A Emirates integrou recentemente a solução Lido mPilot com a Turbulence Aware da IATA

A curta ligação aérea entre Milão, na Itália, e Genebra, na vizinha Suíça, é o percurso de voo mais turbulento da Europa e o quinto mais sacudido do Mundo. Tudo por causa dos Alpes. E os nossos Açores são o segundo território mais mexido do Planeta.

Os cálculos são da plataforma Turbli, que colige dados meteorológicos gerados pelas agências norte-americana National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA/NWS ) e britânica (Met Office) e que oferece no seu site mapas interativos com previsões a três, seis, nove e 12 horas para qualquer rota, bastando inserir o horário do voo.

Depois de analisar 150 mil percursos de voo em 2023, a Turbli concluiu que a ligação entre Santiago do Chile e Santa Cruz, na Bolívia, é a mais atribulada de todas. Segue-se o voo entre Almaty, no sul do Cazaquistão, e a capital do Quirguistão, Bishkek, um curto voo de 210 km.

Lanzhou a Chengu, na China, e Tokoname (aeroporto Centrair) a Sendai, no Japão, são as rotas que se seguem. Em quinto lugar surge a travessia dos Alpes de Milão a Genebra e em décimo a ligação, na mesma zona, de Milão a Zurique.

A culpa é das ondas orográficas que se desenvolvem nas montanhas, nos casos dos voos sobre os Alpes e os Andes, e da “forte atividade da corrente-jato” (eixo de vento de altitude muito potente, que circula à volta do Planeta de oeste para leste) nos casos da China e do Japão, explica o fundador da Turbli, Ignacio Gallego Marcos, ao jornal britânico “The Independent”. E as alterações climáticas contribuem para o aumento da frequência das turbulências, algumas em zonas de céu limpo e sem qualquer aviso visual.

Ainda segundo a Turbli, os aeroportos mais turbulentos do Mundo em 2023 foram, Santiago do Chile, Natori (Japão), Wellington (Nova Zelândia), Sapporo (Japão), Osaka (Japão), Bishkek (Quirguistão), Tokoname (Japão), Lanzhou (China), Tóquio (Japão) e Christchurch (Nova Zelândia). Na Europa, Viena, Zurique, Marselha, Genebra e Ljubljana são os mais atribulados.

Analisando por países ou territórios, temos Puerto Rico no topo da tabela relativa a maio de 2024, seguido dos Açores (na verdade, já suspeitávamos…). Portugal, pasme-se, surge em oitavo lugar.

Segundo a definição do National Weather Service dos EUA, a turbulência é um “fenómeno causado por movimentos de ar bruscos e irregulares, que criam correntes ascendentes e descendentes rápidas e agudas, que provocam deslocamentos violentos e inesperados dos aviões”.

São quase sempre ligeiras (voo suave) ou moderadas (provocando dificuldades em caminhar na aeronave), mas podem ser elevadas (com tensões fortes ao nível dos cintos de segurança), severas (mudanças de altitudes violentas e súbitas, que são muito raras – um em cada 50 mil voos) e extremas (em que o avião fica praticamente impossível de controlar, mas que são tão raras que a maioria dos pilotos nunca as enfrenta ao longo da carreira).

O caso do aparelho da Singapore Airlines que foi obrigado a aterrar em Banguecoque, na Tailândia, depois de turbulências muito fortes terem provocado uma descida de altitude de 1800 metros em cinco minutos quando sobrevoa o mar de Andaman estará entre as duas últimas categorias. O incidente provocou um morto e vários feridos graves.

Habituarmo-nos a voar com sacudidelas parece ser, portanto, uma sina, que as autoridades de aviação civil e as companhias aéreas tentam suavizar como podem.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) desenvolveu a plataforma Turbulence Aware, ferramenta global em tempo real que ajuda pilotos e profissionais da aviação a gerir e mitigar o impacto da turbulência nas operações. Reúne dados de turbulência de milhares de voos operados em todo o Mundo, que permitem escolher rotas de voo ideais, evitando a turbulência e maximizando a eficiência do combustível.

Do seu lado, a Lufthansa Systems desenvolveu o “Lido mPilot”, uma solução móvel de navegação que permite previsões precisas e atualizadas sobre os níveis de turbulência e partilha automática de relatórios com todas as companhias aéreas que fornecem dados para a plataforma.

Já a empresa austríaca Turbulence Solutions está a desenvolver uma tecnologia que acredita poder reduzir o impacto das turbulências, inspirada no comportamento de algumas espécies de aves. Trata-se de prever uma turbulência com sensores na asa e ajustar os controlos do aparelho. Já terá sido testado com sucesso.

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