A liberdade de movimentos está limitada, mas o desejo de viajar não desaparece. A pensar nos dias que aí vêm escolhemos dez refúgios longe de tudo, só para si, para marcar as próximas férias, sejam elas quando forem. São aqueles destinos de uma vida, desejados e poucas vezes realizados. Para levar a sério, porque merecemos.

Texto de Cláudia Carvalho e Ricardo Santos

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1. Merzuga, Marrocos

Mesmo aqui ao lado, um mundo completamente diferente. Tem sido esse o encanto de Marrocos para os portugueses, há séculos que é assim. As cidades imperiais, os mercados e as tradições têm levado milhões de turistas a este país do norte de África, mas é o deserto que marca a grande diferença. Nas grandes dunas douradas do Erg Chebbi, em Merzouga, ao sul do país, a sensação é de imensidão e silêncio. Se a tudo isto juntar um hotel histórico no país, com uma localização que pode ser cenário para qualquer filme, chegamos a um local perfeito. Arquitetura tradicional, decoração berbere, pequenos almoços inesquecíveis e a visão do deserto ali ao lado contribuem para que seja uma viagem de sonho. Que não fica completa sem uma noite passada nas luxuosas tendas do acampamento montado nas dunas. Às primeiras horas da manhã, com o sol a nascer sobre a areia, o cenário fica perfeito. E esqueça andar de camelo (eles não têm culpa), limite-se a vê-los nas suas rotinas e aproveite este, que pode muito bem vir a ser um dos melhores momentos da sua vida.

Voe para Errachidia, com a Royal Air Maroc desde 267 euros. O hotel fica a 01h45 de viagem (120km), em automóvel.

Kasbah Hotel Tombouctou
Desde 75 euros por noite, em quarto duplo
Inclui: alojamento e pequeno-almoço
Web: xaluca.com/en/hotel/kasbah-hotel-tombouctou

2. Patagónia, Argentina e Chile

Outro dos destinos mais referidos pelos viajantes quando se fala de «uma vez na vida». Estende-se pela Argentina e pelo Chile, no extremo da América do Sul, acompanhada pela cordilheira dos Andes e pelos oceanos Atlântico e Pacífico. É terra inóspita, um dos territórios mais exigentes do planeta, com planícies, lagos, montanhas e fazendas a perder de vista, as estâncias. Bariloche é o maior resort de desportos de inverno da América do Sul, sendo também bastante procurada na primavera e no verão para caminhadas e escalada. A zona de lagos de San Martin de los Andes é outro ponto de interesse, tal como El Chaltén, a principal área de trekking da Argentina. Destaque para dois geomonumentos: Fitz Roy e Cerro Torre. É também na Patagónia que esta o famoso glaciar Perito Moreno. Use el Calafate como base para chegar a esta imensa massa de gelo ameaçada pelo aquecimento global. A meio caminho para o Parque Nacional los Glaciares encontra o Hotel Eolo, inserido numa propriedade com 40 mil hectares. A melhor altura para conhecer a região é entre novembro e março. Aproveite para atividades como BTT, caminhadas, observação de pássaros e tirar o máximo partido do hotel.

Voe para El Calafate com a Aerolíneas Argentinas desde 1050 euros.

Hotel Eolo
Desde 1050 euros por noite, em quarto duplo
Inclui: alojamento, refeições com bebidas e transfers de/para aeroporto
Web: eolopatagonia.com

3. Ilha de Pemba, Zanzibar e Tanzânia

Pemba é nome comum para os lusófonos. É nome de cidade moçambicana, que já foi Porto Amélia em homenagem à última rainha de Portugal. Mas esta é a ilha Pemba, território de Zanzibar e da Tanzânia, um dos destinos mais exclusivos – logo, caros – do planeta. Perdida na costa leste de África, num mar que a cor nos confunde, mais do que uma simples ilha, Pemba é uma joia que ainda não foi alcançada pelo turismo massificado. E é nesta mistura de turquesa do mar com o branco da areia que encontramos o hotel que nos dá a capa deste mês. Procurávamos, depois destas semanas de reclusão, um local longe de tudo, onde pudéssemos estar com quem mais gostamos, de televisão desligada e sem acesso a notícias falsas e indignações bacocas. É aqui, no The Manta Resort, com os seus quartos debaixo de água, os decks a pedir sol, um tratamento cinco estrelas e a certeza de se estar num dos melhores destinos mundiais para o mergulho. Uma vez na vida, com toda a certeza.

Voe para Pemba com a Qatar Aiways desde 770 euros. No aeroporto de ChakeChake pode apanhar um serviço de transfer do hotel (tem um custo adicional de €40 por percurso por pessoa).

The Manta Resort
Desde 1400 euros por noite, quarto debaixo de água. Mais preços, sob consulta.
Web: themantaresort.com

4. Deserto de Atacama, Chile

É conhecido por ser o deserto mais alto do mundo, tem mais de mil quilómetros de extensão e fica no Chile, junto à costa pacífica, a oeste dos Andes. A sua área é maior do que a de Portugal, ultrapassando cem mil quilómetros quadrados, e as suas características áridas e únicas fazem deste um destino sempre a considerar quando se parte à descoberta da América do Sul.

San Pedro de Atacama (cerca de três mil habitantes) é a cidade principal da região e ponto de partida para os muitos viajantes que aqui chegam. Vale da Lua, Piedras Rojas e os géiseres de El Tatio são, provavelmente, os locais mais visitados no Atacama, mas guarde algum tempo para descobrir também o folclore, as tradições e a gastronomia da região, bem como a propriedade de 17 hectares onde se encontra o Explora Atacama. Este hotel está no oásis de São Pedro de Atacama, perto das dunas, dos lagos salgados, de vulcões e de um céu que parece tirado de um filme.

Voe para Santiago do Chile, desde 668 euros, com a Delta Airlines. Depois são duas horas de voo até Calama. O Explora tem transfers para o hotel que demoram cerca de uma hora.

Explora Atacama
Desde 465 euros por noite, em quarto duplo (estada min. de 3 noites)
Inclui: alojamento, refeições com bebidas, transfers e atividades
explora.com

5. Deserto de Gobi, Mongólia

Entalado entre dois gigantes (China e Rússia), este é o país das estepes, das montanhas e do deserto de Gobi. A capital, Ulan Bator, com cerca de 1,5 milhões de habitantes, tem quase metade da população total do país e está nos primeiros lugares das capitais mais frias do mundo. Fica o conselho de visitar a região de maio a setembro. Da Mongólia temos os relatos de uma cultura nómada, dos cavalos, do budismo e dos feitos de Gengis Khan, que conquistou o mundo e fundou o maior império terrestre da história. Tudo isto e muito mais – com uma gastronomia exótica em que o iaque é ingrediente fundamental –, vai poder descobrir na expedição que lhe propomos uma das nações mais singulares do planeta. A experiência em todo-o-terreno é fundamental para diminuir o tempo de deslocações, e tudo faz parte deste pacote criado pelo Three Camel Lodge, o único ecolodge de luxo no deserto de Gobi. Este tem sido a base de operações para arqueólogos, equipas de filmagem e viajantes que não dispensam o luxo em ambientes inóspitos. Recomenda-se uma estada mínima de duas noites para ter um vislumbre de tudo o que se pode fazer por aqui. Atenção: não há internet nem telefone.

Voe para Ulaanbaatar, por 1142 euros e daí apanhe um voo de cerca de hora e meia até Dalanzadgad, junto ao deserto de Gobi e depois mais hora e meia nos 4×4 do Three Camel Lodge.

Three Camel Lodge
Desde 750 euros por noite, em quarto duplo
threecamellodge.com

6. Ilha de Páscoa, Chile

Faz parte do Chile, mas está na Polinésia e em milhões de cabeças por todo o mundo. Rapa Nui, a ilha de Páscoa, é uma das ilhas mais remotas do planeta, com os vizinhos mais próximos a dois mil quilómetros (ilha Pitcairn) e o continente chileno a 3500. Tem uma população de 7500 humanos, mas os seus habitantes mais famosos são outros, as 887 figuras moai, esculpidas em pedra algures entre os séculos xiii e xvii. Os melhores locais para visitá-las são em Rano Raraku e Ahu Tongariki, onde vai poder ficar a saber mais sobre a vida do mítico povo que aqui viveu: os rapa nui. A ilha de Páscoa é Património da Humanidade, declarado pela UNESCO, desde 1995. Além das famosas estátuas, aproveite as férias na ilha para andar a cavalo, fazer caminhadas, visitar vulcões (três principais, todos extintos), fazer snorkeling e mergulho, pescar, nadar com tartarugas ou simplesmente fazer praia. Uma nota ainda para a gastronomia local: peixe e marisco com abundância.

Voe para Santiago do Chile, desde 668 euros, com a Delta Airlines. Daí até à ilha da Páscoa há voos (5 horas). O hotel vai buscar os clientes ao aeroporto de Mata Veri, a cerca de 15 minutos de estrada.

Explora Rapa Nui
Desde 490 euros por noite, em quarto duplo (estada min. de 3 noites)
Inclui: alojamento, refeições com bebidas, transfers e atividades
explora.com

7. Outback, Austrália

O Outback é o interior desértico da Austrália, terra a perder de vista, uma das maiores áreas naturais do planeta, ao lado das regiões de tundra da América do Norte, do Sahara ou da floresta tropical da Amazónia. É para aqui que lhe propomos que vá, mais concretamente para uma fazenda (Bullo River Station) com mais de 200 mil hectares e nove mil cabeças de gado. Está no Território Norte, uma das regiões da Austrália, sensivelmente a meio do país e a apenas a 20 horas de carro do Uluru, o geomonumento mais famoso deste país que é ilha e continente, e a 800 quilómetros da cidade costeira de Darwin. Prepare-se para noites de céu estrelado como nunca viu, churrasco à moda australiana, contacto com espécies nunca antes observadas e uma lição de como sobreviver num dos locais mais exigentes do mundo. Tudo isto no conforto de uma fazenda onde não falta nada em termos de comodidade.

Voe para Darwin com a Singapore Airlines desde 1120 euros. O hotel Bullo River Station fica a cerca de 800 km. É possível chegar por carro, mas vale a pena optar por uma das duas outras opções, jato privado (90 minutos) ou helicóptero (120 minutos).

Bullo River Station
Desde 640 euros por noite, em quarto duplo, com kitchenette e zona de estar. bulloriver.com.au

8. Pamalican, Filipinas

O arquipélago das Filipinas tem ganho, nos últimos anos, protagonismo no mapa do turismo internacional. Manila, a capital, é pouco mais do que um ponto de ligação aos locais mais procurados do país, como Boracay, Cebu, El Nido ou Bohol, entre muitos outros. E é também de Manila que, com um voo privado de pouco mais de uma hora, poderá chegar a uma das ilhas-resort mais exclusivas do mundo: Pamalican. A porção de terra está no meio de uma área de sete quilómetros quadrados de recife de coral, tem 2,5 km de comprimento e 500 de largura, mais do que o suficiente para ter a sua pista de aterragem. À chegada, lá estarão os sorridentes funcionários da Aman Resorts, que aqui pôs de pé o Amanpulo, um hotel que é muito mais do que isso. Cada bungalow inclui um carrinho de golfe para circulação pela ilha e um mordomo à disposição das vontades dos clientes. Mergulho, snorkelling, windsurf, vela, ioga, massagens e banhos de sol são as atividades mais procuradas. Quem aqui chega sabe que aterrou num sonho de luxo, exclusividade e sossego. Não está ao alcance de muitos, mas sonhar ainda nos é permitido.

Voe para Manila, com a Turkish Airlines desde 665 euros. Pamalican fica a 360 km da capital. O resort tem voos privados (cerca de 70 minutos, 440 euros ida e volta)

Amanpulo Resort
Desde 1385 euros por noite, em quarto duplo (Treetop Casitas)
Inclui: alojamento e pequeno-almoço
aman.com/resorts/amanpulo

9. Tristão da Cunha

A ilha habitada mais isolada do planeta. Chega, para quem procura ficar longe de tudo? Este território ultramarino britânico (com as ilhas de Santa Helena e Ascensão) fica entre a América do Sul e a África do Sul e deve o seu nome ao almirante português que aqui chegou em 1500. Tem uma população a rondar as 250 pessoas, quase todas elas concentradas na capital, Edimburgo dos Sete Mares, provavelmente o nome mais fixe de uma capital. Não é fácil lá chegar, mas esse também é o seu encanto. Os selos constituem uma parte importante da sua economia. E fique já a saber que para lá ir tem de ter o retorno a casa devidamente assegurado, bem como orçamento para a estada. Cartões de crédito e cheques não têm valor por aqui. Penhascos, terreno montanhoso, águas profundas, vento forte e mar bravo são alguns dos encantos desta terra, mas se é para não receber visitas, está-se bem por aqui.

E preciso requerer autorização à administração local. Pode ser pedido o cadastro policial. O acesso é feito da cidade do Cabo. Voos desde 460 euros com a Qatar Airways. Nos barcos da frota pesqueira, a viagem de ida e volta custa 130 euros e dura cerca de 6 dias e acontece geralmente duas vezes por mês. Informações em tristandc.com.

Para dar igualdade de oportunidade a todos, os hóspedes são distribuídos, pelo governo, pelas 11 casas disponíveis. Os preços rondam os 26 euros, por pessoa, por noite.
[email protected]

10. Antártida

É a última fronteira, o menos visitado e populoso de todos os continentes (cinco mil pessoas nas épocas mais preenchidas). Tem cerca de 98 por cento do território coberto por gelo – até ver… – e o dobro da área da Austrália. Esta é a terra do Polo Sul, só alcançado em 1911 pela expedição do norueguês Roald Amundsen, mas também das atuais empreitadas em prol do ambiente. Graças ao Tratado da Antártida, o território está ao abrigo de 50 nações.

Objetivo: investigação científica. Mas será apenas isso? É que por baixo da camada de gelo há muitas riquezas naturais à espera de serem exploradas. Enquanto isso não acontece, embarque nesta viagem única e dispendiosa. A hipótese aqui apresentada faz a ligação na África do Sul, mas também é possível aceder a estes programas e pacotes através da Argentina e do Chile. E, em qualquer dos casos, fica o conselho para os mais distraídos: vá agasalhado.

Voe para a Cidade do Cabo com a Qatar Airways desde 460 euros. Daí, siga o programa organizado.

White Desert Wichaway Camp
Existem vários programas, mas a aventura mais simples, de um dia, com partida da Cidade do Cabo custa 12 000 euros e inclui o briefing na Cidade do Cabo, voo (12 pax) até à Antártida, 1 noite de alojamento na Cidade do Cabo, piquenique no gelo, excursão guiada e algum equipamento necessário para suportar as temperaturas polares.
white-desert.com


Reportagem publicada originalmente na edição de abril de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 306.

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