Fomos a três das cerca de 7100 ilhas que formam o arquipélago das Filipinas. Uma pela exclusividade, outra pelo sucesso turístico e ainda outra pelas belezas naturais fora do normal. Lembramos aqui que descobrimos que o paraíso é já ali, no outro lado do planeta.

Texto de Ricardo Santos
Fotografias de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Quer saber o caminho para o paraíso? Apanhe um voo de Portugal para Manila e, da capital das Filipinas, voe para Puerto Princesa, a principal cidade da ilha de Palawan, e siga de automóvel durante cinco a seis horas para norte, até El Nido. Também tem a possibilidade – mais dispendiosa – de voar diretamente de Manila para El Nido, mas assim perderá a hipótese de visitar o rio subterrâneo a oitenta quilómetros de Puerto Princesa e a oferta gastronómica da cidade. Seja qual for a opção, quando chegar a El Nido, não pense em voltar a casa ou continuar à procura de um sítio perfeito. É mesmo aqui.

Foi essa a sensação que tivemos quando a carrinha que nos transportava fez uma das curvas entre as praias de Las Cabañas e Corong-Corong, a dois quilómetros (cinquenta cêntimos de triciclo) de El Nido. O hotel Island Front estava reservado e a escolha foi acertada como se veio a provar nos dias seguintes. Ao largo da região há mais de cinquenta ilhas com praias onde apetece ser náufrago. Emil Primorac é dono de uma delas. Este espanhol de Madrid, de origem croata, chegou há seis anos a El Nido apaixonado por uma mulher, mas a história de amor acabou por ser por El Nido. Numa das primeiras manhãs, acordou na praia e sentiu que era ali que queria viver. Moveu montanhas e juntou setecentos mil euros para comprar a ilha de Cauayan. Hoje, a propriedade está avaliada em três milhões de euros graças ao empreendimento de cinco estrelas Cauayan island Resort que ali abriu em dezembro do ano passado.

É Emil que vai ao volante da lancha rápida. A dez minutos da baía de Bacuit, onde se erguem os pequenos hotéis, restaurantes e bares ainda pouco massificados de El Nido, está a sua ilha. Mostra orgulhoso a sua casa virada para o mar e desafia-nos para seguir viagem e descobrir mais três ou quatro locais que, diz, nos vão deixar «completamente rendidos». É entre o estreito de Linapacan, o mar de Sulu e o mar da China que saltamos as ondas. Uma tartaruga vem à superfície respirar. Mais à frente, um cardume de peixes-voadores saltam ao lado da lancha. A paisagem é única: ilhas pequenas e grandes das mais variadas formas, rochedos no meio do mar e recantos junto a terra onde a água tem cores que nem o melhor Photoshop alcança. A cada nova paragem, Emil sorri. «Fico feliz com a vossa alegria», diz. «Essa é a maior prova de que estamos num sítio único.» Secret Lagoon, Commando Beach, Snake Island, Secret Beach, os nomes vão passando e a boca abre-se cada vez mais de espanto. É impressionante. Mesmo para quem já tenha visitado praias em Portugal, no Mediterrâneo, em África, nas Caraíbas, no Índico ou em outros pontos da Ásia. É tudo: a temperatura, a cor, a natureza em redor, a companhia, o almoço de peixe e porco assado com manga fresca e cerveja fresca.

[Fotografia: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens]
Ao fim do dia a lancha volta a El Nido. As estrelas indicam o caminho. Só há tempo para tomar um duche rápido, mudar de roupa, manter as havaianas nos pés e sair para comer num restaurante local. Frango e porco adobo são pratos tradicionais à base de molho de soja e de longas horas de confeção. Sempre acompanhado de molho de calamansi, umas adoráveis minilimas que juntam o melhor da laranja com o melhor do limão. «Vamos ao Pukka?», pergunta Emil. Nada melhor para terminar um dia perfeito – um bar jamaicano na praia. Há rum-cola, cerveja, música ao vivo, filipinos e turistas, estrangeiros que se mudaram para El Nido e aqueles que querem largar tudo e vir para cá. Não vale a pena procurar mais, o paraíso é mesmo aqui.

Emil, o espanhol, chegou, viu e não quer sair mais de El Nido. Comprou a ilha de Cauayan e abriu um hotel de cinco estrelas. Anda todos os dias de calções e chinelos.

Palawan, Filipinas

Parte integrante da reportagem publicada na revista Volta ao Mundo de abril de 2015 (número 246).

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