Marrocos foi um dos destinos de aventura de Carla e Luís

As motas vêm da adolescência de Carla Tenreiro e de Luís Santos da Cunha, ainda ambos nem sonhavam que iriam juntar essa paixão a um casamento e fazer dela o momento alto de cada um dos seus anos: uma viagem. E insistem nela, porque se “vai indo e vai descobrindo”. Porque se pode ir e vir e voltar de novo e arriscar.

E se Carla, hoje com 51 anos, está viciada em atravessar as paisagens amarelas do sul de Marrocos, Luís, 60 anos e milhares de quilómetros nas rodas, soma-lhe a experiência de uma vida, que ela só não pôde acompanhar porque há filhos nesta história de amor.

Luís subiu de Deli aos Himalaias ocidentais e atravessou a famosa Khardung La. O sonho de 2020 era a América Latina. A pandemia adiou tudo, mas a viagem está na mesa para este ano, a aguardar sinais de tranquilidade pandémica na parte do Globo em que o inverno é no verão, ainda que Luís e Carla devam esperar por 2022. E é uma empreitada de 21 dias por seis países que é possível ligar por estrada no centro do gigantesco subcontinente americano.

Carla Tenreiro e Luís Santos da Cunha concretizam destinos de sonho em duas rodas

Organizada pela portuguesa Northroad, parte das cataratas de Iguaçu, no sul do Brasil, percorre o Paraguai, entra na Argentina que corta pelo norte, a caminho do Chile e do seu incontornável deserto de Atacama. Daí, o percurso é no céu do Altiplano Boliviano, com a descobertas dos vários lagos que fazem daquela uma região única: a Lagoa Verde, a Lagoa Colorida e, obviamente, o Salar de Uyuni e as suas ilusões de ótica.

Aí, explica Tiago Sousa Lopes, da Northroad, a ideia é seguir em autonomia durante um par de dias, com um jipe equipado com cozinha para apoio, com dormidas em abrigos de montanha. Desses Andes sobe-se para a cidade mais alta do Mundo, La Paz, e daí para outro incontornável: o Lago Titicaca, partilhado pela Bolívia e pelo Peru de Cusco e do belíssimo trilho que conduz à cidade inca de Machu Picchu, de onde se desce para o lado oriental, a Amazónia peruana, primeiro, a brasileira, depois, com fim em Rio Branco. Um sonho que Luís e Carla preparavam com afinco, conhecedores que já são das estradas chilenas, ainda que em quatro rodas.

A viagem, cujo custo é de cerca de oito mil euros por pessoa (excluindo voos intercontinentais), inclui um “tour líder” com o reconhecimento do percurso e dos parceiros feito previamente, veículos de apoio para transportar bagagem e peças suplentes e o aluguer de motas locais. “É sempre mais fácil arranjar peças e toda a gente sabe mexer naquilo”.

No caso da América Latina, são Kawasaki KLR 650, as motas da Polícia. Em Khardung La, Luís conduziu uma Royal Enfield, a mota indiana por excelência. Pelas mesmas razões. E lá dormiu numa tenda, a 4000 metros de altitude, perto da fronteira da China e sem comunicações. Antes de subir aos 5600 da estrada mais alta do Mundo.

Khardung La: uma montanha na Índia com muito para contar (Foto: Getty Images)

Por latitudes menos distantes, o casal leva as suas BMW. Partindo de casa o embarcando num voo low cost devidamente equipados e com capacete debaixo do braço, à custa de alguns olhares enviesados, enquanto a mota segue no camião de uma transportadora que tem como responsável um motociclista como eles – “Motard é um palavrão que nem cabe na língua portuguesa. Somos motociclistas”, sublinha Luís –, assim permitindo ultrapassar 1500 km e dois dias de uma Península Ibérica já demasiado trilhada por quem vive “na ponta da Europa” e que custa ainda mais no caminho do regresso.

À aterragem seguem diretos ter com as duas rodas e sorvem por mais tempo o trilho de destino. Que pode ser, este ano, com um verão à partida descansado da pandemia, a Roménia ou a Escócia. Luís tem outra ideia: a Islândia, de cara ao vento, porque só assim se cheira um destino.

(texto publicado originalmente na edição nº 314 da revista Volta ao Mundo)

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