Cantábria, San Vicente de la Barquera, praia de Merón (Foto: Noe Baranda / Espanha Verde)

Conjunto de Hórreos de Espinaréu, nas Astúrias (foto: Noe Baranda / Espanha Verde)

Plaza del Obradoiro, o fim do Caminho de Santiago, na Galiza (Foto: Noe Baranda /Espanha Verde)

Mercado de Bretxa, no País Basco (Foto: Noe Baranda /Espanha Verde)

Vinhedos de Samaniego, na serra Cantábrica, País Basco (Foto: Noe Baranda /Espanha Verde)

Peregrinas em Santillana del Mar, na Cantábria (Foto: Noe Baranda /Espanha Verde)

O norte de Espanha uniu-se numa marca comum para se promover turisticamente junto de públicos estrangeiros. Esta quinta-feira, esteve no Porto, deixando no ar uma comunhão de interesses com o norte de Portugal. E trouxe uma novidade: o Basque Culinary Center, um dos maiores centros mundiais de formação em alta cozinha, vai abrir portas na Invicta.

“Norte Diem” foi o slogan escolhido pela marca turística Espanha Verde para se apresentar ao público português. Criada há 35 anos, é uma assinatura do Turismo de Espanha para representar as quatro comunidades autónomas do norte de Espanha, Galiza, Astúrias, Cantábria e País Basco.

São regiões unidas por vários traços comuns: vales férteis e montanhas a descer até ao mar num território “esculpido pela chuva e pelo mar”, um modo de vida e uma gastronomia ancoradas nas paisagens, uma cultura enraizada nas tradições a que não faltam línguas próprias, crenças religiosas, mitos e lendas, e um população que vive a paisagem como parte de si própria.

Promover este património humano, natural, arquitetónico, histórico-artístico e gastronómico numa experiência turística regional é o objetivo da Espanha Verde, que no ano passado acolheu 17 milhões de visitantes.

E se os portugueses são o principal mercado turístico da Galiza (44%), mormente devido à proximidade geográfica e cultural, já são apenas o terceiro nas Astúrias e, indo mais para leste, representam uns escassos 3,5% das visitas à Cantábria e ao País Basco.

“O mercado português é muito importante para nós, não apenas pela proximidade geográfica, mas também pela afinidade cultural que temos em comum”, diz Xosé Manuel Merelles, diretor da Agência de Turismo da Galiza, região que assume a coordenação das ações promocionais da Espanha Verde em 2024.

A região promove-se também pelo turismo sustentável alternativo, apresentando propostas de descoberta em comunhão com a Natureza.

A Grande Rota da Espanha Verde será uma das mais aliciantes: mais de 2500 Km ao
longo do Mar Cantábrico e do Oceano Atlântico, da fronteira com França às portas de
Santiago de Compostela, através de “paisagens únicas, praias solitárias e selvagens, estradas inesquecíveis, parques e reservas naturais, aldeias encantadoras e tesouros protegidos pela UNESCO com um grande denominador comum: uma
gastronomia local mundialmente famosa” regada por vinhos únicos.

O percurso em 16 etapas quase sempre paralelo ao mar passa por lugares emblemáticos como a cidade de Donostia-San Sebastián, o Museu Guggenheim de Bilbau, as adegas de Rioja Alavesa, a baía de Santander, as grutas de Altamira, os Picos da Europa, Oviedo, as aldeias piscatórias do Mar Cantábrico (Getaria, San Vicente de la Barquera, Cudillero, Combarro), as Rias Galegas e cidades históricas como Santiago de Compostela.

O Caminho de Santiago do Norte é, de resto, um dos produtos turísticos mais marcantes da região, que se junta ao desporto (surf, golfe, montanhismo) e ao recém-criado Corredor Ecoturístico Espanha Verde, que está em passe de se tornar o maior corredor ecoturístico da Europa. Integra 30 espaços naturais protegidos e cerca de 350 empresas turísticas das quatro comunidades focados no respeito pela Natureza e pela sua preservação.

Com grutas com arte pré-histórica declarada Património da Humanidade pela UNESCO, 42 espaços naturais protegidos, mais de 30 vias verdes exclusivas a peões e a ciclistas e a aposta no conceito “slow sleep” (alojamento no meio da Natureza), o território Espanha Verde vive também pela experiência enogastronómica: as quatro comunidades somam 56 restaurantes galardoados com Estrelas Michelin e o País Basco alberga o Basque Culinary Center.

A instituição pioneira a nível mundial foi criada pela Universidade Mondragon e chefs da região e visa a educação superior centrada na gastronomia e nutrição. Engloba uma Faculdade de Ciências Gastronómicas e um Centro de Pesquisa e Inovação.

E aí está a novidade: presente no evento de apresentação, o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, anunciou a instalação da primeira escola de alta cozinha portuguesa no Porto, numa parceria com o Basque Culinary Center. Para evitar que os portugueses que queiram evoluir no mundo da gastronomia tenham de ir procurar fora do país. “Nós tentamos ter sempre a gastronomia como bandeira, mas falta ainda muito investimento”, justificou, anunciando um financiamento do programa regional 20-30 e o arranque nos próximos meses.

A parceria entre o Norte de Portugal e a instituição basca soma-se a um conjunto de projetos partilhados com a Galiza, com que forma uma euroregião. “Temos muito em comum, muito mais do que aquilo que os outros mercados conhecem. É um storytelling que juntos queremos contar”, disse Luís Pedro Martins.

Entre os projetos comuns estão o Visit Rio Minho. Um rio dois países, a reserva da biosfera transfronteiriça Gerês-Xurês, e o primeiro cluster de turismo de uma euroregião, ainda em construção mas já com financiamento, para promoção conjunta da Galiza e do Norte de Portugal em mercados internacionais de longa distancia. “Queremos explorar outras oportunidades com as Astúrias, a Cantábria e o País Basco.”

A partilha começou mesmo no evento de apresentação da Espanha Verde, que incluiu uma experiência sensorial de gastronomia das quatro comunidades. O chef basco Iñigo Lavado apresentou um prato por cada território, numa viagem artístico-gastronómica pelo ingredientes de cada lugar.

Da Cantábria trouxe tomate e criou um pastel em forma de tomate recheado de uma mousse de peixe escorpião, servido com sidra das Astúrias. Da Galiza veio uma vieira, homenagem à costa e ao Caminho de Santiago, a repousar num creme de couve flor e vinagre de Ribeiro, regado com um txakoli do País Basco, região que seria servida a seguir, em forma de Santola acompanhada de um nevoeiro com absoluto cheiro a mar. Um branco da Cantábria aromático com pronunciados tons de madeira faria as honras do prato. Às Astúrias caberia o prato de carne apresentado com defumação de alecrim, remetendo-nos para uma perfeita lareira de aldeia. O tinto seria galego, da Ribeira Sacra. Depois das quatro sobremesas regadas a licor, chegaria Portugal, em estado líquido, num copo de Porto.

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