O melhor céu de Portugal ocorre ali, sobre a região menos densamente povoada do país. O interior do Alentejo. Porque tem 286 noites limpas por ano. E porque um grupo empreendedor convenceu as autarquias a mudar as luminárias. Bem-vindos ao território Dark Sky Alqueva.
As últimas faixas de luz solar desapareceram atrás das colinas. A escassa iluminação pública aponta para baixo – porque é assim que deve ser, de que serve luz a iluminar o céu se é cá em baixo que andam os homens?
A água bate no caiaque com a leveza da ausência de corrente, apenas movida ao vento que se levantou à medida que o sol se ia. Acima de nós, o firmamento, inacreditavelmente limpo de qualquer fio de nuvem, escuro como a profundeza do imenso Grande Lago que começou a cobrir estas terras em 2002 e em oito anos se fez o maior lago artificial da Europa ocidental.
Regressamos lentamente à margem, à velocidade da força de braços nas pagaias, de alma e olhos cheios.
Para trás, além da água sulcada, deixamos uma das ilhas da albufeira de Alqueva, deserta de gente como todas, e por isso suficientemente longe dela para ser o lugar perfeito para contar o caminho da Ursa Maior à Estrela Polar, essa que nunca mudará de sítio e nos indicará sempre o azimute.
Francisco Guerreiro não é astrónomo. É “curioso”. Enquanto trinca um naco de pão com queijo de ovelha do amigo Carlos Serrano, da Moura que se apercebe lá ao longe, aponta ao infinito e leva-nos a descobrir o que aquele céu perfeito deixa ver a olho nu. Aquele céu e o trabalho pacientemente feito pela Associação Dark Sky Alqueva: ensinar aos municípios ribeirinhos que a noite tem que ser noite e não precisa de tanta luz pública.
Temos sorte – vá, não é preciso muita e é isso que faz deste um lugar eleito – e podemos brindar com um copito de Morgado da Canita num dos 286 dias anuais de céu noturno limpo que deram ao Alqueva a primeira certificação mundial de Starlight Tourism Destination (atribuída pela Fundação Starlight, em 2011), um destino onde tudo se integra e move à volta das estrelas. Sob elas.
Francisco é do Alentejo Break, um dos parceiros da associação, e ousou promover passeios de caiaque noite dentro, com partida do Centro Náutico de Moura. Na ilha, serve-nos paio de porco preto do amigo José Miguel Rocha, de Safara.
E desfia a história e o perfil do Grande Lago: encheu em oito anos, contra todas as expectativas, tem uma margem total maior do que a costa de Portugal continental, 1160 quilómetros, e estende-se por 128 quilómetros da ponte da Ajuda, em Elvas, ao paredão construído no lugar de um pontão que ficara famoso pela inscrição “Construam-me, porra!”, frase obra de jovens cansadas com os sucessivos adiamentos da construção de uma barragem pensada em 1955. Era 1994 quando fizeram a pichagem. As comportas encerrariam finalmente em 2002 e mudariam para sempre a paisagem, a região, a sua economia e, até, o clima.
E se é inegável a dor de se perder o chão de uma povoação, a Aldeia da Luz, reconstruída mais acima em modo triste (é a descrição que encontramos para aqueles correres de casas ao melhor estilo bairro mineiro sem graça e assim resumido por um habitante: “as sombras não são as mesmas”, porque a Natureza não se muda de lugar), o que aquele mar trouxe é incomensurável. Trouxe agricultura e trouxe um turismo de estadia, de experiências, de atividades. Daquele turismo que é simplesmente capaz de se pôr a olhar para as estrelas.
Poucas horas adiante, mal dormidas, estaríamos precisamente nesse céu, em alvorada, já com as estrelas desligadas e os fiapos de dia a crescer sobre o Convento da Orada, em Monsaraz. Rui Caeiro avisa-nos que o silêncio vai ser esporadicamente quebrado pelo queimador que anima o enorme balão de ar quente. Vamos sem rumo, porque é assim que se voa, a descobrir a par e passo para onde nos conduz o vento. Rasamos os 180 metros de altitude do povoado histórico e esticamo-nos sobre o Grande Lago. E que grande é, visto daqui.
Rui, tenente paraquedista com Bósnia e Timor no currículo e fundador da Fly Dreams Alentejo, diz da herança que compete a Portugal nestas andanças: “O primeiro esboço de balonismo foi de Leonardo da Vinci. O primeiro teste foi português, com Bartolomeu de Gusmão, que fez a Passarola em 1709. Só depois é que os irmãos Montgolfier pegaram nos desenhos de um e no teste do outro” e popularizam o balão de ar quente, em 1783.
O que importa aqui, para lá do passado, é o presente. Sobrevoamos um mar interior, a acordar para o calor do Alentejo, debaixo de um céu perfeito, lavado, silencioso. Tudo ali é silêncio. Tudo ali é beleza em estado puro. Percebemos a extensão da obra que mudou a região, de um gigantismo incomparável, percebemos, ali de cima, que estar num balão de ar quente faz mais sentido ali, com aquele espelho de água em tons pastel a desfilar sob o cesto. Ao largo, o horizonte pontuado por outros como nós, a tentar descobrir o som do silêncio, a vida dos pássaros, o Mundo limpo, livre, bonito.
A experiência é indizível. Sem exagero. Aterramos do lado espanhol da fronteira, calhou, o vento assim quis, e brindamos com espumante. Às oito da manhã é obra. Brindamos ao facto de ter atingido um pico de 28 km/hora e de ter subido aos 1034 metros de altitude ao ar livre. Brindamos a Rui e à alegria alentejana com que cumpre a sua paixão, ali, no melhor céu de Portugal.
Um céu que não pede Lua Cheia. Pede escuridão. Essa para a qual a Associação Dark Sky Alqueva tão arduamente tem trabalhado. “Este é mesmo o melhor céu de Portugal. Já estive no deserto e não é assim.” Miguel Claro, astrofotógrafo, formador e dirigente da associação, explica-nos a luta contra a luz. “Aqui foram todas preparadas” para este ser o céu mais limpo do país. “Todo o Alentejo central foi alterado, foram 55 mil luminárias alteradas para luzes de temperatura 3000 kelvin” (amareladas) a apontar para o chão. Porque as luzes azuis, muito mais fortes, só dão uma falsa sensação de segurança: cegam e ocultam os contornos dos objetos fora do seu alcance. Mais do que favorecer o astroturismo, o combate à poluição luminosa é um combate pela saúde humana, pela sustentabilidade, pela pegada ecológica e pela poupança energética, enumera Apolónia Rodrigues, presidente da Associação Dark Sky.
À roda do Observatório Dark Sky, na antiga escola da aldeia da Cumeada (uma das que ganhou vida e projeção internacional com o projeto), percebemos essa diferença para a iluminação excessiva das nossas cidades. Está escuro, com luz leve, mas vemos tudo sem dificuldade. E, ó suprema alegria, vemos as estrelas na sua magnífica perfeição. João Freire brinca com o nome das constelações. “Foram os gregos da antiguidade que as nomearam e era conhecido o seu gosto por vinho”. As ursas, os cães, o golfinho e o centauro, o peixe e o dragão, o potro e as outras, cada uma com a sua particularidade, as suas mexidas à medida que os minutos avançam. Ou aquela estrela que provavelmente já não existe, mas cuja luz ainda vem a caminho. É bizarro olhar para para pontos que já são só a sombra da sua alma. Ou a Polar, que nos guia e fica a cinco vezes a distância entre a base da Ursa Maior. João aponta os telescópios gigantes enquanto nos faz rir no breu e mostra-nos a Lua, meia parte dela, perfeita nas suas porosidades que são crateras, o olho, essa mentira do astro dos sonhos, é como se estivéssemos a preparar a alunagem de uma nave, a vê-la de perto, quase a tocá-la, porque estamos no Alqueva e ali está “o céu profundo” que lhe valeu um prémio.
Não foi um caminho fácil. Formada em Turismo na vertente do desenvolvimento de destinos (integrando o que é turismo e o que não é, os correios ou o bar local onde os turistas também precisam de ir), Apolónia percebeu que a envolvente do Grande Lago precisava de algo “antes que o desenvolvimento massificado crescesse e que a gente perdesse a região, algo que fosse de atratividade e mostrasse que há um outro caminho”.
Para isso era necessário algo entre a iniciativa pública e a privada. Trabalhava com a Rede Europeia de Turismo de Aldeia, estava com parceiros – hotéis, restaurantes, etc. – numa associação, meio caminho estava feito. E, quanto mais olhava para o céu, a pensar, melhor o via. “Olhavam para mim e pensavam: esta maluca, alguém vem cá para ver o céu? Não consegui apoio nenhum. E as pessoas que aqui estavam e tiveram sempre este céu acabaram por não perceber que isto tinha potencial para trazer pessoas. Reuni outros “malucos” com quem trabalhava e disse-lhes, ‘estão comigo?’ Responderam: ‘Avança’.”
Era 2007 quando nasceu o Dark Sky Alqueva. A criação dos polos de desenvolvimento turístico permitiu envolver os municípios. Aí, percebeu as dificuldades: “O combate à poluição luminosa era, ainda é, extremamente complicado; as pessoas tinham de entender que o céu noturno tinha realmente um grande potencial; as empresas precisavam de ser convencidas a desenvolver atividades porque não tínhamos aqui tradição de observação astronómica amadora. Tivemos nós que criar os serviços. A visibilidade nacional era muito pouca.”
Faltava o empurrão. Veio com a ajuda da Organização Mundial do Turismo e da UNESCO e a primeira certificação mundial de destino turístico Starlight, em 2011. Hoje, são mais de duas dezenas no Mundo, três em Portugal, um deles, no Vale do Tua, com a assinatura Dark Sky, outro nas Aldeias de Xisto.
A marca certifica que o lugar “tem a qualidade do céu, tem oferta turística virada para essa qualidade e confirma o número de noites de céu limpo”. As 286 do Alqueva são recordistas do país. Como esta de que desfrutamos na velha escola renovada na Cumeada, a funcionar como observatório a tempo inteiro desde 2018.
Poderíamos estar, também, ao pé da piscina da Casa Saramago, no Telheiro, junto a Monsaraz. Ou na esplanada do Monte da Estrela, a caminho de Moura. São parceiros do Dark Sky e isso significa que ali tudo flui ao sabor das estrelas, sobretudo a liberdade de circulação e as horas para matar o bicho, manhã entrada a rasar o meio-dia. Maria Ivone Godinho conta orgulhosa a história do monte agrícola centenário que alberga os dez quartos da Casa Saramago, lugar abençoado onde os de antanho desciam à água, desde as muralhas de Monsaraz, e onde foram feitas “as primeiras observações de estrelas” – “Por isso tem muito pouca luz. A iluminação passou a amarela e baixou”. É ela que nos diz que o turismo mudou, era de caça, de estadias curtas, hoje “há muito para fazer”, olhar o céu, ir até aos menires do Cromeleque do Xerez (relocalizados ali perto, por força da barragem), andar de barco, fazer enoturismo, visitar as olarias de São Pedro do Corval. O Dark Sky? “Foi uma enorme ajuda.”
Ali perto, Tiago Kalisvaart gere o restaurante Sem-Fim, que transformou um antigo lagar de azeite em museu-galeria de arte com gastronomia alentejana (de excelência) dentro. Sabe melhor do que ninguém a importância do turismo trazido pelo Grande Lago. O pai holandês apaixonou-se pelo lagar, criou o restaurante e deu-lhe o nome do parafuso gigante que leva as azeitonas à batedeira. O filho seguiu-lhe os passos e gere hoje, o império Sem-Fim: dois restaurantes e vários barcos. Entre eles, a joia do Alqueva, um veleiro holandês de 17 metros datado de 1913, com o fundo chato exigido pelos canais, mastro de 12 metros facilmente rebatível e 90 metros quadrados de velas. A beleza é o silêncio, mais uma vez, ou apenas os comandos do mestre da embarcação. Ouve-se, sim, o vento a sacudir as velas, vagaroso, e algum líquido a encher os copos. O fim do dia perfila-se no horizonte, prenunciando uma noite limpa, carregada das estrelas que podem ser observados dali mesmo, depois do barbecue a bordo, antes do regresso tardio à Casa Saramago, com a liberdade imposta pela noite, ao som da Natureza do verão alentejano.
As olarias de que Maria Ivone fala enquanto saboreamos um perfeito pequeno-almoço bordejam a estrada principal que atravessa São Pedro do Corval, a caminho de Reguengos de Monsaraz, o maior centro oleiro de Portugal. São 22.
Rui Santos, o “Patalim”, lembra-se de quando eram mais de 40. Ainda assim, a atividade vai de vento em popa. A da olaria dele, pelo menos, que soma quase 100 anos de existência e exporta para 15 países.
Garboso nas fotografias expostas não longe das dos antepassados, nas paredes entre as quais faz mil peças por dia, tronco nu a segurar a tábua com jarrinhas, Rui é a personificação da boa disposição alentejana.
A rua, em frente, é a rua dos Patalinos tornada “Estrada de Monsaraz” pelas modernices. Culpa da bisavó, que se queixava que os pedreiros que ergueram as paredes iniciais da olaria andavam “a patalinhar”. Ficou Patalim e a família assumiu a designação.
Com as mãos envoltas em barro, diz-nos que foi graças a ele que conquistou a mulher. Ou melhor, às mãos que o barro lhe amaciou. Como amacia as da sobrinha de 21 anos, única mulher na olaria de São Pedro do Corval, uma terra onde tradição transita pelas gerações, agora reforçada pelo aumento de um turismo de qualidade.
Apolónia conta uma média de 5600 visitantes anuais no Observatório. Mas isso não inclui aqueles que sabem que o céu do Alqueva é um mimo e limitam-se a gastar os dias nos alojamentos, isolados entre montes, a olhar as estrela mal o sol se põe, a desfrutar da piscina no pôr do dia, como nós fizemos no Monte da Estrela, a caminho de Moura, ouvindo, ao longe, Goji, Açúcar e Xica a ladrar, ou as ovelhas anãs a balir. É um lar longe de casa, onde tudo é feito para nos sentirmos bem, das refeições com produtos da hortas aos lanches fora de hora para adaptar as atividades noturnas e madrugadoras, da decoração pastel ao conforto dos quartos, dos pátios individuais a uma sala de estar como todas deveriam ser…
“Estimamos que sejam mais do dobro os que vêm só olhar o céu”, calcula Apolónia. Outros alinham nas observações na Cumeada, encomendam-nas para os alojamentos ou escolhem outras das muitas hipóteses. Como fazer uma prova cega de vinho. João Louro Passos, parceiro de sempre da Dark Sky, é quem guia a experiência. Com ele arrasta a tradição da garrafeira Louro Wines, em Évora. A loja que o avô fundou em 1951 para vender vinho a granel e é hoje um testemunho dos anos, com lugar de honra para o “D.”, o vinho que João, cuja vida se divide entre garrafas e as pedreiras de Borba, criou em parceria com a Quinta do Mouro, de Estremoz. Mil unidades, não deu para mais, e mesmo assim foram seis anos a trabalhá-lo. O “Louro” é outro vinho próprio, três mil garrafas, porventura das que seguem para as provas cegas a ver as estrelas, com toda a pompa que o escuro exige. Copos pretos, guardanapos pretos, óculos de visão noturna para quem está a servir e, no fim de boca, gente a confundir brancos com tintos. É a magia da noite.
Com jeito, a prova até pode ser no Cromeleque dos Almendres, perto de Évora, a completar a observação de estrelas guiada por Olga Miguel, a guia-intérprete que nos explica que o templo romano é simplesmente templo romano e não de Diana, que já teve paredes e foi mercado até ser ressuscitado na onda de amor às ruínas do século XIX, esse amor que colocou ruínas fingidas nos jardins do palácio de quando a família real passava aqui parte da vida para escapar à podridão da Lisboa portuária. A guia que nos conduz pela Évora menos óbvia, a de Gil Vicente e de Vasco da Gama, e nos mostra a múmia de mulher sem ADN local que descansa na Capela dos Ossos do Mosteiro de São Francisco – porventura “criada” de um lugar só de homens? -, ou a fonte das Portas de Moura onde as mulheres lavavam a roupa, ou a rua mais bonita da cidade, a do Cano, onde o aqueduto parece baixar ao chão. O passeio perfeito para abrir o apetite e seguir até casa de Sofia Vieira, ela também guia-intérprete, mas agora cozinheira-chefe do jantar que nos ensina a preparar na sua Portuguese Cooking School.
Lisboeta de berço, alentejana de coração, Sofia recuperou uma das antigas quintas que rodeiam Évora e que sempre forneceram a cidade. E fez dela o centro da sua ideia: uma sala de refeições com cozinha. Ou melhor, uma cozinha com sala de refeições. Instalada na antiga “cozinha das matanças” da casa, abre-se sobre o pomar e a horta de onde saem parte dos ingredientes que com amor amanhamos. A ideia, pode dizer-se, é culpa da chuva. Ainda ela tinha um hotel em Portel quando um verão de mau tempo a obrigou a criar diversão para os hóspedes. Resolveu cozinhar o Alentejo e mostrar-lhes como se faz. Ganhou fama.
Abre as hostilidades com um brinde com vinho alentejano. “É a primeira coisa a fazer.” Depois passeia-nos por cenouras em vinagrete, um legado islâmico, por linguiça de porco preto assada no álcool, legado portuguesíssimo, por migas vegetarianas com pão de ontem – “migar” é picar, sabiam? -, legado da cristianização, de quando os criados só podiam cozer pão uma vez por semana. Seguem-se legumes salteados e alguma carne e o magnífico bolo de requeijão. Estamos aviadas e prontas para nos perdermos a olhar para o céu.
GUIA DE VIAGEM
Rita Simão lembra-se de quando era universitária e se afundava na penumbra da taberna com os amigos a beber abafado. Como todos os estudantes. A Dona Isabel era a mestre da casa, uma taberna sem idade que nascera nas cavalariças da estalagem real, um edifício do século XV de fundos abobadados. Já seria Café Alentejo em 1900, uma casa de pasto. Acabou nas mãos de Rita, em 1999. Porque, admite, gosta de “estar à mesa” – “Tudo acontece à mesa”. É verdade. Pela nossa desfila a região, em estado puro, das sopas de conforto (a açorda de cação) às migas perfeitas e à carne de porco alentejano, dos enchidos à “sericá” ao torrão real e ao pudim de queijo de Serpa com laranja confitada. Do ambiente sereno aos vinhos com o nome dela, Rita Maria. “Aqui não há chefs, há cozinheiras, aprenderam com as avós.” E Rita aprendeu com elas e “muito com as pessoas que por cá passaram”. (Rua Raimundo, 5, Évora)
Ao cabo de uns minutos a atravessar vinhas sob o denso sol, as estrelas são outras. Michelin, duas, uma tradicional, outra verde. O restaurante da Herdade do Esporão, nas mãos do chef Carlos Teixeira, é o ex-líbris de um lugar que se faz de história e de vinho. Os limites da herdade datam de 1267, mas a dedicação à vinha é recente: foi decidida em 1973. Porque nasceu para fazer “vinhos de qualidade” no Alentejo. Nacionalizada após o 25 de Abril, a herdade demorou dez anos a ser recuperada na totalidade e só aí se fez a primeira vinificação. “Hoje a missão é fazer os melhores produtos que a Natureza proporciona”, explicam-nos na visita às adegas. Ao vinho juntou-se o azeite e a consciência com o ambiente. Há trilhos para quem queira percorrer gratuitamente as terras e a produção é orgânica, com controlo de pragas por sebes que atraem insetos predadores e ovelhas a tratar da limpeza dos solos. O processo arrancou em 2007 e foi certificado em 2019, e representa já 18% de toda a vinha orgânica do país. Com o olho piscado à arte, nos rótulos com assinatura de artistas, na cave de envelhecimento em barricas a 17 metros e em garrafas a 30 metros debaixo de terra e na Adega de Lagares onde pontuam, orgulhosas, as talhas de antanho, mas com a qualidade de hoje – o primeiro vinho de talha Esporão é de 2015. O Alqueva mudou as regras do terroir, porque mudou o clima, trouxe mais humidade e obrigou a adaptação. Sem dramas. (Reguengos de Monsaraz. Visita guiada com prova de vinho 18 euros por pessoa)
Alentejo Break
Centro Náutico de Moura. Passeio de caiaque noturno 46 euros/pessoa; 23 euros até aos 12 anos
Observatório Dark Sky Alqueva
Rua da Nossa Senhora da Conceição, 44, Cumeada, Reguengos de Monsaraz. Observação noturna: 30 euros/pessoa (maio a setembro); 10 euros dos 8 aos 12; gratuito até aos 7. Observação solar: 10 euros/pessoa, 5 euros dos 8 aos 12, gratuito até aos 7
Sem-Fim
Veleiro no Centro Náutico de Monsaraz. Passeios desde 10 euros/pessoa; pack com passeio, refeição no restaurante Sem-Fim e observação de estrelas, 70 euros/pessoa. Restaurante/museu na Rua das Flores 6A, Telheiro, Monsaraz
Fly Dreams Alentejo
Voo exclusivo de cerca de uma hora, até cinco pessoas: 950 euros. Voo livre: 195 euros por pessoa
Olaria Rui Patalim
Rua de Monsaraz, 12, São Pedro do Corval. Das 8h às 12h30 e das 13h30 às 17h. Não encerra (tel: 967 573 883 )
Louro Wines
Rua José Elias Garcia, 32, Évora. Tel.: 917 557 186. Das 10h às 19h, de domingo a sexta; a partir das 11h ao sábado
Guia-intérprete
Olga Miguel é guia-intérprete e conduz a observação do céu noturno no Cromeleque dos Almendres, em Évora. Tel: 915 015 600
Casa Saramago
Rua de Reguengos, 9A, 7200-181 Monsaraz Quarto duplo a partir de 80 euros
Monte da Estrela Country House & Spa
Monte da Estrela, Courela das Antas, Aldeia da Estrela, 7885-201, Moura
Quarto duplo a partir de 180 euros