Ioana Bivolaru chegou no verão de 2016 a Lisboa, nomeada como embaixadora da Roménia em Portugal pelo presidente Klaus Iohannis.

Texto de Leonídio Paulo Ferreira


Mala diplomática publicada na edição de novembro de 2017 da revista Volta ao Mundo, número 277.

Neste pouco mais de um ano tem‑se esforçado por dar a conhecer melhor a história e a identidade dos latinos do Leste, cuja proximidade é evidente quando se ouve a língua, românica como a nossa. «Cu um kil de carne si un litru de vin nu se moare de foame», diz‑me a diplomata, citando um provérbio romeno e antecipando já a minha cara de surpresa. «Sim, com um quilo de carne e um litro de vinho não se morre de fome», esclarece, acrescentando que 75 por cento das palavras romenas vêm do latim e as restantes das línguas eslavas, do alemão, do húngaro, do grego e até do turco, o que se explica pela região onde o país fica, o extremo oriental do antigo império romano.

Nascida em Bucareste a 1 de setembro de 1976, Ioana Bivolaru estudou Comunicação Social na universidade da capital e fez depois um mestrado em Estudos Administrativos e Políticas Europeias no Colégio da Europa de Bruges, na Bélgica. Antes de ser nomeada embaixadora em Portugal, foi durante quatro anos diretora‑geral do departamento de União Europeia do Ministério dos Negócios Estrangeiros. «Sempre me dediquei à União Europeia, que o meu país integra desde 2007. Há um forte espírito europeísta na Roménia», sublinha a diplomata, que era ainda adolescente quando o regime comunista liderado por Nicolae Ceausescu foi derrubado.

A Roménia ocupa o território da antiga Dácia, cujo povo resistiu como poucos à conquista romana. O imperador Trajano decidiu uma guerra total para submeter os dácios, e essa campanha militar no início do século II é até hoje celebrada em Roma através da imponente Coluna de Trajano. O envio de legionários e suas famílias para povoar a derrotada Dácia explica a força da cultura latina nos últimos dois milénios, que resistiu à eslavização que afetou a maior parte dos Balcãs. Os principados romenos também conseguiram evitar a conquista pelos turcos, aproveitando a rivalidade entre a Rússia czarista e o império otomano para no século XIX se tornarem independentes de forma unificada e já com o nome de Roménia.

Considerando a língua um tesouro nacional, porque revela a história única do país, a embaixadora conta ainda que o romeno tem uma palavra para traduzir a nossa saudade. «É a palavra dor, cujo sentido é o mesmo de saudade, um sofrimento causado pela separação. Para o equivalente à vossa palavra dor a língua romena usa um outro termo», explica Ioana Bivolaru. Fico a saber que Mircea Eliade, grande intelectual romeno que foi diplomata em Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial, escreveu sobre esta equivalência entre dor e saudade como prova da proximidade cultural entre os dois povos.

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