Não salto de uma vez para a piscina. Não tenho 15 anos, essa é a idade do meu filho mais novo. Mas a temperatura está agradável e, por isso, entro decidido, desço degraus sem hesitações.
Não importa em que país, não importa em que cidade, há um ambiente neutro e transnacional nos hotéis próximos dos aeroportos. Normalmente, quem chega carregado de malas a um desses hotéis é mais condescendente do que noutras estadas, apenas procura uma cama limpa e um chuveiro limpo porque, na madrugada seguinte, apanhará um voo para muito longe dali, é já esse destino que tem em mente. Não há muito envolvimento com estes hotéis, vivem sobretudo de gente que está em trânsito, escalas de oito, dez, doze horas durante a noite. O pequeno-almoço é o básico, a simpatia dos empregados é reduzida ao essencial. Quem fica, muitas vezes, não chega a desfazer a cama, adormece sobre a colcha, contenta-se em descalçar os sapatos.
Não há muito envolvimento com estes hotéis, vivem sobretudo de gente que está em trânsito, escalas de oito, dez, doze horas durante a noite.
Suponho que a grande maioria dos hóspedes destes hotéis não viaje com roupa de banho: homens de fato escuro e gravata, mulheres de tailleur cinzento, uns e outros apenas com bagagem de mão, computador portátil, pastas de documentos. Eu, no entanto, viajo de sandálias e, por isso, tenho quase sempre uns calções na bagagem, ocupam pouco espaço. Apercebi-me da piscina quando estava na receção, à espera da fotocópia do passaporte. Subi, troquei de roupa e desci.
Aquilo que faço sozinho numa piscina é pouco sofisticado: meia dúzia de braçadas numa direção aleatória, depois noutra direção, fico a boiar um pouco de umbigo para cima. Perpendicular à face interior do hotel, distingo alguns vultos através de janelas, estão sentados diante de mesinhas, a luz branca do ecrã dos computadores ilumina-lhes a face. No céu, vejo pequenas aves e, às vezes, lá muito em cima, vejo aviões a ganharem altitude. Amanhã, seguirei no interior de um destes aviões. E ora tenho os ouvidos submersos, e escuto sons da água, graves e lentos, ora tenho os ouvidos à superfície, e escuto motores de vários tons nos múltiplos viadutos que cercam o hotel, vias rápidas carregadas de trânsito estagnado, o fim do dia. E volto a nadar até me agarrar na borda da piscina, sinto prazer nos movimentos dentro de água, a forma como os braços e as pernas cortam a água, a leveza da minha existência líquida. Observo com ternura a piscina das crianças, arranjadinha e deserta. Que crianças virão para aqui? Com que olhos entenderão este hotel e esta piscina? Reparo também nas boias de salvamento, desbotadas pelo tempo e pela falta de uso, ofendidas na sua dignidade profissional.
Em silêncio, chega um homem. Calções de marca, asiático, óculos de natação, pousa a toalha sobre uma espreguiçadeira e entra na piscina. Sem preâmbulo, começa a nadar em linha reta. Atravessa a piscina em três ou quatro braçadas, e vira, atravessa para o outro lado, e vira. Saio, fico a secar e a olhá-lo. Os seus movimentos repetidos são impressionantes e, ao mesmo tempo, metafóricos. Até agora, não deu sinais de querer parar.
Imagem de destaque: Direitos Reservados
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Crónica publicada originalmente na edição de março de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 305.
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