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O convento feminino de Monchique, inspiração de Camilo Castelo Branco para o “Amor de Perdição”, é hoje uma unidade hoteleira de quatro estrelas recentemente certificada como construção sustentável.

Poderíamos perder-nos na procura de um janela em concreto, daquela de onde Teresa acenou com um lenço branco a um Simão que se ia, antes de morrer ali, morrer de amor. Mas preferimos imaginar que cada recorte de rio que vislumbramos de qualquer janela do Neya Porto Hotel será a vista que Camilo Castelo Branco imaginou para a heroína de “Amor de Perdição”. Colocou-a no Convento de Madre de Deus de Monchique, construído por Pêro Coutinho e Brites de Vilhena para abrigar as filhas que não tiveram: as freiras franciscanas.

Hoje, parte do convento (a venda depois da extinção das ordens, em 1834, acabou, ao longo dos anos, a separar edifícios) é um reinventado hino à história, a verdadeira e a romanceada, e, sobretudo, um hino à responsabilidade social que escorre daquelas pedras. O Neya Porto Hotel, filho mais novo do grupo, que detém o Neya Lisboa (na Estefânia), é o primeiro hotel português com certificação como edifício sustentável (Leadership in Energy and Environmental Design, atribuído pelo U.S. Green Building Council) e com o selo Gold – há apenas outros dois na Península Ibérica.

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Traduzido por miúdos, o projeto foi construído a pensar no ambiente: gasta menos 45% de água do que um hotel convencional, 75% da água de descarga nas sanitas já foi usada no chuveiro, conseguiu uma poupança de energia na ordem dos 20%, enviou 95% dos resíduos de construção para reciclagem, usou 40% de materiais reciclados e conseguiu adquirir 30% deles na região, diminuindo a pegada no transporte.

Para lá disso, o Neya acolhe funcionários locais, que incentiva à mobilidade sustentável, disponibiliza bicicletas para os hóspedes, eliminou o plástico de uso único e, acima de tudo, devolveu à cidade, após uma década e 18 milhões de euros, a janela de Teresa de Albuquerque. O Sky Bar será a mais agradável reprodução dela, um pátio altaneiro aberto para o Douro com vista direta sobre o pôr-do-sol rosa alaranjado do Porto. Ao nível da rua, a testemunhar a lenta passagem de elétricos e transeuntes, o restaurante Viva Porto apresenta menu executivo e uma carta inspirada na gastronomia portuguesa.

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Já os hóspedes dos 124 quartos (12 suítes, nove delas em duplex para famílias) têm a sorte de entrar na história do espaço descansando no que resta dos claustros, entre a antiga capela e a velha cozinha, hoje spa, e imaginar Teresa e “o refúgio de espiritualidade, de silêncio de alegrias ou angústias sufocadas, ora escolhido, ora forçado”, como descreve o presidente do grupo Largo Tempo GPS, que detém o Neya, Amin Herj. Foi preciso esperar 18 meses depois da abertura do espaço, suspenso ao cabo de uma semana pela pandemia, mas agora já é possível dormir no cenário do Romeu e Julieta português.

O Neya Porto Hotel fica situado nos números 35-41 da Rua de Monchique, no Porto. Conta com quartos cujos preços partem dos 211 euros (com pequeno-almoço).

 

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