Nostalgia Bretã. La Rochelle é o ponto de partida para uma viagem de 1500 quilómetros, em formato de portfólio, pela Bretanha francesa. Na mira, portos, faróis, muralhas e castelos repletos de história.
Texto e fotografias de Fernando Marques
A modéstia do aeroporto de La Rochelle não deixa adivinhar a riqueza da região onde se encontra uma das maiores marinas da Europa. Considerada a zona balnear de eleição dos parisienses, com mais de três milhões de turistas por ano, La Rochelle é uma das zonas marítimas mais visitadas de França. As ruas, entre torres e muralhas, enchem-se de pessoas descontraídas a pedalar nas bicicletas, bem como as esplanadas, um convite irrecusável para os visitantes, ora jovens casais com crianças pequenas, ora seniores bem-dispostos e com um gosto especial pela aventura náutica. O Aquarium, localizado entre o Porto des Minimes e o Porto Velho, é um ex-líbris da cidade e um símbolo de modernidade, acolhendo no seu edifício grandioso um total de 12 mil seres vivos de seiscentas espécies diferentes.
O ducado da Bretanha era independente e autossuficiente até ser anexado pela França em 1532, marcando o início desta região como província francesa.
Quem ficar apenas em La Rochelle não precisa de alugar um carro, mas para visitar a vizinha ilha de Ré vale a pena o investimento. Para lá chegar atravessa-se uma ponte de três quilómetros com portagem (os carros pagam 8 ou 16 euros, consoante a época do ano). Aberta 24 horas, também há quem a percorra de bicicleta, sendo que, nesse caso, a viagem é gratuita. É um território com trinta quilómetros de comprimento por cinco de largura, com várias localidades pitorescas, como Rivedoux Plage, La Flotte, Saint-Martin de Ré, Loix, Ars en Ré, Les Portes en Ré, Saint Clément des Baleines, La Couarde sur Mer, Le Bois Plage en Ré e Sainte Marie de Ré. O areal, largo e amplo, faz que não haja grande concentração de veraneantes e permite apreciar o mar como se impõe.
Os restaurantes e bistrots da ilha têm quase sempre lotação esgotada. Nas mesas multiplicam-se os tachos pretos cheios de mexilhões, confecionados das mais diversas formas: marinados, com creme ou vinho branco – mas sempre acompanhados de batatas fritas. Para os apreciadores de ostras, o difícil é escolher entre seis, nove ou doze… Fresquíssimas com sumo de limão, e um copo de vinho branco, fazem uma refeição. São os pequenos-grandes prazeres da vida na ilha de Ré.
A modéstia do aeroporto de La Rochelle não deixa adivinhar a riqueza da região onde fica uma das maiores marinas da Europa.
Mont Saint-Michel
Imagem emblemática da Bretanha, mas de facto fica já na região vizinha da Normandia. Opulento e magnificente. É preciso respirar fundo quando se olha pela primeira vez para este autêntico castelo de conto de fadas, classificado pela UNESCO como Património Mundial.
Bretanha
O rio Rance acompanha o porto de Dinan, onde se comem bons mexilhões, bons queijos e bebe-se uma sidra ainda melhor. Construída no século XIV, é a cidade medieval mais bem conservada da Bretanha.
O ducado da Bretanha era independente e autossuficiente até ser anexado pela França em 1532, marcando o início da Bretanha como província francesa. A riqueza histórica é visível um pouco por todas as cidades onde se passa, numa viagem em que a bússola nos apontou o norte, mas pelo interior. À chegada a Nantes, a sexta maior cidade francesa, com cerca de 282 mil habitantes, o bulício e o tráfego são intensos. Estacionado o carro (atenção aos parquímetros!) junto à catedral, a opção é calcorrear a zona velha, cuja arquitetura é marcada pelas igrejas. Tempo para almoçar uma galette (espécie de crepe) e beber a sidra tão típica da região.
Em França, a costa litoral atlântica estende-se ao longo de quatro regiões: Poitou-Charentes, Pays-de-La-Loire, Normandia e Bretanha.
O roteiro prossegue por boas estradas nacionais, sem haver necessidade de circular pela autoestrada. Rennes surge de passagem já ao lusco-fusco e, 47 quilómetros depois, uma agradável surpresa: Dinan. Conhecida desde o século XI, é a cidade medieval mais bem conservada da Bretanha. Num planalto rochoso, é protegida por uma enorme fortaleza e o rio Rance acompanha o porto. São muitas as casas com estrutura em tabique de madeira que nos distraem as vistas num passeio pela Rue de l’Horloge. Falta pouco mais de uma hora para chegar ao Mont Saint-Michel, imagem emblemática da Bretanha que, na realidade, pertence à região da Normandia.
Opulento e magnificente, mesmo de longe, é preciso respirar fundo quando se olha pela primeira vez para este autêntico castelo de conto de fadas, classificado pela UNESCO como Património Mundial. Num ilhéu de granito, mais de oitenta metros acima do nível do mar, fica a abadia fundada no século VIII, a partir da suposta aparição de São Miguel Arcanjo. A água rodeia o monumento apenas 53 dias por ano nas grandes marés do equinócio.
Região rica em ostras, difícil é escolher entre seis, nove ou 12… fresquíssimas com sumo de limão e um copo de vinho branco, fazem parte dos pequenos-grandes prazeres da vida na ilha de Ré.
Quase quarenta quilómetros depois, outro destino que faz parte dos livros. Embora Saint-Malo esteja rodeada por muralhas do século XIII (protegiam a cidade dos ataques de piratas e da fúria do mar), é precisamente no paredão junto ao oceano que melhor se desfruta a beleza desta cidade de veraneio. Dois rios, o Odet e o Steir, unem-se na cidade mais antiga da Bretanha, Quimper, cujo nome deriva da palavra kemper, que significa «confluência». É na Pointe du Raz, uma saliência no mar, na extremidade do cabo Sizun, que melhor se sente a força e a imensidão do Atlântico. A viagem continua pela costa com paragem em Concarneau e em Vannes, com as suas muralhas medievais genuínas, antes do embarque no avião de regresso ao Porto.
Pointe du Raz
Surge como uma saliência no mar, na extremidade do cabo Sizun, e reflete a força e a imensidão do Atlântico.
Localização
Em França, a costa litoral atlântica estende-se ao longo de quatro regiões. Em Poitou-Charentes fica La Rochelle, no distrito de Charente-Maritime; o Pays-de-La-Loire acolhe Nantes; subindo até à Normandia descobre-se o Mont Saint-Michel; Rennes, Dinan e Quimper dão vida à Bretanha propriamente dita. Os voos diretos da companhia aérea low cost Ryanair saem do Porto, às segundas e sextas-feiras. Simulações para maio por cerca de 30 euros por pessoa. Também pode voar até Paris e apanhar o comboio TGV para a Gare de La Rochelle.
Na região de clima temperado e húmido, por vezes bastante ventoso, os invernos são suaves e os verões amenos. Andar de bicicleta é a melhor opção, com 300 vélos e 160 quilómetros de pistas cicláveis. A primeira meia hora é gratuita, depois custa de 1 a 3 euros. Outra alternativa será alugar um carro. No aeroporto concentram-se diversas rent-a-car, mas se o voo chegar depois das 19 horas não será tarefa fácil, nem barata, conseguir uma viatura.
Comidas e bebidas
Em La Rochelle, o Le Petit Bleu (Tel.: +33 0546283265) poderá ser uma perdição. Cozinha à la plancha num barco atracado em terra, à laia de roulotte, com fila de espera. Ao ar livre, com a marina velha aos pés, comem-se ostras fresquíssimas, mexilhão em papillotte, lulinhas grelhadas, acompanhados de vinho rosé, em pratos e copos descartáveis. Já na ilha de Ré, em La Flotte en Ré, no restaurante Le Saint Georges (Tel.: +33 0546096018) é obrigatório pedir mexilhões com creme (de queijo), acompanhados das clássicas batatas fritas francesas. Em Saint-Martin de Ré, o Bistrot du Marin (Tel.: +33 0546687466) é um espaço descontraído, com muito boa onda, para degustar ostras, um prato de enchidos e queijos e um vinho branco bem fresco.
Em Quimper, no Le Petit Gaveau (Tel.: +33 0298642986), apesar de a música ao vivo ser paga à parte, o suculento hambúrguer com Roquefort, o magret de pato e os macarons da sobremesa são de excelência. Na rua em frente, a Crêperie du Quartier (Tel.: +33 0298642930) disponibiliza os seus crepes, salgados ou doces. Em Concarneau, L’Ancre (Tel.: +33 0298505658) é uma verdadeira surpresa pelas suas especialidades grelhadas em forno de lenha (recomendadas nos guias Le Routard e Petit Futé). Excelente relação qualidade/preço.
Reportagem publicada originalmente na revista Volta ao Mundo de maio de 2012 (número 211).
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