A Praça de São Marcos voltou a sorrir (Foto: AFP/Marco Bertorello)

Casais vestidos a preceito no meio de um dia de nevoeiro. Assim se começou a celebrar o Carnaval na Praça de São Marcos, em Veneza (Itália), sem as habituais multidões de turistas, ausentes devido à pandemia.

“É totalmente surreal”, desabafou à agência AFP Chiara Ragazzon, de 47 anos, moradora numa Veneza que recusa deixar passar em claro uma das suas tradições mais singulares.

“O que mais impressiona é o silêncio. Carnaval é música, são pessoas a divertirem-se. Mas ainda assim, Veneza é um lugar mágico”, expressou Chiara.

Itália relaxou as restrições ao coronavírus na passada segunda-feira, permitindo maiores liberdades na maioria das regiões.

Veneza está entre as áreas agora sob a categoria amarela de baixo risco, mas os residentes ainda não têm permissão para viajar para fora da região.

As autoridades de Veneza foram forçadas a interromper o Carnaval do ano passado, quando a pandemia começou a espalhar-se. Este ano estão previstas comemorações online.

“É uma forma de revigorar os laços que nos unem aos milhões de pessoas que amam Veneza”, explicou Simone Venturini, vereadora com o pelouro do Turismo.

Foto: AFP/Marco Bertorello

A uma curta caminhada da Praça de São Marcos, Hamid Seddighi, vestido com macacão respingado de tinta, faz uma máscara de carnaval na sua oficina, moldando e alisando o modelo com delicada precisão.

A sua loja, Ca ‘de Sol, vende máscaras enfeitadas com cristais Swarovski. A pandemia fez com que receitas caíssem 70% – principalmente devido à falta de turistas estrangeiros, a principal clientela. “É trágico. Só vendi duas para o Carnaval”, lamenta.

Antes da pandemia, o Carnaval trouxe cerca de 70 milhões de euros para os cofres de Veneza, números da Câmara Municipal, e mais de meio milhão de turistas.

A associação de artesãos locais lançou uma campanha de descontos para incentivar os moradores a participarem das festividades deste ano na ausência de visitantes estrangeiros.

Apesar da melancolia, o diretor da associação, Gianni De Checchi, vê uma oportunidade para os moradores reivindicarem uma cidade onde o turismo excessivo trouxe consigo uma série de efeitos negativos, desde a poluição até aos preços crescentes do aluguer de casas e espaços de comércio.

“É uma forma os venezianos se reapropriarem e redescobrirem sua cidade”, considera Gianni De Checchi.

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