Os restos de um bunker numa praia da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Os restos de um bunker numa praia da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

A vista de dentro de um bunker na ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

O porto de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Porto de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Passeio em volta da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Barracões militares abandonados no topo de uma colina da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Um engenho militar no porto da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Um edifício de comando militar numa colina da ilha de Sazan (Adnan Beci / AFP)

Uma escola abandonada em Sazan (Adnan Beci / AFP)

Era uma vez uma ilha paradisíaca prenhe de história, com bunkers a recordar a guerra fria paredes meias com areais brancos e água turquesa. Pois está ameaçado. Pela família Trump.

Falamos da Albânia, essa joia recém-descoberta pelo turismo mundial, cujo território se faz de montanhas e cidades históricas, de tradições e de um mar invejável. E falamos, concretamente, da pequena ilha de Sazan.

Em tempos uma base militar dos tempos da Guerra Fria que faria as delícias de qualquer vilão da saga 007, a ilha albanesa está prestes a sofrer uma profunda mudança: o multimilionário casal Ivanka Trump e Jared Kushner anunciou um plano para “restaurar” a sua beleza selvagem.

A filha do ex-presidente dos EUA e atual candidato republicano às presidenciais de novembro e o marido querem a construção de villas de luxo na ilha que, durante décadas, era uma guarnição com bunkers, abrigos e um labirinto de túneis projetados para resistir a um ataque nuclear.

A base é a representação perfeita da paranoia desenfreada que se viveu sob o governo do homem forte estalinista da Albânia, Enver Hoxha, depois da Segunda Guerra Mundial.

“A ilha tinha 2840 bunkers com metralhadoras pesadas e outras armas automáticas”, relatou à AFP Ylli Mecaj, um ex-soldado estacionado em Sazan.

“Também havia quilómetros de túneis e instalações subterrâneas, abrigos para armazenar munições e reservas alimentares”, recorda o reformado da marinha, hoje com 78 anos.

Durante a era socialista, mais de 2000 pessoas viviam na base – equipada com cinema, escola e hospital e preparada para sobreviver meses em caso de corte com o resto do país.

A base foi deixada ao abandono com o colapso do governo comunista, em 1991, que atirou a Albânia para anos de caos, incluindo a crise económica em 1997 e a guerra civil que se lhe seguiu e que resultou no assalto a depósitos militares. Sazan não escapou.

Atualmente, a ilha está entregue às amoreiras silvestres e às figueiras, que crescem a olhar para o mar azul-turquesa e para as ruínas das antigas instalações militares.

Mas grandes mudanças podem estar a caminho da ilha, que só foi reaberta ao público em 2015.

As primeiras notícias de que o casal americano estava com planos ambiciosos para a ilha de Sazan (e outro projeto em Belgrado, capital sérvia) surgiram em março.

A família Trump tem uma longa história de investimentos em projetos de luxo por todo o Mundo e alguns críticos acusaram-na de tirar partido da estadia na Casa Branca para assegurar acordos de negócio fora de portas.

Mas o governo albanês tem procurado reforçar a economia nacional com o turismo, promovendo um boom de construção ao longo de largos trechos de costa.

O investimento para Sazan ainda está na fase dos planos e precisa de mais ampla aprovação governamental, mas o entusiasmo já se sente no ar (dos gabinetes políticos, entenda-se).

“Estamos ansiosos que arranque porque vai desencadear reações em cadeia na economia da cidade” de Vlora, diz o autarca Ermal Dredha.

Vlora é a povoação costeira que fica em frente e que gere Sazan, no sudoeste da Albânia, e que tem sido uma das maiores beneficiárias do boom turístico no país, que resulta na multiplicação de blocos de apartamentos e resorts ao longo da costa.

Um perfeito contraste com Sazan, onde os Trump são apenas os últimos de uma longa lista de estrangeiros que procuraram ali instalar interesses.

Situada à entra da baía de Vlora, numa posição estratégica onde os mares Adriático e Jónico se encontram, a minúscula ilha tem sido cobiçada ao longo dos séculos pelos venezianos, gregos, italianos e alemães, entre outros.

Ainda classificada como zona militar, Sazan só apercebe a invasão do turismo durante os verões.

Barcos diários trazem visitantes que vêm à descoberta dos trilhos da ilha e do seu único habitante – um pequeno burro de pêlo cinza.

Não há pormenores relativos ao futuro projeto, mas Ivanka admitiu, numa entrevista recente, que o isolamento da ilha trazia alguns desafios. E adiantou que estavam envolvidos os melhores arquitetos e as melhores marcas.

Depois de anos de esquecimento, a mudança prevista deixará muito pouco do seu ar de romance de James Bond – para o bem e para o mal.

“Sazan já não é Sazan. Já não há armas, nem canhões, nem baterias anti-aéreas, nem navios, os bunkers estão em ruínas”, lamenta o velho soldado Mecaj. “Está aberto a quem quer que deseje ocupá-la…”

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