Pedro Henriques adora viajar dentro e fora de Portugal e nunca se deixou prender pela rotina. Quando o Lucas nasceu, há dois anos e meio, mudou tudo e não mudou nada: o tamanho da mala cresceu, mas as viagens continuam – agora em família.

Texto de Bárbara Cruz


Artigo publicado na edição de dezembro de 2018 da revista Volta ao Mundo (número 290).

Pedro Henriques, de 39 anos, vive em Cabeceiras de Basto mas trabalha na Câmara Municipal de Braga. Diariamente, acumula quilómetros no percurso entre casa e trabalho, que faz de manhã e ao final do dia. São cerca de setenta quilómetros para cada lado, que podiam demovê-lo de outras deslocações. Mas não é o caso: Pedro pensa em viagens todos os dias e projetos nunca lhe faltam. Anda sempre à procura de um bilhete barato, de uma oportunidade para sair da rotina. Não precisa de ir longe: basta-lhe uma escapadinha à serra do Gerês, um dos «locais preferidos».

Nem sempre foi assim. As viagens começaram tarde, «pelos 27, 28 anos. Nunca houve muita tradição de viajar com os meus pais, houve sim alguma motivação por parte de amigos», conta. Desafiaram-no com idas à montanha, para explorar os Pirenéus e os Picos da Europa. A vontade de ir mais longe começou a crescer a partir daí. Foi aos Balcãs, ao Sudeste Asiático. Continuou a explorar Portugal como nunca tinha feito, apesar das limitações: «Por motivos profissionais, não me posso alargar muito. Tenho amigos que viajam três ou quatro meses por ano, eu não tenho essa sorte e as minhas viagens nunca poderão passar dos 22 dias úteis a que temos direito.»

Em 2013 decidiu começar um blogue. Não porque tenha «alma de escritor», ironiza, mas porque achou que faltava uma plataforma com dicas úteis sobre destinos de referência. Ainda que as idas ao estrangeiro fossem constantes, decidiu que o seu destino de referência seria Portugal. «Viajo muito dentro do país e tento escolher os locais mais pitorescos, que pouca gente conheça», admite.

A grande vantagem do blogue é ser prático, dar dicas. As pessoas querem saber onde dormir, como chegar.

Em espiritoviajante.com há textos sobre Dornes, «a aldeia ribeirinha dos templários», ou o trilho dos socalcos de Sistelo, em Arcos de Valdevez, que surgem a par de um roteiro prático para visitar Paris ou os 17 locais a não perder em Zurique. Internacionalizou-se sem deixar para trás as terras lusas de que tanto gosta. «Vou soltando ideias a partir dos relatos de experiências de viagem»,explica. «Também gosto muito de viajar para sítios exóticos ou paradisíacos, mas achei que trazia mais ao meu público-alvo se partilhasse os cantinhos especiais que nem toda a gente conhece e é interessante divulgar.» Admite que não gosta de romancear os percursos: «A minha grande vantagem no blogue é ser prático, dar dicas. A maioria das pessoas não se interessa pela minha experiência pessoal, querem saber o que comer, onde dormir, como chegar», sublinha.

Quando se casou, passou a viajar com a mulher, que partilha o gosto pelas viagens. Em maio de 2016 nasceu o Lucas e Pedro abraçou com garra o «desafio» da paternidade: «Sempre fui uma pessoa muito independente e ficar obrigatoriamente agarrado à rotina de um bebé não é propriamente fácil. Aconteceu o mesmo com as viagens, estive sempre habituado a viajar de forma independente e a não querer saber de nada nem de ninguém a não ser de mim. Tive de parar com isso», confessa a rir-se. «Às vezes a minha mulher chamava-me a atenção, que eu estava com a cabeça no ar. Mas com alguma paciência e esforço tudo passou a encaixar.»

Não deixou de viajar porque tinha um bebé nem fez disso um bicho-de-sete-cabeças, mesmo que reconheça que as primeiras deslocações são difíceis: a primeira viagem do Lucas foi ao Douro Vinhateiro, tinha ele 3 meses, e os pais levaram tanta coisa que parecia que iam emigrar, conta Pedro. «Foi tal a logística, entre fraldas e medicamentos, que eu acredito que a experiência leve muitos pais a não viajar tão cedo.» A segunda viagem do Lucas foi à Madeira, aos 6 meses, e correu muito bem. Tanto, que ainda não tinha feito 1 ano quando os pais decidiram levá-lo a Cracóvia. «Alugámos um estúdio, que é algo que aconselho a fazer, porque ficar em hotéis sem cozinha pode ser um problema para aquecer o leite e fazer outras coisas fundamentais na rotina da criança», explica. «Foi tudo sem qualquer stress.» Decidiram mesmo ir com o filho no carrinho visitar o campo de concentração de Auschwitz. «Achámos estranho as pessoas olharem-nos pelo canto do olho, mas não íamos deixar de visitar porque ele estava connosco.»

Viajar com bebés pode ser stressante, mas as crianças começam a gostar tanto como os pais.

Levar o Lucas para fora – e a passear cá dentro – fez Pedro começar a pontuar os textos no blogue com conselhos úteis para quem também tem crianças. O mais importante, frisa, é «ter a mente aberta», descomplicar. «Viajar com bebés pode ser stressante. O meu filho também faz birras e o que faço é parar um bocadinho numa esplanada, por exemplo, deixá-lo acalmar. Claro que leva algum tempo e o que era para ser visto já não é», admite. Mas, a dada altura, as crianças começam a gostar tanto das viagens como os pais: «com ele já mais crescidinho, fomos a Roma e adorou».

O Lucas também já foi com os pais à Croácia ou à Bósnia e ao Montenegro, além de Itália, onde a experiência mais perturbadora que Pedro teve nem sequer está relacionada diretamente com o filho: num shuttle a caminho do aeroporto na capital italiana, o motorista decidiu conduzir a duzentos quilómetros à hora sempre agarrado ao telemóvel.

Num futuro não muito longínquo, planeia visitar com a mulher e o filho a Islândia, Geórgia e Arménia, e não se cansa de enumerar as vantagens de ter uma família viajante: «Se me perguntassem se quero para o meu filho uma conta bancária recheada ou uma infância preenchida por viagens, opto pela última. Porque, por um lado, é sinal de que vivemos em família momentos que ficam para sempre; por outro, vai ajudá-lo a ver e a compreender o mundo de outra forma», conclui.

Partilhar