Tesouros da Hungria vistos pela embaixadora em Portugal Klára Breuer.

Texto de Leonídio Paulo Ferreira

Mala diplomática publicada na edição de novembro de 2018 da revista Volta ao Mundo, número 289.

Existe desde meados dos anos 1960 em Portugal o Calvário Húngaro em Fátima, que a embaixadora Klára Breuer destaca como «um dos tesouros culturais escondidos da Hungria». Nascido da iniciativa de padres exilados na sequência da tomada do poder pelos comunistas em Budapeste a seguir à Segunda Guerra Mundial, obteve o acordo das autoridades eclesiásticas portuguesas e tornou-se «o principal ponto de ligação entre os dois países», sublinha a diplomata.

Foram muitas as doações da diáspora para a construção do Calvário em Fátima a partir de 1956, acentuadas depois da repressão soviética contra a revolta húngara de outubro desse mesmo ano. Conta a embaixadora que a construção terminou em 1964, dando expressão «ao desejo e à esperança numa vida normal e em paz» partilhados pelos húngaros dentro e fora do país. Hoje é local de peregrinação quase obrigatório para os húngaros que visitam Portugal.

A embaixadora Klára Breuer confessa carinho especial pelo Alentejo. [Fotografia: João Silva/GI]

Nação antiquíssima, a Hungria data a sua fundação como Estado da coroação do futuro Santo Estêvão no ano 1000. Cristão devoto, consagrou a Hungria à Virgem Maria. E por isso não é de surpreender que a Capela de Santo Estêvão encabece em Fátima a Via-Sacra, tendo as catorze estações originais passado entretanto a quinze porque, como explica Klára Breuer, «já depois das mudanças democráticas uma pequena cidade, Lajosmizse, a ofereceu como dádiva de agradecimento pelo fim pacífico do sistema soviético na nossa parte do mundo». Finda a ocupação pela Alemanha nazi (da qual fora até aliada) e após décadas de submissão à União Soviética, a Hungria assumia o controlo do seu destino, tendo-se integrado na NATO e na União Europeia.

«Se não tivesse havido uma mudança no sistema em 1990, eu hoje não seria diplomata – assim, para mim, o meu novo trabalho está muito fortemente ligado a um país que mudou», sublinha Klára Breuer, nascida em Pécs em 1962, que foi professora antes de a democracia regressar. E como diplomata tem-se esforçado por estreitar os laços entre Portugal e a Hungria, com iniciativas como o Festival Terras sem Sombra, que neste ano tem posto a cultura dos magiares a afirmar-se no Alentejo e o Alentejo a brilhar na Hungria.

Casada e com um filho adolescente, Klára Breuer faz ainda questão de destacar em todo o processo do Calvário o padre Luís Kondor, húngaro que chegou jovem a Portugal e encontrou aqui uma segunda pátria. Hoje tem uma estátua no centro de Fátima, colocada depois de a embaixadora ter assumido funções em Lisboa em 2014.

Cada vez com maior conhecimento do português, que usa pontualmente nos discursos Klára Breuer confessa ainda que nestes quatro anos em Portugal ganhou «um carinho especial pelo Alentejo».

Imagem de destaque: Santuário de Fátima, um dos pontos de ligação com a Hungria © Nuno Trigo/GI