Junte-se aquilo que de novo ocorreu em Melgaço, tudo projetos criados com amor por filhos da terra, àquilo que nela é preciso ver para a entranhar como deve ser. Temos um fim de semana bem passado.

Texto de Ana Luísa Santos
Fotografia de Artur Machado / Global Imagens

No concelho mais a norte de Portugal há um museu singular dedicado ao cinema, e é de estreias que começamos por falar, nesta viagem que se inicia naquilo que cheira a novo. E que termina naquilo que, sendo já vincadamente da terra, não se pode deixar de visitar para podermos dizer que estivemos em Melgaço. Sim, falamos da lampreia, mas também da outra cozinha alto-minhota e, obviamente, da riqueza natural.

Vamos ao que se estreou. No lugar de Pinheiro, a dez minutos de carro do centro da vila, encontra-se o novo projeto de agroturismo de quatro sócios, entre eles Lurdes Gomes, que o define como «casas de campo com o conforto da cidade». As Melgaço Alvarinho Houses inauguraram no ano passado e o nome refere-se às duas casas, situadas num terreno de dois hectares onde também há piscina, uma vinha de alvarinho e muito espaço para descansar.

Ao primeiro olhar, as casas até espantam pelas suas diferenças. Uma é tradicional, antiga, de pedra quase dourada. A outra é uma construção geométrica, revestida a vigotas de betão e com janelas de vários tamanhos. Dentro das casas, as diferenças quase desaparecem. Em ambas encontramos interiores de bétula, onde reina um minimalismo quase nórdico.

«Casas de campo com o conforto da cidade»: as Alvarinho Houses descritas por Lurdes Gomes, uma das suas donas.

Na Casa Clérigo, a sensação de conforto é ampliada pelos tetos em pirâmide dos dois quartos, e ainda pela sala com lareira e enormes janelas. Já a Casa das Vigotas é maior, com três pisos, onde os hóspedes podem contar com um mezanino com lareira, uma sala e três grandes quartos. As habitações contam com limpeza diária e um cesto de boas-vindas recheado de produtos da região – vinho, compotas e queijos. Estes últimos, provenientes da Queijaria Prados de Melgaço, têm uma história de regresso a casa para contar. A queijaria fica em Prado e pertence a Mónica e Marco, casal que regressou à terra natal após ter trabalhado no Porto e em Lisboa. Naquela que é a primeira queijaria de Melgaço, pode-se entrar, conversar com os donos, ver as cabras. Ali produzem-se apenas queijos de leite caprino: fresco, cura de 15 ou 30 dias, com pimentão e alvarinho, e uma versão de camembert.

Um dos clientes da queijaria é outros dos novos lugares de Melgaço, que abriu em 2015, em plena serra da Peneda, primeiro como restaurante de apoio às casas de turismo rural da Branda da Aveleira. Chama-se O Brandeiro e é um nome a reter, tanto pela vista como pela comida, pratos com a tenra carne de bovino da raça cachena. Toda a carta casa com os vinhos da região.

Dali ao centro da vila é um passeio entre paisagens de postal, pela Peneda, entre curvas e manadas de vacas e garranos. Em Melgaço, há passeios que se podem dar, para esmoer o banquete, mas também porque o centro histórico é pequeno e bonito, integrando ainda partes do antigo castelo, mandado construir por D. Afonso Henriques.

Prados de Melgaço produz vários tipos de queijo de cabra. Na vila, o centro histórico é perfeito para um passeio «digestivo».

Ali ao lado, pode-se conhecer um espaço invulgar para uma terra pequena e, sobretudo, distante das grandes cidades: o Museu do Cinema, que existe graças à coleção doada por Jean-Loup Passek, antigo diretor do Departamento Cinematográfico do Centro Pompidou, em Paris. Passek passou por Melgaço quando fazia um documentário sobre emigração, nos anos de 1970, e apaixonou-se pelo lugar. No espólio, há objetos que ajudam a contar a história da sétima arte. Encontram-se lanternas mágicas, zootrópios, fenaquitiscópios, cartazes antigos. Recomenda-se uma visita com tempo. E se emigração trouxe Passek a Melgaço, levou também para fora muitos dos seus filhos durante o século XX. No Espaço Memória e fronteira, evoca-se essa fatia da história local, assim como a prática do contrabando – duas realidades das quais ainda há testemunhas vivas.

O que também já faz parte da história de Melgaço é a cozinha da Adega do Sossego. Nesta casa rural, onde não faltam móveis de madeira e paredes de pedra, ganhou fama o naco de vitela na brasa, assim como o costeletão de boi e o bacalhau assado. É provável que a barriga cheia dê vontade de permanecer por ali, enganando o frio com a companhia da lareira. Não admira que Passek tenha preferido ficar em Melgaço.

Ficar
Alvarinho Houses
Pinheiro, Paderne.
Tel.: 918685595.
Web: melgacoalvarinhohouses.com
Casa desde 145 euros por noite

Comer
O Brandeiro
Branda da Aveleira, Gave
Tel.: 933894259.
Das 10h às 00h00. Não encerra.
Preço médio: 15 euros

Adega do Sossego
Peso, Paderne.
Tel.: 251404308.
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 22h00. Encerra à quarta.
Preço médio: 20 euros

Visitar
Museu do Cinema
Rua do Carvalho
Tel.: 251401575
Das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h00. Encerra à segunda

Espaço Fronteira e Memória
Rua Loja Nova
Tel.: 251402843
Das 09h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h00. Encerra à segunda

Comprar
Prados de Melgaço
Quinta do Moinho, Prado
Tel.: 251414093
Das 09h00 às 13h00 e das 15h00 às 17h30

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Reportagem publicada na edição de abril de 2017 da revista Volta ao Mundo (número 270).

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