Gran Canaria. Aterrámos na terceira maior ilha do arquipélago das Canárias para conduzir a nova Volskwagen California XL. Depois de 300 quilómetros, não temos dúvidas: é um destino onde há de tudo e aqui tão perto. Cidade, praia, natureza, desportos náuticos e uma paisagem de contrastes para descobrir em cada curva. É só fazer-se à estrada.

Texto de Nuno Mota Gomes
Fotografias de Fernando Marques

Quem nunca sonhou viajar de autocaravana? Poder conduzir sem destino, parar onde se quiser, dormir onde calhar. Aliar o prazer de percorrer estrada ao conforto, à liberdade, à tranquilidade. Quem nunca sonhou, mesmo sabendo que nem tudo é perfeito como em qualquer viagem. Foi em busca dessa experiência que aterrámos numa ilha com fama de ser um «pequeno continente». Na Gran Canaria há de tudo: da costa mais turística ao interior quase sem pegada humana, da paisagem rochosa ao horizonte de natureza. Mas também não lhe faltam praias para todos os gostos, uma reserva natural de dunas em frente ao mar, o frenesim junto aos aglomerados de hotéis, assim como vilas pacatas entre montanhas onde a vida não tem pressa. É uma ilha que engana à primeira vista. Tudo pode mudar em poucos quilómetros – e quase sempre para melhor.

No aeroporto recebemos a chave daquela que iria ser a nossa casa nos dias seguintes. Uma mítica Volkswagen California, mas em versão XL – equipada com duas camas, casa de banho e cozinha. Está pensada para levar até quatro pessoas, mas o cenário ideal é um casal com duas crianças. Não lhe faltam espaços de arrumação e a mais recente inovação para garantir conforto e segurança. Engane-se quem ainda acha que «acampar» promete desconforto: é muito divertido.

Ao volante

Estava então na hora de nos fazermos à estrada com a casa atrás, mas, antes de grandes distâncias, a primeira paragem foi no supermercado mais próximo. É essencial ter alguns reforços a bordo, da água aos snacks, ou mesmo os ingredientes necessários para cozinhar à vontade. Depois de encher o frigorífico e as prateleiras, estamos prontos: liga-se o rádio, aumenta-se o volume, foge-se à rota do GPS. Apanhámos a autoestrada para sul, passando por Maspalomas, onde ao longe se consegue ver o mar de dunas. É um dos ex-líbris da ilha e isso percebe-se também pela quantidade de hotéis e apartamentos que cresceram à volta. Evitamos a confusão e decidimos que não é desta que lá vamos.

Havia carros a ultrapassarem-nos e a buzinar, mas acenavam e facilmente percebíamos que não era nenhuma infração. Pareciam gostar da carrinha. Entrámos no espírito, sorrimos e devolvemos também uma buzinadela.

Nas Canárias há muita procura de autocaravanas ou carrinhas adaptadas. A população é fã de conduzir e parar entre os vários parques de campismo. Atravessam de ilha para ilha, nos ferries, e fazem-se à estrada, aproveitando o que de melhor a natureza proporciona. Viajar também é muito isto: decidir rotas, ter curiosidade pelo que vem a seguir a uma curva apertada, parar num café à beira de estrada e meter conversa. Seguir caminho de novo, decidir se viramos à esquerda ou à direita.

a carregar vídeo

Tínhamos uma rota traçada como sugestão de percurso até ao local onde iríamos passar a noite, mas acabámos por nos desviar. Porque não? Depois de uns vinte quilómetros na autoestrada, sempre com o mar à vista, optámos por cortar para o interior. À medida que subíamos, a paisagem ia mudando. Começa a aparecer alguma vegetação e a cada curva, lá está, somos surpreendidos com lugares que nunca imaginámos. São imagens novas que não associávamos ao destino. Não tardou em comentarmos a semelhança com o país vizinho. «Parece que estamos em Marrocos», dizíamos enquanto admirávamos um autêntico desfiladeiro. Cada vez mais no alto da ilha, não hesitámos em parar, fotografar e contemplar. Quem conhece o país africano sabe como o contraste da paisagem é uma constante surpresa. Aconteceu-nos o mesmo ali e a comparação de elementos também: a imponência das montanhas rochosas, umas palmeiras a fazer lembrar oásis, o alcatrão em condições, o clima ameno.

Ao volante, a carrinha ia cumprindo as suas exigências: em nenhum momento sentimos falta de força do motor nem falta de controlo nas curvas, mesmo nas mais apertadas. A «leveza» torna a condução acessível até aos menos confiantes. A certa altura fomos parar a uma estrada onde só passava um carro de cada vez. Tivemos noção de que a rota não era por ali – de certeza –, mas bastou tirarmos as medidas para que mais nenhum caminho fosse estreito.

Ao longo da estrada, há momentos de pausa em miradouros, moinhos e parques de campismo. A Gran Canaria é a terceira maior ilha do arquipélago espanhol.

Já não faltava muito para chegarmos ao destino final do dia, quando começamos a entrar numa zona carregada de pinheiros. Uma paisagem que em nada se parecia com a ilha lunar onde começámos. Éramos praticamente o único automóvel por ali, a desafiar cada ziguezague, sempre com oportunidade de ir espreitando a vista lá de cima. Cruzávamo-nos com alguns ciclistas, corajosos, a enfrentar subidas íngremes. Demos depois com uma barragem e mais uma vez quisemos parar e observar: o plano de água quase se fundia com o Atlântico e lá em baixo havia caiaques a deslizar ao ritmo da remada. Foi preciso arrancarmos para descobrir que o destino final era ali, com o nome de Presa de las Niñas: um parque à sombra de pinheiros altos, de frente para a água, onde já estavam estacionadas outras carrinhas California. Assim que encontrámos o nosso espaço, não pensámos muito e descemos à margem. Vestimos os coletes e fomos também aproveitar os últimos raios de luz, a flutuar.

Como não tínhamos muita experiência de viajar neste registo, tivemos a ideia de ir andar de caiaque e deixar a carrinha a arejar, não deixando sequer as redes mosquiteiras. Está tudo dito… mas só demos com esse problema quando foi para dormir. Antes disso, a organização do evento preparou um churrasco. A noite cai, os milhões de estrelas surgem no céu, a lua cheia reflete-se na água da barragem. Bebe-se mais uma cerveja, volta-se a ir buscar comida, conversa-se sobre tudo.

Acordar, respirar, acelerar

Para alguns o dia seguinte começou com um passeio de BTT pelos trilhos em redor. Para outros, houve tempo para montar o toldo, tirar a mesa e as cadeiras, aproveitando o amanhecer e o silêncio. Optámos pelo segundo programa, enquanto deu para devorar páginas de um livro e a caneca com café a ferver. Às vezes não é preciso muito mais.

Depois de termos aproveitado aquele momento, tínhamos um dia inteiro e muitos quilómetros pela frente. Fizemo-nos à estrada e já não estranhávamos a beleza da natureza, mas continuávamos a admirá-la à medida que descíamos, de novo para a costa. Descemos pela estrada em direção a Puerto de Mogán, onde há um centro pitoresco com a alcunha de «mini Veneza» – tem um canal e umas pontes pequenas. Também não lhe faltam hotéis colados, a disputar o lugar mais perto do pequeno areal – há quem goste. Seguimos a estrada já com o mar do lado direito, passando por outras «terras», como Puerto Rico e Los Caideros, também erguidas com empreendimentos, restaurantes tradicionais e lojas com recuerdos. Mas também há praias tranquilas, com um mar azul-turquesa e transparente, boas condições para nadar, pegar numa prancha de paddle e passear de barco. Férias também é isso.

Ao fim do dia, a vista para o vale de Agaete é uma das muitas recompensas a que tivemos direito.

Os quilómetros percorridos iam aumentando e o ponteiro do combustível não queria descer por nada – como nós, que só queríamos ficar lá em cima, no topo da ilha. E para lá voltámos, até um dos pontos mais altos, o Pico de los Pozos, onde nos sentimos pequenos. Naquelas estradas envolvidas por natureza, quase nos esquecíamos de que estávamos num destino turístico de sol e praia. Abríamos as janelas da carrinha e o ar era puro. Cruzávamo-nos com outros adeptos de silêncio, a percorrer trilhos ao ritmo da passada. Acabámos o asfalto no Parque Nacional Tamadaba, no norte, onde reunimos com as outras carrinhas e mais uns campistas. Havia espaço e sombra para todos. O sol anunciava a sua descida e posicionámo-nos estrategicamente noutro miradouro, acima das nuvens e de caras para a vizinha Tenerife: de cerveja na mão, com a máquina fotográfica na outra e a assistir a um espetáculo de luz. Não é todos os dias.


Guia de viagem

Viajar
Documentos: Cartão de Cidadão
Fuso horário: GMT
Moeda: Euro
Idioma: Espanhol

Dormir
Parque Presa de las Niñas
É o sítio ideal para acampar, de frente para uma barragem. Há bastante sombra, de pinheiros altos, trilhos onde caminhar ou pedalar e também a oportunidade de fazer-se à água. A paisagem, acredite-se ou não, parece um pedaço da Suíça. Há grelhadores e casas de banho públicas. Aconselha-se a evitar o verão, altura em que também há mais residentes a ocupar os parques.
Embalse de la Cueva de las Niñas, Tejeda

Parque Nacional Tamadaba
É a maior área verde da ilha e só isso já é um convite para lá ir, à área recreativa Tamadaba. É também das zonas mais altas e o local ideal para, antes de passar a noite a acampar, assistir ao pôr do Sol. Para além de se estar a mais de mil metros de altitude, temos Tenerife no horizonte.
GPS: 28.057327, -15.695435

Comer
Restaurante Señorio de Agüimes
Fica a dez minutos de carro do aeroporto e tem vista privilegiada. Lá de cima, na esplanada, vê-se uma boa parte do recorte da ilha, graças ao Mirador de las Crucitas. É uma boa sugestão para provar comida tradicional, da terra e do mar, com um toque de criatividade, a meio caminho entre a capital Las Palmas e o sul da ilha. A especialidade é o porco preto assado, mas o destaque também vai para o vinho branco medalhado, de produção própria e com o mesmo nome do restaurante.
Calle Juan Ramon Jimenez, 47 Agüimes
Horário: das 12h00 às 00h00, encerra à terça-feira
Tel.: +34 686 73 41 38
Web: facebook.com/senorio.deaguimes

A nova VW Grand California

A Volkswagen apresenta dois modelos para a nova Grand California: a 600, com seis metros, e a 680, exatamente com mais 80 centímetros. Ambas estão equipadas com um interior multifuncional, cozinha com fogão a gás, lava-loiça e frigorífico de 70 litros. Assim como aquecimento de ar e água a gás, e tomadas USB, de 12V e 230V na área habitável. A casa de banho tem chuveiro e sanita, há um depósito de água limpa com 100 litros e para residuais com 90 litros. A versão 600 tem uma cama transversal com 1,95 m por 1,40 m, suficiente para dois adultos, assim como uma cama na frente mais pensada para crianças. A versão 680 tem apenas uma cama longitudinal com 2,00 m por 1,70 m. Destaca-se o toldo lateral, a mesa e as duas cadeiras para o exterior, assim como os apoios na traseira para o transporte de bicicletas. As duas versões estão equipadas com um motor 2.0 diesel, a debitar 177 cv, e uma caixa automática de oito velocidades. Encomendas a partir deste verão.
Mais informações em volskwagen.pt
PVP: versão 600 a partir de 57 945,90 euros; versão 680 a partir de 68 338,32 euros.


Reportagem publicada na edição de julho de 2019 da Volta ao Mundo (número 297)

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.