Quase como um choque cultural, a Turquia tem a capacidade de baralhar os sentidos e os pensamentos a quem não esteja preparado. É uma apaixonante surpresa que se pode tornar viciante. Viagem à descoberta da genuína hospitalidade turca.

Texto de Tiago Constantino
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Desde os primórdios que é um dos principais pontos de passagem da Ásia para a Europa, marcada pelas diferentes civilizações que por aqui se instalaram – romanos, nómadas seljúcidas, mongóis e otomanos. Não é Ocidente mas também não é Oriente, é uma mistura contagiante de ambos que leva qualquer viajante a querer descobrir mais. Atualmente, este território com mais de 780 mil quilómetros quadrados, ocupados por cerca de 83 milhões de habitantes, faz fronteira com oito países – Grécia, Bulgária, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Irão, Iraque e Síria. Mas a sua grandeza não se fica simplesmente pela geografia. Há uma enorme diversidade cultural, étnica e religiosa, visível desde o momento em que se pisa o solo turco. Entre os mais de trinta povos que ocupam o território, muçulmanos, judeus e cristãos percorrem, lado a lado, as avenidas dos principais centros urbanos, na azafama rotineira do dia-a-dia. Uma autêntica fusão multicultural.

O fascínio por este país não termina nas grandes metrópoles. No sul da Turquia, a cerca de 550 quilómetros de Ancara e 730 quilómetros de Istambul, Antália é um destino cativante, mágico e com um património extremamente rico, ou não fosse esta a capital daquela que é considerada por muitos como a Riviera Turca. Vista em tempos apenas como porta de entrada para um paraíso mediterrânico, hoje é um dos destinos mais cobiçados pelos turistas internacionais. Construída sobre falésias à beira-mar, a cidade foi originalmente fundada em 150 a.C por Átalo II, rei de Pérgamo, na demanda intensa e incessante pelo «paraíso na Terra». Apesar da passagem para o domínio bizantino, Antália não perdeu importância. A cidade prosperou e tornou-se um importante ponto geoestratégico para a estabilização do Império Romano na Turquia.

Protegida pelos montes Tauro e pelo mar Mediterrâneo, é hoje uma das principais opções de férias da população turca e não só. A arquitetura da cidade conservou vestígios das várias culturas que por aqui passaram, como a helénica, a romana e a bizantina. Entre os edifícios e construções que sobreviveram ao correr dos séculos, é (quase) obrigatório visitar a Torre Hidirlik, que serviu de farol e fortificação da cidade, as Portas de Adriano, monumento construído em honra do antigo imperador romano Adriano que por aqui passou, o Kesik Minare, antigo templo romano reconstruído e transformado numa mesquita pelos seljúcidas, onde hoje subsiste apenas o minarete. E, é claro, não podemos deixar de referir outro dos aspetos que mais atraem os visitantes – o clima ameno, característico do Mediterrâneo.

Com cerca de 300 dias de sol por ano e mais de 700 quilómetros de costa, a região está recheada de praias onde a temperatura da água oscila entre os 15°C e os 28°C. Aqui, entre os meses de junho e outubro, os termómetros rondam os 30°C, chegando, nas épocas mais secas, a atingir máximos de 40°C. Uma delícia turca para quem procura descontrair ao sol e conhecer mais sobre esta cidade, que é uma verdadeira lição de História.

Percorrendo a costa da elogiada Riviera Turca, ao longo do Mediterrâneo, a 40 quilómetros do centro de Antália (cerca de uma hora de viagem) e a dez minutos da cidade de Kemer, chegamos ao Club Med Palmiye, resort de 18 hectares, 900 metros de costa e, claro, sempre em sistema de tudo incluído, ou não fosse esse o lema deste grupo hoteleiro. Com os imponentes montes Tauro como cenário, a estância balnear é ideal para casais e famílias. Perrine Duriau, gerente de relações com os hóspedes, é a nossa anfitriã e uma das GO (gentil organizadora) do Club Med. «Este resort foi pensado e organizado idealmente para casais e famílias, quer sejam jovens ou idosos. E continua: «Aqui, há clubes para crianças, atividades diárias, várias festas temáticas, diversas opções de desportos aquáticos e mais de quatro quilómetros de jardins para explorar. Com tanto para fazer, é fácil esquecer que há mais para explorar fora do resort», acrescenta Perrin.

E as opções são muitas, e de peso. Pamukkale e a cidade de Hierápolis estão no topo das preferências. A viagem de três horas e meia até à antiga cidade romana é longa, mas só por si recompensadora. Por sua vez, ao chegar aos idílicos terraços de travertino, a rocha calcárica de Pamukkale, vai sentir que entrou numa história de encantar.

Não é só o epicentro da Riviera Turca que merece destaque. Antes de se fazer à estrada, não deixe de ver a autenticidade de Kemer, centro turístico à beira-mar e apenas a 40 quilómetros de Antália. Até ao final da década de 1960, esta cidade não possuía qualquer ligação terrestre a outras povoações da região – todos os transportes eram realizados por mar. Hoje, os visitantes são cada vez mais, chegam atraídos pelo baixo custo de uns dias de férias. Por entre as ruas estreitas do mercado, encontra-se um pouco de tudo, só precisa de paciência para regatear e de atenção para não se perder. Tapetes, artesanato, roupas, malas, sapatos e todo o tipo de bugigangas, os mais diversos tipos de chás, frutos secos, legumes frescos, café turco e as famosas turkish delights (delícias turcas) não escapam ao olhar. Mesmo ao lado do mercado tradicional, há ainda para visitar a moderna Mesquita de Kemer Cami ou a esplanada do café da Tower Street Square, a única praça de Kemer. Antes de retomar o caminho para Hierápolis, nada melhor do que experimentar um türk çayi, o famoso chá turco, no café Maykil Çay Ocagi.

A piscina de Cleópatra, em Pamukkale, é um dos locais mais turísticos de uma região onde os montes Tauro estão sempre presentes.

Algo que começa a ser comum quando se passa algum tempo na Riviera Turca é que os montes Tauro são uma constante. A cadeia montanhosa é a continuação dos Alpes europeus e estende-se até ao Nepal, com vários picos acima dos três mil metros. Acompanham-nos em praticamente toda a viagem até às ruínas da antiga cidade de Hierápolis e até Pamukkale. O território que percorremos pertence à península de Anatólia. Aqui, em 7200 a.C, foi estabelecida uma das primeiras cidades do mundo – Çatalhüyük, distinguida como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 2012. Este sítio arqueológico tem quase dez mil anos e deu a conhecer ao mundo a famosa estátua Cibele da Anatólia, representação de uma deusa sentada num trono rodeada por leões, associada à proteção das colheitas e à fertilidade.

Continuamos o caminho até à antiga cidade romana por uma estrada recheada de histórias, contos e lendas. Por aqui nasceram e morreram diversas civilizações, deixando para trás os seus vestígios e feitos. Uma dessas evidências é a origem da verdadeira Filadélfia (a cidade, não o queijo cremoso), que foi estabelecida aqui em 189 a.C por Eumenes II, rei de Pérgamo. Apesar de hoje ser conhecida como Alaşehir, foi batizada de Philadelphos em homenagem ao irmão do próprio rei. É aqui que pode ainda encontrar as ruínas da Igreja de São João, ou não fosse esta uma das igrejas mencionadas no trecho do livro do Apocalipse Cartas às Sete Igrejas do Apocalipse. Mas a antiga povoação de Filadélfia não foi a única a receber uma destas mensagens apocalípticas. Laodiceia, 60 quilómetros a leste de Éfeso, foi outra das destinatárias de uma destas cartas referidas na Bíblia. Conhecida localmente como Eski-hissar, ou «castelo velho», a região encontra-se atualmente deserta e é mais uma das páginas de história que Huzur, o sorridente guia, nos leva a descobrir neste percurso de três horas e meia até Hierápolis. Um apaixonante arqueólogo disfarçado de guia turístico.

Huzur Yirmibesoglu, 56 anos, nasceu em Istambul. É um membro orgulhoso dos laz, grupo étnico nativo das regiões costeiras do mar Negro, no nordeste da Turquia e sudoeste da Geórgia. É um apologista da paz e das boas relações entre os habitantes locais e os viajantes. Este arqueólogo, licenciado na Universidade de Istambul, nunca perdeu a paixão pela história e hoje opta por um papel diferente, o de guia turístico. A viver em Antália há 30 anos, é ele que nos acompanha nesta viagem pelo passado de Denizli, nas ruínas de Hierápolis e nas paisagens únicas e deslumbrantes de Pamukkale. Leva vários bilhetes na mão, distribui-os aos elemento do grupo. Cada um custa 50 liras turcas (cerca de oito euros) e dá acesso a estes dois locais distinguidos pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 1988.

A região é conhecida por Riviera Turca, mas tem mais do que praia para oferecer. A cidade de Kemer é o ponto de partida.

Ninguém fica indiferente ao pisar pela primeira vez o percurso de pedras da antiga Hierápolis – um dos maiores e mais cuidados cemitérios da Europa. No início uma estação termal e balnear, famosa pela água rica em minerais e qualidades terapêuticas, a cidade foi fundada no século II a.C por Eumenes II, rei de Pérgamo, e rapidamente se tornou um dos lugares mais importantes da Antiguidade, a nível espiritual, religioso e cultural. Huzur explica: «A Turquia sempre foi, e ainda é, um país multicultural, com pessoas dos mais diversos grupos étnicos e crenças. Desde muito cedo, foi necessário apreender a aceitar o próximo e a pensar num futuro melhor. Hierápolis é um bom exemplo disso.» Com mais de 1300 túmulos encontrados, existem ainda muitos outros por descobrir, pois, em tempos, muitos viajantes percorriam centenas de quilómetros apenas para sepultarem os seus familiares nesta «cidade santa». Ao longo dos séculos, a cidade foi abalada por diversos sismos, mas foi após o terramoto do ano 60 d.C que ficou totalmente em ruínas. Nesse mesmo ano, o imperador Nero mandou reconstruir a cidade ao estilo romano, alcançando a forma que é possível observar hoje. Acabou por ser novamente abandonada no século XIV, depois de o grande terramoto de Trácia ter derrubado o resto dos edifícios.

Até ao momento, a cidade ainda só foi descoberta superficialmente e, mesmo com todas as devastações que sofreu ao longo dos anos, ainda há muito para explorar. Exemplos disso são o Nymphaeum, fonte monumental que distribuía água para as casas dos moradores, o Ploutonion, ou Portão de Plutão, templo construído em honra de Plutão, o teatro romano, com capacidade para 12 a 15 mil pessoas na plateia, a Ágora, uma das mais largas algumas vez descobertas, e o Templo de Apolo, monumento em honra de um dos principais deuses do período helenístico. Ao percorrer o antigo caminho que atravessa Hierápolis na totalidade torna-se um pouco difícil ignorar os imponentes portões – Domiciano, Frontino, Bizantino Norte e Sul. Pode ainda experimentar a deslumbrante e única Antique Pool, conhecida também como a piscina de Cleópatra, onde é possível nadar nas ruínas que pertenceram ao Templo de Apolo – com a água a 35°C – e onde, diz a lenda, a própria rainha egípcia nadou.

Terminada a exploração das ruínas, chega a hora de conhecer as famosas piscinas termais de Pamukkale. Pamuk é algodão e kale significa castelo. Na verdade, se há fenómenos da natureza capazes de deixar o ser humano boquiaberto este é um deles. Há milhares de anos que a água quente, rica em dióxido de carbono, corre por entre as vertentes e fendas das rochas, libertando sedimentos de carbonato de cálcio. Ao longo do tempo isso levou à sua dissolução e cristalização, transformando-se em terraços de travertino – rocha calcária que predomina em tons de branco, verde ou rosa. Aqui, por entre fotos, sorrisos e umas quantas quedas, os viajantes procuram a melhor piscina para molhar os pés, porque apesar de parecer fria a água atinge os 30°C. Existem outras paisagens naturais semelhantes no mundo, como as fontes termais em Yellowstone, nos EUA, em Egerszalók, na Hungria, em Sichuan, na China, e em Hierve el Água, no México, mas nenhuma inspirou a construção e o desenvolvimento de uma cidade como a de Hierápolis.

O que encontramos em Pamukkale é único. É um lugar que pertence ao imaginário dos mais audaciosos, um local de descontração, paz e aceitação. É a natureza no estado puro. É a Turquia a oferecer o que tem de melhor aos seus visitantes. Porque como diz Huzur, o guia, «as diferenças dos povos podem ser inúmeras, mas o ponto em comum é sempre a hospitalidade».


Guia de viagem

Viajar

Documentos: passaporte com visto prévio ou visto pedido à entrada na Turquia. O valor é de 20 euros.
Moeda: TRY – lira turca (1 EURO=6,50TRY)
Fuso horário: GMT+2 horas
Idioma: turco ou inglês

Ir

Com partida de Portugal, não existem voos diretos para Antália. A melhor opção é viajar com a Turkish Airlines a partir de Lisboa ou do Porto, com escala em Istambul. O Club Med Palmiye tem pacotes com voos incluídos e disponibiliza igualmente serviço de transfer.

Quando ir

A melhor altura para explorar Antália, na Riviera Turca, é entre os meses de maio e outubro, quando as temperaturas mais altas começam a fazer-se notar na região – chegando aos 36º C. Por sua vez, o Club Med Palmiye abre portas em abril e termina a época no início de novembro.

Dormir

Club Med Palmiye
Inaugurado em 1988, este resort está dividido em duas áreas distintas, a do hotel e a dos bungalows do Villagio. Tem capacidade para 1200 hóspedes que partilham ambas as zonas desta pequena aldeia. Nos 18 hectares e 900 metros de costa, banhada pelo mar Mediterrâneo, não faltam atividades. Há quatro restaurantes, outros tantos bares, seis piscinas, vela, windsurf, snorkeling, stand up paddle, campos de ténis, futebol e basquetebol. Tudo isto no regime de tudo incluído. Desde 148 euros por noite e por adulto. Segundo a plataforma de reserva do site, em agosto, uma estada de sete noites em regime tudo incluído pode custar a partir de 1035 euros por pessoa sem transportes e 1483 euros com voo a partir de Lisboa.
Tatil Koyu Tekerlektepe Mevkii
Tel.: +90 242 814 32 60
Web: facebook.com/ClubMedPalmiye

Comer

Phaselis
Com uma área interior e exterior, este é um restaurante familiar para todas as idades. Situado na zona do hotel do Club Med Palmiye, este buffet oferece uma grande variedade de comida turca.
Web: clubmed.pt

Olympus
Localizado na zona dos bungalows do Villagio, o restaurante é ideal para desfrutar da refeição numa esplanada com vista para o Mediterrâneo. A seleção é variada. Entre as especialidades, tradicionais e internacionais, destacam-se as pizas turcas, a beringela recheada e as famosas baklavas.
Web: clubmed.pt

Topkapi
No centro do Club Med Palmiye, a escolha dos pratos é bem mais reduzida, mas mais cuidada e as opções variam entre a cozinha tradicional e outras internacionais. É necessário reserva prévia.
Web: clubmed.pt

Bosphore
Este é outro dos restaurantes gastronómicos do Club Med. O elegante espaço está aberto para almoços e jantares, com uma seleção de produtos locais e frescos para experienciar os melhores sabores da cozinha turca. Precisa de fazer reserva prévia na receção.
Web: clubmed.pt

Visitar

Mesquita Kemer Cami
No centro da cidade de Kemer, a entrada é permitida se não estiver a decorrer nenhuma oração. Para o caso de não estar devidamente preparado, há peças de vestuário à entrada da mesquita que pode utilizar para a visita.
Yeni Mahallesi, 402. Sk. n.º 3, Kemer

Kemer Tower Cafe & Bistro
Localizado na praça central, este é um espaço ideal para um momento de descontração, com uma das melhores vistas da cidade de Kemer.
Yeni Mahallesi, Atatürk Blv., Antalya

Hierápolis e Pamukkale
Pamukkale e a cidade de Hierápolis estão no topo das preferências dos viajantes. A viagem de três horas e meia até à antiga povoação romana é longa, mas só por si recompensadora.
Pamukkale
Web: pamukkale.net

Hierápolis Antique Pool
Segundo a lenda local, esta é a piscina onde Cleópatra nadou. O moderno complexo termal está aberto ao público e permite-lhe nadar entre as ruínas do Templo de Apolo. Há chuveiros e vestiários disponíveis.
Preço: cerca de oito euros por adulto. Crianças até aos 6 anos não pagam.
Horário: aberta durante o verão, entre 15 de abril e 2 de outubro, das 08h00 às 21h00.
Kale Mahallesi
Web: pamukkale-turkey.com

Mais informações:

Web: goturkeytourism.com


Agradecimentos

A Volta ao Mundo viajou a convite de:


Reportagem publicada na edição de julho de 2019 da revista Volta ao Mundo, número 297.

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