Encaixada entre o Parque das Nações e Santa Apolónia, Marvila esteve esquecida durante anos. Há seis anos, a zona oriental voltou a mexer. Nos velhos armazéns nasceram projetos de pequena escala, que começam a movimentar cada vez mais pessoas. Bares de cerveja artesanal, restaurantes da moda, galerias de artes, lojas, salas de espetáculos e desportos indoor são alguns dos novos encantos deste bairro.

Texto de Marlene Rendeiro
Fotografias de Diana Quintela/Global Imagens

Milhares de operários, barcos, a chegada dos caminhos-de-ferro, fábricas, até o elétrico por ali passou. Marvila teve pouco ou nada de monotonia em meados do século XIX, com o fervilhar de grandes indústrias como as antigas Sociedade Nacional de Sabões, Companhia Portuguesa de Fósforos, Fábrica Militar de Munições e até de uma fábrica de açúcar que terá inspirado a toponímia de uma das suas ruas. O trabalho fez chegar mão-de-obra do norte do país, criaram-se habitações operárias e a praça principal, David Leandro da Silva, era servida por várias linhas de elétrico. As tanoarias e os armazéns de vinho fizeram vibrar o polo industrial e aproveitaram a proximidade com o Tejo para construir até cais privativos para facilitar a distribuição do vinho. Mas todas foram pouco a pouco abandonadas.

Com o passar dos anos, as grandes indústrias mudaram-se para a periferia e ali ficaram os edifícios devolutos, ainda mais depois do fim da Expo’98, que renovou o Parque das Nações mas deixou congelada Marvila. «Foi a pior altura, então antes da entrada na crise já se sentia esta zona muito parada», afirma António Pinto, sócio do restaurante Concha, instituição no bairro. O sacudir do pó veio nos últimos seis anos, quando as pequenas indústrias começaram a interessar-se pelos armazéns abandonados. Rendas mais baixas e dimensões generosas foram critérios importantes que seduziram espaços de cowork, galerias de artes, cervejeiras e cada vez mais restaurantes e bares.

Sociedade Abel Pereira da Fonseca
Um dos mais importantes empresários do século XX teve praticamente um quarteirão preenchido pelos seus armazéns dedicados ao fabrico, comercialização e distribuição de vinhos e licores, chegando mesmo a montar um cais privativo na atual Avenida Infante D. Henrique para facilitar as descargas pelo rio. Ainda está de pé o edifício mais caraterístico desta sociedade, assinado pelo arquiteto Norte Júnior e com janelas circulares que lembram os tonéis e com o desenho de videiras em baixo-relevo. Atualmente é ali e nos armazéns adjacentes que funcionam os negócios de Chakall.
Praça David Leandro da Silva, 4-6

Casa José Domingos Barreiro
Ainda na Praça David Leandro da Silva está outro património que impressiona. O prédio amarelo tem bem legíveis as letras José Domingos Barreiro, uma empresa rival da Sociedade Abel Pereira da Fonseca à época, cujo negócio assentava no comércio de vinhos e licores. Em 1917, o edifício desenhado pelo arquiteto Edmundo Tavares chegou a ser equipado com um ramal de caminhos-de-ferro, que lhe permitia movimentar os produtos dentro dos próprios armazéns. A casa estará neste momento sem qualquer utilização.
Praça David Leandro da Silva, 28

Companhia Portuguesa de Fósforos
Não fosse o nome Phosphoreira e mal se dava pela construção que serviu de instalação para a antiga Companhia Portuguesa de Fósforos e, mais tarde, foi sede da Sociedade Portuguesa de Fósforos. A fábrica manteve-se em funcionamento durante quase cem anos, detendo o monopólio desta produção. No interior havia balneários, refeitório e até uma creche, daí a generosa dimensão dos espaços que, nos últimos anos, foram ocupados pela cervejeira Lince, pela sede da Hippo Trip, pelo ateliê de aluguer de vestuário Maria Gonzaga/Peris Costumes, por uma fábrica de ginjinha e escritórios.
Rua do Açúcar, 76

Fábrica Braço de Prata
Centro cultural, com salas para concertos, exposições e oficinas, bar, restaurante e a livraria que mais tarde fecha em Lisboa, apenas às quatro da manhã. A Rua da Fábrica de Material de Guerra não deixa espaço para equívocos: ali operou, do início do século xx até aos anos 1980, um equipamento industrial que se destinava à produção de munições. Atingiu o pico durante a guerra do ultramar e, à data, já se fabricavam armas, veículos e fardamento. Da antiga fábrica sobrou o edifício administrativo onde funciona o atual polo, que além da programação cultural tem escola de música.
R. Fábrica de Material de Guerra, 1


Baginski
A galeria Baginski tem dado a conhecer artistas nacionais e internacionais desde 2002. Entretanto cresceu e mudou-se de um apartamento no Príncipe Real para um armazém em Marvila, em 2009, onde despertou para outras manifestações artísticas. Do leque de artistas contemporâneos constam alguns emergentes, portugueses, e outros sul-americanos com carreira já consolidada. Até 29 de abril, está em mostra o trabalho do brasileiro Paulo Climachauska, que constrói imagens a partir de linhas de números resultantes de operações de subtração.
Rua Capitão Leitão, 51-53
Tel.: 213970719
Das 14h00 às 19h00; sábado até às 20h00. Encerra ao domingo e à segunda
»baginski.com.pt

Francisco Fino
A história de Francisco começa em agências de publicidade, mas uma passagem por uma leiloeira aproximou-o da arte e do colecionismo, uma das paixões do seu avô. «Quando regressei a Portugal procurei espaços para abrir uma galeria. Interessava-me estar perto de outras galerias, é bom as pessoas poderem fazer um percurso», conta o galerista, que abriu há um ano o espaço em nome próprio num antigo armazém de azeite e vinho. A maioria dos artistas que integram o portfólio é de nacionalidade portuguesa e até 28 de abril está em mostra o trabalho de Vasco Araújo.
Rua Capitão Leitão, 76
Tel.: 215842211
Das 12h00 às 19h00; sábado, das 15h00 às 20h00. Encerra ao domingo
»franciscofino.com

Underdogs
É a galeria mais afastada do circuito de arte de Marvila, mas o seu nome é talvez o mais sonante. Tem como fundadores a francesa Pauline Foessel e Alexandre Farto (Vhils) e recebe exposições individuais e temporárias de artistas com inspirações urbanas que ambos convidam. São seis exposições anuais com o coletivo PichiAvo, conhecido por ligar arte, arquitetura, escultura.
Rua Fernando Palha, Armazém 56
Tel.: 218680462
Das 14h00 às 20h00. Encerra ao domingo e à segunda
»under-dogs.net

Bruno Múrias
Abriu em 2014, sob o nome Múrias Centeno, projeto conjunto de Nuno Cente no e Bruno Múrias. No início do ano, os galeristas seguiram projetos diferentes e neste momento o espaço é da responsabilidade de Múrias, que continua o trabalho com artistas de arte contemporânea.
Rua Capitão Leitão, 10-16
Tel.: 218680840
Das 14h00 às 19h00. Encerra ao domingo e à segunda
»brunomurias.com


Fábrica Moderna
Rita Sampaio e Vasco Cosme criaram um espaço pensado para criativos que precisam de instalações especiais e ferramentas, como impressoras 3D. No local convivem artistas de áreas diferentes, que todos os fins de semana partilham o seu saber em workshops abertos ao público.
R. PEREIRA HENRIQUES, 24
FABRICAMODERNA.COM

Teatro Meridional
A Galeria da Mitra foi convertida em teatro em 2005, para acolher o Meridional. A companhia tem como principais linhas de atuação textos originais, adaptações não teatrais e encenação de grandes obras da dramaturgia mundial. Até 29 de abril está em cena ‘Dona Rosinha, a Solteira’, de García Lorca.
RUA DO AÇÚCAR, 64
TEATROMERIDIONAL.NET

Sweet Art Museum
Uma piscina de marshmallows e salas dedicadas a chupas gigantes e gelados chegam a Marvila no final de maio. A pré-venda dos bilhetes arranca a 23 de abril, e a partir dessa data é possível reservar entradas.
RUA JOSÉ DOMINGOS BARREIROS, 2-H, ARMAZÉM 5
ENTRADA: 20 EUROS
SWEETARTMUSEUM.COM


Entra
Há que entrar à vontade no número 80 da Rua do Açúcar, até porque o nome do restaurante convida a isso. O Entra foi um dos primeiros da nova vaga a chegar ao bairro, em 2011, mas desde 2016 tem novo proprietário. «Temos comida simples, mas generosa», diz o chef Miguel Brandão. É por isso que o almoço funciona sem carta, apenas pratos do dia, como risoto de alheira ou salmão curado com batata, mas entre as sugestões há sempre pelo menos uma vegetariana. Já ao jantar, o espaço é muito procurado para festas e aniversários, devido ao preço do menu e ao fator surpresa. Com os ingredientes frescos do dia, o chef prepara duas entradas, dois pratos principais e duas sobremesas, por 19,50 euros.
Rua do Açúcar, 80
Tel.: 212417014
Das 12h00 às 16h00 e 19h30 às 00h00; sábado até às 01h00. Encerra ao domingo e à segunda ao jantar
Preço médio: 12/20 euros (almoço/jantar)
»entra.pt

Café com Calma
«Quando abri o café, em 2015, ainda não havia muito por aqui. Nem a minha sócia da altura acreditava em mim.» Quem o conta é Rita Estanislau, designer de interiores e, hoje, a única proprietária do Café com Calma, um dos primeiros espaços a arriscar nesta zona da cidade. Na decoração há móveis da casa dos avós de Rita, candeeiros com a iluminação certa e um balcão de mármore, que a designer escolheu preservar. Tal como a história. «Este espaço foi uma carvoaria e na altura faziam aqui o jogo tradicional da laranjinha, semelhante ao francês pétanque», recorda. Além do espaço, também o menu de almoço é apelativo. Por 8,50 euros há sopa, prato do dia, bebida e sobremesa, mas a carta fixa tem também massa fresca, saladas e hambúrgueres a preços simpáticos. Também simpático é o brunch de sábado, a 15 euros.
Rua do Açúcar, 10
Tel.: 218680398
Das 08h00 às 19h00; sábado, das 12h00 às 18h00. Encerra ao domingo
Preço médio: 9 euros; brunch, 15 euros

O Entra e o Café com Calma foram duas das primeiras moradas da nova Marvila. A «teimosia» deu dividendos.

Aquele Lugar Que não Existe
O segredo é a alma do negócio e este restaurante leva o provérbio à letra. No interior, é pedido aos clientes que não partilhem as fotografias do espaço e até as possíveis reportagens sobre o projeto são recusadas, educadamente. Faz tudo parte da filosofia de Aquele Lugar Que não Existe, onde até a decoração (muita em madeira) está constantemente a mudar. Ora surgem mesas de bilhar no centro da sala ora entram e saem móveis e mesas, algumas construídas no local. Garantido só mesmo as especialidades da casa: pizas com «sabores exóticos», diz o gerente, e comida de inspiração indiana.
Rua do Açúcar, 89
Tel.: 960016208
Das 11h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h30; sábado, até às 00h00. Não encerra
Preço médio: 25 euros

Dinastia Tang
Em 2014, estava Marvila sossegada, quando os armazéns que haviam sido escritórios da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca começaram a transformar-se na Dinastia Tang. Sem gatos da sorte ou carta para ocidentais, e com uma decoração que ajuda a encurtar a viagem até ao Oriente. «O nosso menu é único, para portugueses ou chineses», explica Marisa Cerqueira, uma das sócias, a par de Binlu Zhu. Foi no regresso a Portugal, vindos de Xangai, que abriram o espaço dedicado à cozinha das províncias de Cantão, Jiangsu, Pequim e Sichuan. Há dim sum, robalo agridoce, porco suzhou, pato à Pequim e, de Sichuan, os picantes.
Rua do Açúcar, 107
Tel.: 218680467
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 23h00; não encerra
Preço médio: 20 euros
»facebook: Dinastia Tang

Dois Corvos
«Quando chegámos a Marvila, ainda pudemos escolher entre os muitos armazéns abandonados», recorda Susana Cascais, no bar da Dois Corvos. A cervejeira ocupa um armazém da Rua Capitão Leitão onde em tempos se fez a pisa da uva. Hoje, barricas só as há para estagiar as cervejas artesanais da casa, que Susana gere com o marido, Scott Steffens. A Dois Corvos foi a primeira do atual trio de cervejeiras a chegar a Marvila, em 2014, e desde a abertura já criaram 80 estilos, a maioria dos quais foi passando pela taproom, bar com vista para a fábrica. Para acompanhar há focaccie, pizas e tábuas.
Rua Capitão Leitão, 94
Tel.: 211331093
Das 14h às 23h; sexta e sábado, até às 01h; não encerra
»doiscorvos.pt

Lince
António e Pedro trabalhavam em telecomunicações, mas foi a paixão pela cozinha que levou à cerveja artesanal. Um curso na Sovina e várias experiências de garagem depois, começou a nascer a Lince, que hoje produz dez mil garrafas por mês. Quando chegaram a Marvila, já lá estava a Dois Corvos, e estabeleceram uma parceria (e amizade), que ficou completa com a abertura da Musa. As três cervejeiras assinalaram no mapa esta zona. Neste momento, a Lince recebe curiosos em visitas guiadas, e é a única a não ter uma taproom na fábrica. «Mas isso vai mudar ainda neste ano», garante António.
Rua do Açúcar, 76, armazém 8
Tel.: 215846678
»cervejalince.pt

Musa
Há gostos para tudo, e se houver dúvidas, é pedir ajuda a quem está ao balcão da Musa. Nuno Melo é cofundador da cervejeira e não apreciava a bebida até há coisa de uns anos. Trabalhava na mesma consultora que Bruno Carrilho, mas uma viagem de carro e a partilha de conhecimentos sobre a cerveja artesanal levou ambos a mudar de rumo. Hoje são a alma da fábrica da Musa, que tem uma taproom onde também se come empanadas, tostas e tábuas de queijo.
Rua do Açúcar, 83
Tel.: 213877777
Das 16h às 23h; sexta e sábado, até às 02h; encerra à segunda
»cervejamusa.com


Academia de Parkour Spot Real
Segurança, segurança e segurança. Nuno Santos repete várias vezes a palavra durante a visita à academia indoor de parkour, que abriu há dois anos. Mas não em vão, pois «aprender a cair» é uma das mais importantes ferramentas que os novos praticantes adquirem no Spot Real. Nuno é um dos quatro sócios do centro, todos praticantes da modalidade há mais de dez anos, e com muita vontade de desmistificar a ideia de que este é um desporto perigoso. O primeiro ginásio exclusivamente dedicado ao parkour está, por isso, tanto aberto a traceurs tarimbados que querem treinar manobras elaboradas como a leigos na matéria e até a festas de anos. Há treinos avulso, indicados para quem tem experiência, e aulas semanais, para crianças a partir dos 7 anos, jovens e adultos. Enfrentar medos é um dos lemas do espaço, que está equipado com piscina de espuma.
PRAÇA DAVID LEANDRO DA SILVA, 13
TEL.: 218619025
DAS 15H00 ÀS 22H00; SÁBADO, DAS 10H00 ÀS 20H00, DOMINGO DAS 10H00 ÀS 13H00: NÃO ENCERRA.
PREÇO: AULA EXPERIMENTAL, 6,95 EUROS
ACADEMIAPARKOURLISBOA.PT

Vertigo Climbing Center
A necessidade faz o engenho e, neste caso, fez um rocódromo. «Lisboa era a única capital europeia sem uma estrutura de escalada interior», vinca Tiago Martins, que fundou há três anos e meio o Vertigo com outro escalador, Nuno Batista. O armazém de pé-direito alto não é grande, mas a forma como está montado o circuito permite que estejam lado a lado participantes de níveis distintos. Tudo graças à cor das etiquetas que indicam as presas (pontos de apoio). Além disso, o circuito muda constantemente para garantir que nunca há monotonia nos praticantes. Estes podem ter aulas avulso, em grupo (até três vezes por semana) ou ainda passes livres. No andar superior há um pequeno ginásio para fortalecer os braços, os dedos e até o equilíbrio, aberto a todas as pessoas, e logo à entrada está uma cafetaria com hambúrgueres, tostas, smoothies e bolos caseiros.
AVENIDA INFANTE DOM HENRIQUE, EDIFÍCIO BEIRA-RIO, FRACÇÃO S
TEL.: 967890179
DAS 16H00 ÀS 23H00; QUARTA, DAS 11H00 ÀS 23H00; SÁBADO, ATÉ ÀS 20H00; DOMINGO, ATÉ ÀS 18H00. NÃO ENCERRA.
PREÇO: MENSALIDADES DESDE 19 EUROS.
VERTIGOROCO.WIXSITE.COM/VERTIGO


Revivigi
Réplicas de guerreiros de Xian, originais fazem parte do em artigos decorativos e mobiliário oriental. O negócio abriu faz 15 anos e o número de peças tem vindo a aumentar. Chegam da Mongólia, do Tibete e da China, algumas com mais de trezentos anos. A diversidade e a quantidade podem deixar qualquer um desorienta do, pelo que o melhor é ir com tempo.
Rua do Açúcar, 45
Tel.: 218680569
Das 10h00 às 19h00; encerra ao domingo
»facebook.com/revivigi

Cantinho do Vintage
De vice-presidente de um banco a colecionador de móveis e artigos de decoração antigos, assim foram as voltas que a vida deu a Carlos Silva, um dos sócios do Cantinho do Vintage. Agora viaja pela Europa à procura de peças únicas, que chegam em grandes carrinhas até a um dos quatro armazéns que a empresa tem em Marvila. Neste momento, o negócio já evoluiu tanto que o Cantinho do Vintage presta serviços de decoração a hotéis e restaurantes, faz restauros e fabrica as suas próprias peças. Ainda assim, continua a ser possível visitar a loja na Rua do Açúcar e adquirir mesas, cadeiras, sofás, candeeiros e até brinquedos originais para crianças. Quando os dias quentes chegarem, o Cantinho vai ter uma esplanada e passa a abrir quase diariamente.
Rua do Açúcar, 19
Tel.: 929164323
Segunda, das 21h00 às 23h00; sábados, das 10h00 às 18h00
»cantinhodovintage.pt

Collectors Marvila
O gosto por peças com outras vidas é, por si só, um projeto de vida para o fotógrafo holandês Alma Mollemans e para a luso-britânica Emily Tomé. O casal é dono das lojas Vintage Department no Príncipe Real, no Porto e na Comporta, mas sentia falta de um grande armazém onde os clientes pudessem levar, na hora, as peças compradas. Encontraram-no em Marvila, com três mil metros quadrados, no local onde no futuro irá surgir o condomínio de luxo Prateato, um simpático «senhorio» que acedeu à vinda de vários inquilinos para o gigante armazém enquanto o projeto não avança. Assim nasceu o Collectors by Vintage Department, onde estão peças de mobiliário vintage de Alma e Emily, mas também outras marcas, designers e ateliês. É o caso de Joana Astolfi, que acaba de mudar a sua equipa para o grande armazém. Entre os «inquilinos» estão ainda o Babled Design, a empresa Yellow Korner, que democratiza a fotografia com edições limitadas a preços mais baixos, e a FoodTruck Ilegítimo, uma carrinha para petiscar entre grandes compras.
Rua Pereira Henriques, 6
Das 11h00 às 20h00. Encerra ao domingo e à segunda.
»collectors-marvila.com

Damage Inkorporation/Barbearia Oliveira
Os mais antigos habitantes do número 38 da Rua do Açúcar ainda hão de recordar os tempos em que o edifício era conhecido por Vila Santos Lima, habitação operária cujo rés-do-chão foi oficina de tanoaria da empresa vinícola, e onde os andares superiores eram ocupados pelos seus trabalhadores. «Ainda vivem aqui pessoas dessa altura», conta Ana Sofia Barata, que gere com o marido, Sérgio Ricardo, uma loja de tatuagens no andar térreo. Ele, tatuador desde há seis anos, juntou-se à Barbearia Oliveira para proporcionar um serviço dois em um no mesmo espaço. Ali também é possível beber um café ou até comer uma tosta na pequena cafetaria instalada para garantir que não há «fraqueza» em tatuagens demoradas. Todas as sextas-feiras 13, a loja organiza eventos solidários com dezasseis tatuadores a trabalhar em simultâneo. Cada tatuagem (de 5×5 cm) custa 13 euros, dos quais 1 euro é doado a uma associação.
Rua do Açúcar, 38
Tel.: 969429949
Das 10h00 às 20h00; encerra ao domingo
»facebook.com/damageinkorporation

Ateliê Peris/Maria Gonzaga
Vestidos de época, de cerimónia, roupa de fantasia, smokings, perucas e um sem-fim de adereços é o que se encontra no ateliê Peris Costumes/Maria Gonzaga, dentro da Phosphoreira. As duas empresas de aluguer de vestuário juntaram forças e tratam de fornecer o guarda-roupa de séries de televisão, cinema, publicidade e teatro, mas também estão abertas a particulares.
Rua do Açúcar, 76, Armazém 3
Tel.: 213950163
Preço: aluguer de vestuário a partir de 100 euros
»periscostumes.com


Floresta Oriental
Pai, mãe e filhas mantêm caseira a comida da Floresta Oriental desde que tomaram conta do restaurante, em 2005. O ambiente é familiar e os pratos refletem a origem dos Lopes, como o bacalhau à minhota e o cabrito. A feijoada, a francesinha, o bitoque à Floresta e a maminha «com carne tenrinha» são alguns dos mais pedidos. Quem lá passar à quarta tem cozido.
Rua Capitão Leitão, 96-98
Tel.: 916633754
Das 07h30 às 22h00; encerra ao domingo. Preço médio: 10 euros
»facebook: Restaurante FlorestaOriental

A Concha
É quase uma instituição no bairro, com mais de 60 anos, mas ainda há quem se lembre do tempo das fábricas e da febre da Expo’98, que veio dar novo fôlego à zona. Como os dois Antónios, antigos empregados, que agora gerem o restaurante. António Pinto elogia a «gente nova» que chegou nos últimos anos ao bairro e até pensa ter menus em inglês para que os turistas possam escolher entre tiras de choco frito e jaquinzinhos, além de outros pratos.
Rua Amorim, 7. Tel.: 218681938
Das 07h00 às 22h30; encerra ao domingo
Preço médio: 15 euros

Jardim
A comida nortenha está bem representada e Abílio Azevedo faz honrar as suas raízes no restaurante Jardim, em frente à Praça David Leandro da Silva. Está há mais de quarenta anos na zona oriental da capital, os últimos oito passados à frente da cozinha deste espaço, onde uma das especialidades são os rojões à minhota. Ali encontram-se também carne à alentejana e açorda. Domingo é dia de cozido, uma dose que dá para duas (ou mais) pessoas.
Pç. David Leandro da Silva, 18-19
Tel.: 216078946
Das 11h00 às 23h00; encerra à segunda.
Preço médio: 13 euros


O minibairro de Chakall

O cozinheiro argentino tem três espaços a funcionar nesta zona e prepara a abertura de um novo projeto, uma pastelaria biológica.

O que o atraiu nesta zona da cidade, quando abriu o El Bulo, em 2016?
Sempre achei que esta era uma das melhores áreas de Lisboa, mas que nunca foi bem aproveitada. Eu moro no Alto de São João e acho que, estrategicamente, Marvila é espetacular, tem acessos incríveis, fica perto do aeroporto, das duas pontes e do centro. É muito melhor do que a zona ocidental.

Quando se apercebeu de que a zona estava a tornar-se popular?
Percebia-se que havia uma dinâmica diferente, mas não vim pelas tendências, vim pelo meu instinto. Há vinte anos, durante a Expo’98, vim aqui fazer um evento e disse que um dia ia abrir um negócio nestes armazéns da cidade. Quando soube que era possível alugar, avancei.

Mas é diferente gostar apenas de uma área ou decidir abrir ali três projetos de restauração.
No início foi difícil, disseram que estava um pouco louco. Quando cheguei havia vários restaurantes já, mas junto a estes armazéns [Abel Pereira da Fonseca] era um deserto. Estiveram quarenta anos degradados. Eu queria algo diferente e um espaço grande no centro é uma fortuna.

Está a criar um bairro do Chakall, à semelhança de José Avillez no Chiado?
Não, não gosto de zonas muito turísticas, aqui 99 por cento dos nossos clientes são portugueses. Gosto de ir sair e de ter vários tipos de restauração por onde escolher. Já tinha o El Bulo, que estava mais direcionado para carnes argentinas, e sentia falta de uma pizaria, abri então o Refeitório do Senhor Abel e o Heterónimo Baar, onde eram os refeitórios e a taberna da antiga sociedade de vinhos. Continuo a abrir aqui espaços porque esta zona da cidade é ótima. Vou abrir uma pastelaria biológica até junho, aqui ao lado e, neste ano, quero ainda abrir outras duas coisas nesta zona.

O bairro vai escapar ao turismo em massa?
Penso que este é um daqueles bairros, como existe em Miami e Nova Iorque, que são mais para as pessoas do país e são só visitados por turistas que querem ir onde vão os «locais». Marvila é um bairro de lazer perfeito, não tem vizinhos, pode-se fazer o barulho que se quiser e à noite ainda é fácil estacionar.

EL BULO SOCIAL CLUB
PRAÇA DAVID LEANDRO DA SILVA, 9.
DAS 19H00 ÀS 00H00; QUINTA ATÉ ÀS 02H00; SEXTA, DAS 12H00 ÀS 16H00 E DAS 19H00 ÀS 02H00; SÁBADO, DAS 12H00 ÀS 00H00; DOMINGO, DAS 12H00 ÀS 16H00.
PREÇO: 25 EUROS
WEB: ELBULO.PT

REFEITÓRIO DO SENHOR ABEL
PRAÇA DAVID LEANDRO DA SILVA, 4-6. TEL.: 218688023.
DAS 12H00 ÀS 15H00 E DAS 19H00 ÀS 00H00. ENCERRA À TERÇA E À QUARTA AO ALMOÇO.
PREÇO MÉDIO: 20 EUROS



Heterónimo Baar
Em «flagrante delitro», assinou Fernando Pessoa numa fotografia enviada a Ophélia, em que surgia a beber um copo de aguardente na «taberna do Abel». O poeta referia-se a Abel Pereira da Fonseca, cujos antigos armazéns de vinho receberam, no início deste ano, um novo inquilino, o Heterónimo Baar, de Chakall (ver entrevista na página ao lado), com ligação à pizaria Refeitório do Senhor Abel, também do cozinheiro argentino. A história de Pessoa inspirou o nome do espaço, mas também um dos cocktails de aguardente, intitulado Café da Manhã. A responsabilidade da carta de autor é de Sandro Pimenta e Miguel Tojal, que criaram dez cocktails especialmente para o bar, para beber antes e depois de jantar, mas também para acompanhar a ementa do Refeitório, ali ao lado.
Praça David Leandro da Silva, 4-6
Tel.: 218688023
Das 12h00 às 02h00. Encerra à terça.
Preços: cocktails desde 5 euros; vinho a copo, 3,50 euros.
»facebook.com/heteronimobaar

Bar Capitão Leitão
Marvila não está no mapa como bairro da noite, mas Viviana Baptista admite sentir as movimentações. «Temos pessoas que antes do Lux passam aqui, temos DJ às sextas e aos sábados. Ou até vêm depois, temos um cocktail chamado Ressaca», brinca. Leva rum, ananás e limão e integra uma carta de bebidas onde se encontram também sours e a cerveja Lince. Viviana e Will só descobriram a zona oriental há pouco mais de um ano, depois de regressarem de Londres. «Encontrámos este armazém e atirámo-nos de cabeça, ainda bem, porque o quarteirão já não tem nada para alugar», diz Viviana. Ali passam vizinhos, casais mais velhos, mas também famílias, porque a música permite agradar a vários géneros.
Rua Capitão Leitão, 5-B.
Tel.: 215809594
Das 20h00 às 00h00; sexta, das 22h00 às 02h00; domingo, das 18h00 às 22h00. Encerra à segunda e à terça.
Preço: cocktails desde 5 euros
»facebook.com/barcapitaoleitao

Lisboa ao Vivo – LAV
Artistas nacionais e internacionais começaram a estrear a nova sala de espetáculos da capital há já um ano, mas só recentemente a LAV passou a ter programação mais regular, especialmente às sextas e aos sábados e, durante a semana, quando há bandas em digressões europeias. «Não temos um estilo de música definida, tanto há concertos de José Cid como K-pop ou até Moonspell, que lançaram o último álbum aqui», explica o gerente da Lisboa ao Vivo, Carlos Carvalho. A 13 de abril, há concerto dos suecos Dark Tranquility, e no dia 18 são os americanos Havok a ocupar a sala.
Avenida Infante D. Henrique, Armazém 3
Tel.: 215847000
»lisboaaovivo.com


Para seguir as novidades da Marvila, vale a pena acompanhar o projeto online do ‘Orientre’, jornal criado por duas agências publicitárias e de multimédia. Há entrevistas com vizinhos, informação sobre novos espaços e sobre as pessoas que fazem mexer a zona oriental da cidade.
»orientre.pt


Fim de semana em Portugal
Apoiado pela revista Evasões


Reportagem publicada na edição de março de 2019 da revista Volta ao Mundo (número 293).

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.