No dia 9 de novembro cumprir-se-ão 35 anos sobre a queda do Muro de Berlim, uma construção inviolável que dividiu a cidade entre leste e Oeste e simbolizou a divisão da Europa e do Mundo em dois blocos.
São 35 anos. A data “não é espetacular”, porque não são 25, nem 50 anos. Mas é redonda quanto baste para ser extraordinariamente especial na “atual situação geopolítica”. Quem o diz não somos nós. É Carlo Carbone, da visitBerlin, que esteve em Portugal a apresentar as novidades que vão animar a capital da Alemanha nos próximos meses.
“Hoje há mais muros…” E isso obriga o Mundo, de que Berlim gosta de ser “a casa”, a olhar com atenção para esse percursor dos obstáculos à paz. A cidade preparou, por isso, uma comemoração como a das datas redondas, com uma instalação de cartazes a acompanhar aquele que era o curso do muro no centro, cujo maior marco é a porta de Brandemburgo. Neles, os berlinenses poderão deixar fotografias e memórias de um tempo ainda demasiado próximo para ser esquecido e que tem hoje no Palácio das Lágrimas a maior expressão emocional.
Tränenpalast foi o nome dado pelos berlinenses à estação de Friedrichstrasse, “um dos únicos pontos onde se podia fazer a passagem de leste para oeste, para as poucas pessoas, por exemplo idosos, que tinham autorização para visitas temporárias na Alemanha Ocidental. Era o lugar onde as famílias se despediam. E não era seguro que regressassem”, explica Carlo.
A seu lado, Christian Tänzler, porta-voz da visitBerlim, intercala o humor insuspeito de um berlinense com recordações da realidade daqueles dias. Filho de uma família dividida por um muro, lembra-se de o irmão levar um saco de cerejas do quintal para a família do lado oposto. À ordem de entregar a oferta dada pelos guardas, comeu-as todas, preferindo uma valente indisposição à anuência. E fala do pai, com o Peugeot novo em folha, a vê-lo desmontado integralmente na fronteira, por nada, porque um guarda assim entendeu e, no final, não encontrando nada, mandou-o seguir com o carro aos pedaços.
Estas pequenas histórias simples não carregam a dor das que estão nas paredes e no mobiliário do Museu Stasi, a antiga polícia da Alemanha de Leste, situado numa antiga prisão que albergava presos políticos e gente que tentava atravessar para a liberdade.
Tão pouco poderão ser comparadas às que escorrem do Memorial do Muro do Berlim que, na verdade era composto de “dois muros com uma área a meio, uma área de morte com minas antipessoais, com sistemas automáticos de disparo, com torres de controlo e a ordem subjacente de disparar se alguém tentasse atravessar”. O memorial, diz Carlo, “explica muito bem toda esta construção e as dificuldades de vida das pessoas que moravam ao lado do muro”.
Estes são exemplos do muito que há para ver para lá da East Side Gallery com as suas mundialmente famosas pinturas, entre elas a do beijo entre Leonid Brejnev e o russo Leonid Brejnev e o alemão de leste Erich Honecker. Ou a do Trabant a rebentar uma parede. Há muito mais do passado inesquecível para lá do Checkpoint Charlie, uma das passagens entre este e oeste controladas pelos aliados.

Há toda uma cidade que se quer “da liberdade”, que cresceu fruto da sua história, que acolheu de um lado, os jovens que fugiam à tropa do outro, que tomou conta de um aeroporto muito particular (Templehof, usado pelos aliados para abastecer a Berlim ocidental) e fez dele um parque para gastar dias em família. Uma cidade com uma atmosfera única, com “mais museus do que dias de chuva”.
Os maiores concentram-se na Ilha dos Museus, que assinala em 2025 os 200 da sua construção, que começou em 1825 com o Museu Antigo, um palácio original por ser concebido para ser museu. Neste pedaço que é património Mundial, há cinco museus, entre eles o mais recente Fórum Humboldt, no Palácio de Berlim, que já foi parlamento e estava fechado desde a reunificação. Outra curiosidade da Ilha dos Museus: por baixo da Catedral de Berlim está o maior e mais importante cemitério dinástico da Alemanha e vai reabrir, modernizado, no outono de 2025.

Depois, há todos os outros museus berlinenses. Enunciá-los seria exaustivo, pelo que apontaremos o C/O Berlin, uma das galerias fotográficas mais importantes da Europa que assinala 25 anos e onde se pode já descobrir o que sucedeu à cidade no pós-muro, na exposição “Dream on – Berlin, the 90s”. E chamamos a atenção também para o Fotografiska, o espaço da arte emergente e da gastronomia.
A gastronomia é outro dos atrativos que a visitBerlin veio a Portugal divulgar. A cidade soma hoje 21 restaurantes estrelados e um total de 28 estrelas, muitas delas em lugares simples onde o estilo casual é bem-vindo.
“Há dez anos, Berlim era um deserto culinário”, admite Christian. Hoje Há estrelas mais baratas do que em qualquer capital, há restaurantes desperdício zero, há comida das 189 nações que vivem na capital alemã, há mesas num antigo presídio (Lovis), há-as também em fábricas desativadas e há uma profusão de chefs porque em Berlim há “liberdade para tentar”. Até a aniversariante e icónica Torre de Televisão (55 anos em 2025), símbolo da Berlim governada pela República Democrática Alemã, vai acolher o estreladíssimo Tim Raue.
Isto para não falar dos mais de 60 mercados de Natal. Mas esses já nem precisam de ser anunciados ao turismo.
Pode ler mais sobre Berlim na edição de outubro da revista Volta ao Mundo, disponível em banca ou aqui.