», lança. E que, além dos cristãos das Flores, que rezam ainda num crioulo português, mesmo «nos arredores de Jacarta, existe a aldeia de Tugu, criada por portugueses trazidos prisioneiros de Malaca», quando os holandeses conquistaram essa cidade no século XVII.

Segundo o embaixador, usam até uma espécie de cavaquinho e a sua música contém elementos do fado, que procuram agora atualizar. «Um grupo tugu esteve em Lisboa no ano passado quando se celebraram cinco anos de admissão como património da UNESCO e tocou no Museu do Fado com Mariza», relembra este diplomata de 59 anos, formado em Direito e que, ao longo da carreira, já esteve colocado em cidades com Belgrado, Washington, Haia e Kuala Lumpur.

Sobre a língua nacional, o chamado bahasa, ter tantas palavras portuguesas, a explicação de Mulya Wirana é simples: «Era a língua franca das ilhas das especiarias.» E a sua escolha para língua nacional foi feita pelos nacionalistas indonésios ainda antes da conquista da independência aos holandeses, em 1949. «Há países que têm de pôr tudo em duas línguas para evitar disputas e outros em que a língua da maioria foi imposta às minorias, mas na Indonésia, que conta com trezentos grupos étnicos, não escolhemos a língua da maioria, que seria o javanês, mas sim esta língua franca que todos aprendem. Por exemplo, duas tribos separadas por um rio numa ilha remota falarão cada qual a sua língua, mas para se entenderem usarão o bahasa», explica o embaixador.

Imagem de destaque: Direitos Reservados

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.