Márcia e João ainda vivem o fulgor de um amor novo. Une-os a paixão pelo mar, pelo sol, pelos destinos de Natureza. Acordam todos os dias com os sons do Atlântico a perfumar-lhes os ouvidos, em Esposende, e é desse sal temperado que se alimentam os sonhos deste casal apaixonado.
2020 trocou-lhes as voltas: era o ano de dar um pulo à Nicarágua. “É a nossa viagem mais desejada neste momento”, atira Márcia Raquel Pires, engenheira geotécnica de 30 anos. O companheiro, João Pedro Temporão, 34 anos e também ele engenheiro geotécnico, corrobora. “Temos muito boas informações sobre o país, é lindíssimo, tem paisagens soberbas, as ondas do mar, os vulcões”.
Encravada a norte por El Salvador e Honduras, a sul pela Costa Rica e nas costas leste e oeste, respetivamente, pelo Mar das Caraíbas e o Oceano Pacífico, a Nicarágua, com uma área territorial pouco superior a Portugal e população de seis milhões de habitantes, é quase um paraíso desconhecido.
Vulcões e lagos compõem uma paisagem múltipla de atrações naturais ainda arredadas da massificação turística. E há o Cañon de Somoto, desfiladeiro que apela a aventuras de rapel entrecortadas com visitas atentas a cavernas com muito a deslumbrar. Ou o Cerro Motogón, 2100 metros de altitude, montanha mais alta do país que convida a uma subida a prometer ser guardada na gaveta das boas memórias.
Na Reserva de Bosawas, por sua vez, o deslumbramento fica por conta da diversidade natural que por lá pode ser encontrada e observada. Património da UNESCO, Bosawas guarda cerca de 700 espécies diferentes de pássaros, além de comunidades indígenas que ainda vivem sob costumes ancestrais, como os Mayagana. E praias, claro, de areia branca e fina, águas quentes e paraísos quase secretos. Um país de surpresas, portanto. Diverso, completo e convidativo, de combinações pouco expectáveis que resultam em experiências forradas a encantamento.
A missão Nicarágua ficou adiada para este ano. Abril, maio ou agosto. “Queremos ficar pelo menos dez noites, fazer algumas cidades, conhecer o mais possível”, diz a jovem e aventureira engenheira, que recorda com saudade a recente viagem à Tailândia, que cumpriu sozinha, numa jornada que também foi interior.
“O nosso orçamento é sempre limitado, mas temos planos para fazer uma viagem mais longa todos os anos”, sublinha João Temporão, que já viveu em Inglaterra e em Angola e soma vários países no passaporte. Por isso é que, quando viajam, Márcia e João não se detêm no requinte dos alojamentos. “Passamos o dia todo na rua e só queremos um sítio asseado para tomar banho e descansar”.
Márcia acredita que este será o ano de ganhar asas e fugir para o lugar dos sonhos. “Não podemos ficar amarrados a este medo e a esta insegurança constantes”, garante. 2021 será, promete, o princípio de uma constante partida.
João sorri. Só pode concordar.
(texto publicado originalmente na edição nº 314 da revista Volta ao Mundo)