Não acontecia há 15 anos: um cruzeiro com europeus acostou na Venezuela. E foi uma festa.
O porto de El Guamache, na antigamente cobiçada ilha venezuelana Margarita, no estado de Nueva Esparta, acolheu no dia 3 de janeiro, com pompa, os quase 500 turistas europeus que viajavam a bordo do MS Amadea, um navio alemão com bandeira das Bahamas.
Os europeus tinham-se afastados deste destino com receio de um país enterrado em crises económicas subsequentes, geradas pelas pesadas sanções internacionais impostas ao regime venezuelano.
Uma inflação galopante, o controlo de câmbio, a dramática escassez de produtos e a falta de garantia de serviços básicos como a água e a eletricidade juntou-se à insegurança, num país com elevadas taxas de violência, para manter os navios ao largo, levando ao encerramento das agências de viagens.
A Venezuela “tornou-se um destino muito inseguro e de alto risco”, admitiu à AFP Reinaldo Pulido, vice-presidente do Conseturismo, a autoridade de turismo venezuelana.
E, por isso, “durante muitos anos, a Venezuela esteve fora dos radares dos navios de cruzeiro”, acrescentou o ministro do Turismo, Ali Padron, que se deslocou à ilha para acolher esta acostagem histórica. Havia 15 anos que nenhum navio europeu parava na Venezuela.
Mas depois de anos de hiperinflação e da queda livre da moeda que atiraram os venezuelanos para a miséria e levaram milhões a fugir do país, a economia (e o turismo) têm dado tímidos sinais de recuperação.
A dolarização da economia e um controlo de preço menos apertado impulsionaram as importações, permitindo uma maior variedade de produtos nos supermercados e a abertura de comércio.
A esta recuperação soma-se o fluxo de turistas russos a optar pela Venezuela, depois de verem vedados outros destinos na sequência da invasão russa da Ucrânia.
Para o presidente do Conseturismo, Leudo Gonzalez, a chegada do MS Amadea “abre a possibilidade de o país regressar ao radar das maiores companhias de cruzeiro”. E tudo o que “traga novos turistas internacionais é um ganho”, admite. “Para nós é maravilhoso, uma celebração.”
A maioria dos passageiros do MS Amadea eram provenientes de Espanha, França, Alemanha, Itália e Suíça.