Mónica e João conheceram a Parreirinha há alguns meses. Porque precisavam de viver depois de dramas familiares. Esta é a história de amor que logo nasceu pela autocaravana vintage amarela que corre as estradas de Portugal.
Mónica Botelho e João Fidalgo Jorge, 34 e 35 anos, perceberam da pior forma que “o amanhã não é garantido” e que não se deve adiar um sonho que se pode cumprir.
Os pais dele perderam a luta contra o cancro, ambos, em 2021. O dela já partira em 2018 e a mãe somou demência e AVC.
Numa noite de luto, a procurar ajuda na série After Life, reviram-se na história, na questão da hereditariedade, os dois atirados no sofá, a chorar, e perceberam a dita frase.
“Não podemos continuar aqui, nesta vida, neste processo. Temos de viver. Tínhamos que repensar os nossos planos”.
E o plano adiado, primeiro pelo casamento, depois pela garantia de um lar, era viajar com a casa às costas. Surgiu a Parreirinha.
Estava escondida no feed do OLX, amarela como nunca tinham visto, velhota, mais velha do que eles, até, nascida em 1978, mas toda apimpalhada pelos anteriores donos, gira. Uma Ford Transit cheia de pinta e de vontade de se fazer à estrada, como eles que viajavam desde que se conheceram.
“Foi amor à primeira vista”, veio logo até Almeirim, onde o casal vive, e levou muito depressa com autocolantes como aquele que lhe serve de tiara, Parreirinha, cheio de cores.
Por dentro, foi acomodada com tudo o que exige o teletrabalho, pelo qual Mónica, gestora de recursos humanos, e João, advogado), podem de vez em quando optar.
E ainda ganhou uma página no Instagram, @parreirinha_on_the_road, onde se descreve como “nascida em 1978, de ascendência norte-americana, mas com alma ribatejana” e “batizada em honra do local onde nasceu o amor dos donos, Parreira”.
Valeu-lhe já uma fama meteórica nas estradas de Portugal.
“Somos reconhecidos e apitam quando passamos”, conta Mónica, que conta os largos quilómetros já feitos desde que a Parreirinha estacionou em Almeirim, há alguns meses.
Já desbravaram parte da Nacional 2, à velocidade da “velhota”, querem cumprir o que falta antes de pô-la a atravessar a fronteira, porque conhecer Portugal de lés a lés é o melhor ponto de partida para conhecer o que fica para lá dele.
Pernoitam em parques de campismo e, sempre que as há, em quintas que alinharam no projeto Portugal Easy Camp, uma “rede de agro-turismo que relaciona o mundo do autocaravanismo e espaços rurais de Portugal, quer sejam quintas vitivinícolas, agrícolas ou pecuárias”, onde se pode estacionar por uma noite em troca da aquisição dos produtos da exploração.
E conhecem gente com a mesma paixão, um estilo de vida livre, com tempo e, às vezes, até com as gatas lá de casa.