A capital britânica é um clássico das viagens na Europa. É dos destinos mais procurados no continente europeu e, ainda que seja quase um cliché, é uma responsabilidade parental mostrá-lo aos mais novos. Mas se pensa em tirar uns dias descansados para mostrar a cidade a uma criança de cinco anos, mais vale repensar. Quando chegar ao final da viagem, vai precisar de mais uns dias para recuperar dos quilómetros andados.
Primeiro desafio: a escolha da localização do hotel. A rede de transportes da capital britânica é incrível e, se não houver uma estação de metro por perto, há sempre uma linha de autocarro, mas são horas adicionais de viagem ao fim de uns dias.
Ainda que seja cansativo entrar e sair de transportes públicos com ligações distantes, com uma criança a própria viagem pode tornar-se um motivo de interesse. Ir no andar de cima de um autocarro “double decker” é uma experiência que deixa os miúdos excitados e prontos a abraçar a aventura de conhecer a cidade lá de cima. O mesmo se pode dizer do emaranhado de túneis e escadas rolantes para chegar ao metro. Se o seu filho não estiver disponível para caminhar muito, um carrinho é um acessório indispensável, a menos que haja alguém disposto a carregá-lo às cavalitas horas a fio. Experimentei: não recomendo.
Agora, estamos prontos para abraçar Londres. E se ver a “Elizabeth Tower”, a que comummente se chama “Big Ben” (o nome do sino da torre do relógio), já não o faz sentir aquele formigueiro no estômago, o espanto na cara dos mais pequenos é impagável. Já o viram nos filmes ou desenhos animados do Paddington e encontrar a imponente torre cara a cara e ouvir o sino de ferro a dar a horas fará parte da lista de memórias com que vão ficar da cidade. E, já que ali está, suba a Birdcage Walk em direção a Buckingham e entre no parque de St. James. Um momento para descansar as pernas e criar mais uma memória: brincar com os esquilos.

Se os vermelhos, nativos da região, escasseiam, não faltam cinzentos à procura de turistas que lhes possam dar comida e tirar fotografias. Se não tiver cuidado, vai acabar com um agarrado à perna, para gáudio dos mais novos. Mas não se esqueça de que são animais selvagens e não devem ser agarrados. Fazer ali um piquenique é sempre uma boa ideia, se a meteorologia permitir.
Mais acima, um outro clássico. O Palácio de Buckingham, com os característicos guardas de farda vermelha e chapéu de pele de urso do Canadá. Vê-los parados ou a passar em formação rígida impressiona e, se for às cavalariças reais, em Whitehall, logo acima de Downing Street, pode sempre tentar posar perto de um deles. Aproxime-se demasiado do militar imóvel e os mais novos terão mais uma memória da viagem. Esteja a postos com o telemóvel a filmar.
Para melhor gerir o cansaço de miúdos e graúdos, opte por descer até ao rio Tamisa e, em Embankment, apanhar um barco para dar uma volta pela cidade a apreciar as pontes e a paisagem que cada vez mais se enche de arranha-céus. Animação garantida e um banco para esticar as pernas. À entrada ou saída do minicruzeiro, mais um jardim pode ajudar a salvar o dia: os Victoria Embankment Gardens são um espaço verde, com parque infantil, onde é possível estender uma toalha na relva e relaxar um pouco. Há um restaurante e casas de banho públicas, algo a ter em conta quando se está fora de casa com os mais novos. Porque em Londres não é garantido que todos os cafés tenham um WC para clientes, como acontece no nosso país. Se lhe apetecer abrir os cordões à bolsa, tem ali o Hotel Savoy à mão e um restaurante de Gordon Ramsay para experimentar.
Sem sair da zona, há outros pontos de interesse. Em redor de Covent Garden, encontra lojas e restaurantes a rodos. Roupa, tecnologia, sapatilhas, arte. Tudo se vende. Estamos no West End, há imensas opções de atividades e até os mais novos podem ver o musical da Frozen, no Theatre Royal Drury Lane. Aproveite para comer umas fish and chips no Rock and Sole Plaice (trocadilho com três tipos de peixe), em Endell Street, que serve o tradicional prato desde 1871, a acreditar na publicidade.

Museus para todos os gostos
Mesmo junto ao mercado de Covent Garden, o Museu dos Transportes de Londres não seria à partida algo excitante para fazer numa cidade com tanto para ver. Nada mais errado. São horas de diversão didáticas entre carruagens puxadas a cavalo, autocarros clássicos e história da construção da rede de metro. Tudo montado de forma a manter as crianças interessadas e com áreas para brincar.
Numa das zonas da visita, um simulador de condução do metro permite sete minutos de alta concentração na tarefa de transportar passageiros e resolver pequenas avarias das composições da Bombardier. Desengane-se quem pensar que este espaço é apenas de diversão e marketing dos transportes londrinos. Até o racismo sofrido pela geração de caribenhos que chegaram ao Reino Unido para ajudar na reconstrução do pós-guerra tem o seu espaço. Vale a pena investir umas horas. Infelizmente, este não é um dos mais de 20 museus de entrada livre da cidade.
Entre os gratuitos estão o Museu Britânico, com destaque para a ala egípcia, e o Museu da Ciência, projetado de forma a manter os mais novos interessados nas experiências. Interatividade é o segredo. Para as crianças que gostam de animais, o zoo de Londres tem um borboletário que pode valer a visita, ainda que mais longe do centro, e o Museu de História Natural será sempre uma opção válida, seja pela vasta coleção de espécimes recolhidos em expedições de exploradores ou pela beleza do edifício.
As ossadas de baleia no átrio principal e o modelo à escala de uma baleia azul impressionam, apesar de se notar que é um museu a precisar de atualização. No exterior do edifício principal, há um espaço munido de microscópios para que “os pequenos ornitólogos” observem diferentes tipos de penas e possam desenhar pássaros à vista. Curto, para uma instituição com este peso histórico.

Agitação na rua e mercados
“Londres tem música?”, perguntou-me o meu pequeno guia de cinco anos, depois de termos passado uma boa parte de um dia na zona de Camden, meca da música inglesa e do punk em particular. Explicar-lhe quem são os The Clash não é fácil, mas pô-lo a ouvir “London Calling” e “London’s Burning” (nestas idades, ser literal facilita) chegou para ele perceber que sim. Mais difícil foi explicar-lhe que aquele mercado onde estivemos e onde ele viu roupas estranhas, gente diferente e muitas bancas com merchandising foi fundamental para a história da música global.
Ainda assim, merece que se leve lá os mais novos. A história que se fez naquela zona justifica passar pelos constantes sustos de estar com uma criança em zonas tão apertadas e cheias de gente, porque se há 40 anos ali estavam artistas, criativos e alternativos, hoje estão milhares de turistas que, mesmo sem o querer, alteraram o ambiente. Se o turbilhão for demasiado, duas ruas para o lado já tudo acalmou; pode aproveitar para sentar-se numa pacata zona residencial a ver o comboio a passar, enquanto o ritmo cardíaco baixa.
Se tiver de fazer alguma refeição por aqui, há opções a tomar, tendo em conta o nível de aventureirismo. Pode optar por clássicos como tostas de queijo ou cachorros-quentes, comprados numa banquinha e comidos em pequenas cabinas transparentes espalhadas pela zona, ou então arriscar em comida de rua de outras paragens. Do Patog, chegam-nos os sabores da Pérsia, e do Two Lads Kitchen um cheirinho do que se come no Afeganistão.

Londres está cheia de coisas para fazer e, muitas vezes, basta andar na rua para observar o que de diferente existe na capital britânica (percorra as centenas de banquinhas de Portobello Road, por exemplo). Mas, se precisar de mais sugestões, há sempre espaços como o museu de imagens de cera Madame Tussaud e os estúdios onde algumas cenas dos filmes Harry Potter foram gravadas. Lá pode ver como foram filmadas as cenas de voo com vassoura, percorrer a rua Diagon Al ou passear pelo grande salão de Hogwarts.
Quando precisar de um reforço de energia e esquecer a dieta, passe na loja da M&M’s. Os doces são iguais aos que se podem encontrar em vários cantos do Mundo, mas não é todos os dias que podemos abrir uma torneira e encher o saco com as drageias coloridas.
No final da viagem, as pernas vão doer e vai estar mais cansado do que quando começou, mas Londres vale sempre a pena. E da próxima vez haverá certamente outras zonas a visitar. O meu pequeno guia já perguntou quando voltamos.