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Que 2020 interrompeu as intenções de quem planeava viajar, é uma realidade impossível de negar. Que 2021 pode ser o ano em que todos os planos abandonarão o patamar do impossível, é quase certeza absoluta.

As deslocações estarão menos restritas, a chegada em força da vacinação contra a covid-19 tenderá a aumentar a segurança sanitária, as condições voltarão ao que conhecíamos antes da pandemia.

Planos adormecidos poderão sair do papel das intenções muito em breve. Razões para sorrir, para sonhar, para soltar amarras e rumar a destinos guardados na gaveta pouco secreta que acolhe aquele formigueiro que apenas desaparece quando a porta de casa se fecha e a viagem começa.

Em família, com o conforto de proporcionar a quem amamos recordações que podem ficar para a vida, traduzidas em sorrisos registados na memória.

Sozinho, qual nómada temerário que junta a cada passo a fotografia pessoal de vivências que jamais serão solitárias, do tanto que se conhece (e de quem se conhece) durante a longa caminhada.

A dois, partilhando um amor forte que se quer duradouro, daqueles amores que se imaginam eternos, seja lá quanto dure o eterno, carimbados com tinta forte num destino feito guardador de promessas sem prazo de validade.

À aventura, enfrentando cenários dignos de filme, como heróis de um plano que só eles conhecem e de que mais ninguém consegue ousar imaginar o prazer imenso. Em alto mar, com o oceano salgado como companhia perfeita para embalos de emoções de uma vida inteira embrulhada nos braços apertados do encantamento. Enfim, os perfis de viagem são imensos. Os perfis de viajante também.

Dizem os especialistas que 2021 será propício ao sonho. O Barómetro do Turismo, desenvolvido pelo Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT), aponta para uma retoma entre a primavera e o verão. A procura interna deverá consolidar-se mais rapidamente do que a procura externa, segundo o documento, depois de uma “diminuição considerável ocorrida durante 2020”, esse annus horribilis em que os níveis de confiança no desempenho turístico caíram de 79,5% para 47,3%.

Se quisermos voltar atrás no tempo para traçar comparações com a atualidade, as receitas turísticas de 2019 contribuíram para 8,7% do PIB nacional, de acordo com dados oficiais do Turismo de Portugal, o que equivale a um peso na economia de 6,9% e mais de 300 mil empregos gerados. Até julho, segundo o Banco de Portugal, tais receitas haviam caído 65,9% em comparação ao período homólogo de 2019, qualquer coisa como 786,6 milhões de euros.

A Organização Mundial do Turismo antevê sinais de recuperação visível apenas para os últimos quatro meses de 2021. Seja como for, os sinais são de otimismo. O turismo regressará em força e é possível almejar o que tem ficado riscado da agenda por razões de força maior.

Sonhar voltou a ser verbo ativo no dicionário dos planos. E no calendário. De mochileiros, de casais apaixonados, de aventureiros, de solitários, de famílias e de quem não prescinde do conforto do luxo e do conhecimento.

(texto publicado originalmente na edição nº 314 da revista Volta ao Mundo)

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