Protagonista global em novembro, por comemoração da queda do Muro, Berlim vai continuar nas bocas do mundo devido à celebração da reunificação alemã.

Texto de Teresa Frederico
Fotografias Direitos Reservados

Reportagem publicada originalmente na edição de fevereiro de 2015, número 244, durante o ano de comemoração do 25º aniversário da queda do Muro de Berlim.

O Palácio das Lágrimas é um dos lugares de visita obrigatória se se quiser saber mais sobre esses tempos. Há quem recorde a emoção dos alemães orientais quando se depararam com a imensa oferta alimentar do KaDeWe, espaço comercial a fazer lembrar o El Corte Inglés, ainda hoje ícone do shopping berlinense. Outros reproduzem o que ouviram sobre o reencontro das famílias, o «novo mundo», a incerteza e a esperança.

Um quarto de século passado, o tempo cumpriu a sua missão apaziguadora. Gerações mais antigas conseguem reconhecer quem veio de Leste, mas a faixa etária até aos 35 anos não faz distinção. E a maioria dos berlinenses tem dificuldade em identificar, excetuando os lugares óbvios, onde se situava exatamente o Muro.

Da reunificação ficou a multiplicação: a capital possui vários centros – Alexanderplatz, Potsdamer Platz, Kurfürstendamm – e, por exemplo, dois jardins zoológicos, o Tierpark e o zoo vizinho a Bikini, uma recente e interessante área onde se situam o 25 Hours Hotel e o Bikini Berlin. Trata-se, respetivamente, de uma unidade hoteleira e de um espaço comercial original, onde a lojas conceituadas, mas não banalizadas, se juntam pop-up stores de criadores emergentes, além de um espaço de exposições que conta a história do edifício, construído a partir de 1955 e um dos símbolos da reconstrução pós-guerra. Tal como os biquínis, tinha parte de cima e parte de baixo, com um piso vazio no meio. Uma enorme vidraça permite espreitar as tropelias dos macacos do zoo, também observáveis do hotel, juntamente com outros bichos.

Vale a pena visitar a Bernauer Strasse para (re)ver o Muro original – o da East Side Gallery foi pintado posteriormente – e a nova mostra permanente do renovado centro de documentação. Tal como as incontornáveis Portas de Brademburgo, que em tempos dividiram a cidade mas passaram a ser o símbolo da unidade nacional. São o palco escolhido para os grandes eventos: os 25 anos da queda do Muro foram aqui celebrados, com a presença de Mikhail Gorbachev, Lech Walesa e outros ilustres convidados.

No ano em que se revive a história recente da cidade que é considerada uma das capitais culturais da Europa, traçamos-lhe um roteiro que combina «velhos conhecidos» com novidades fresquinhas. Ora tome lá nota.

Mais memorial

Na Bernauer Strasse, além do Muro original, existia um centro de visitantes e o memorial dedicado às vítimas. Desde novembro há um centro de documentação cuja mostra permanente inclui vídeos impressionantes, informação sobre os métodos de fuga, as pessoas que sucumbiram e as que sobreviveram, que nem todas as histórias tiveram finais infelizes. Um registo sonoro evoca os que, de picareta na mão, partiram o Muro em pedaços para vender como souvenir.

>> berliner-mauer-gedenkstaette.de

Viagem no tempo

O Checkpoint Charlie é um marco, claro, mas este é uma pobre imitação: a casa dos guardas, que serve de decór para fotos com «atores» a fazer de soldados, a troco de uns euros, nem sequer era assim. Salva-se a célebre placa «You are entering the American Sector». Não se perde a viagem: mesmo ao lado fica a Black Box, pavilhão expositivo sobre esta fronteira mas que a contextualiza, traçando a história da Guerra Fria. Fotos, documentos e um elucidativo filme transportam o visitante no tempo. Vai ser transformado em museu ainda este ano.

>> bfgg.de

Da fronteira à prisão

O Tränenpalast, ou Palácio das Lágrimas, erguido em 1962 na estação de Friedrichstrasse, foi ponto de passagem entre o Este e o Oeste e hoje dá a conhecer o complicado processo, burocrático e psicológico, que era atravessar esta fronteira. Rostos fechados são os que se encontram na visita à antiga prisão da Stasi, a polícia secreta da RDA, a meia hora da Alexanderplatz. Não é fácil percorrer as celas, saber sobre as técnicas para obter confissões e outros factos que ninguém quereria conhecer – mas a visita vale mesmo a pena. Há coisas que convém não esquecer.

>> hdg.de
>> stiftung-hsh.de

Parlamento com vista

O Reichstag é outro dos lugares a visitar pela história, pela cúpula, pela imensa vista. A construção remonta a 1884, ardeu em 1933 e foi destruída na II Guerra Mundial. Obra de Norman Foster, a cúpula ficou concluída em 1999, ano em que o edifício passou a acolher o Parlamento. Para aceder a este vasto miradouro é necessário fazer reserva e passar a segurança, mais apertada do que em alguns aeroportos. Reservar mesa no restaurante Käfer, lá no alto, permite ultrapassar as longas filas (Tel.: +49 3022629933; pratos entre 16€ e 25€).

>> bundestag.de

Bom dia, elefantes!

O recente 25 Hours Hotel Bikini Berlin homenageia o jardim zoológico, que se pode espreitar de quase todo o lado, casas de banho dos espaços públicos inclusive. Cheio de plantas, colorido e de ambiente descontraído, possui 149 quartos (a partir de 120€ por noite), cerca de metade com vista para os macacos e, quando as árvores estão desfolhadas, para os elefantes. Da decoração fazem parte bicicletas de uso gratuito durante a estada. O mesmo acontece com um Mini Cooper, diariamente atribuído ao primeiro hóspede que o requisite.

>> 25hours-hotels.com

A nova Amerika Haus

Conhecida por expor trabalhos de grandes nomes da fotografia, como Robert Mapplethorpe ou Annie Leibovitz, a Fundação C/O Berlin tem nova casa: a Amerika Haus, edifício da década de 1950 onde funcionou um centro cultural americano. Até abril apresenta uma mostra em torno do filme de Michelangelo Antonioni Blow Up, entre outras exposições. Possui livraria e um agradável café que serve refeições ligeiras.

>> co-berlin.org

Mais artes

A Fundação Helmut Newton, fotógrafo famoso pelos seus trabalhos para a revista Vogue e pelos nus femininos, apresenta Permanent Loan Selection, com 200 fotos aqui expostas pela primeira vez. Especial é a visita (só com reserva) à Boros Collection: um bunker construído em 1942 e que acolhe arte contemporânea, incluindo obras de Olafur Eliasson ou Ai Weiwei.

>> helmut-newton.com
>> sammlung-boros.de

Múltiplos sabores

Comer no Neni do 25 Hours Hotel é uma boa opção pela apetitosa mistura de sabores mediterrânicos, israelitas e árabes (15€ sem bebidas). A refeição dá acesso ao bar Monkey, permitindo contornar as longas filas. Perto, o elegante Diekmann combina as gastronomias alemã e francesa de forma bastante agradável (desde 25€). À beira do rio Spree, do lado oposto à East Side Gallery, o Rio Grande associa sabores austríacos e alemães (pratos a 20€, em média). Para provar salsichas e outros petiscos da Bavária, a cervejaria Maximiliams, na Friedrichstrasse, é uma agradável alternativa (15€ com cerveja).

>> 25hours-hotels.com
>> diekmann-restaurants.de
>> riogrande-berlin.de
>> maximilians-berlin.de

Como ir

A TAP tem voos diretos para Schönefeld (desde 134€). Chegar ao centro custa 7,2€, preço do bilhete diário para os transportes públicos da Grande Berlim, ou 40€ de táxi.

Mais informações

>> visitberlin.de


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