Buenos Aires: «Tem recantos de Paris, Roma, Madrid ou Nova Iorque e é isso que a faz única»

Oscar Moscariello, embaixador da Argentina em Portugal.

Texto de Leonídio Paulo Ferreira

Artigo publicado originalmente na edição de setembro de 2019 da revista Volta ao Mundo, número 299.

«Quando me perguntam se Buenos Aires é uma cidade sul-americana ou uma cidade europeia, respondo que é uma cidade argentina e por isso da América do Sul. Mas também pode ser uma cidade da Europa, porque tem recantos de Paris, recantos de Madrid, recantos de Roma, até tem recantos de Nova Iorque, na América do Norte. É parecida com todas elas e é isso que a faz única. Porque na realidade Buenos Aires é Buenos Aires», diz Oscar Moscariello, embaixador argentino em Lisboa.

Para o diplomata, aquilo que distingue Buenos Aires é, por exemplo, o Teatro Colón. «Eu diria que o Teatro Colón é um dos teatros líricos mais importantes do mundo. Reconhecido por todos os artistas, que nele desejam atuar.» Não esquece também de destacar o bairro de La Boca, «paradigmático para todos aqueles que chegam a Buenos Aires em busca dos traços dos familiares que vieram nos barcos». Acrescenta Oscar Moscariello, descendente de italianos, que «naquele bairro de La Boca existe um recanto que não só tem um clube de futebol famoso em todo o mundo, o Boca Juniors, como expressa essa nostalgia dos tempos em que se iniciava nova vida no novo mundo. Ali estão os hotéis dos imigrantes, num bairro pobre que deu origem a uma paleta de artistas, como Quinquela Martín, um grande pintor da Argentina».

Nascido em 1952 em Arroyo Seco, na província de Santa Fé, Oscar Moscariello diz ter sido adotado por Buenos Aires, onde foi um destacado político: «Fiz a minha vida ali, cresci ali, profissionalmente e também com a paixão que me desperta este clube que segui durante toda a minha vida. Buenos Aires é um local símbolo da cultura argentina. Buenos Aires é o fervor das livrarias, dos círculos literários. É uma metrópole que sempre teve um atrativo especial para artistas e intelectuais e foi inspiradora de grandes escritores como Jorge Luis Borges, Macedonio Fernández ou Julio Cortázar.»

O embaixador, amigo pessoal do presidente Mauricio Macri, que foi presidente do Boca Juniors quando Oscar Moscariello era também dirigente, sublinha ainda que «em Buenos Aires o tango sempre está presente. O tango que é para os argentinos como o fado para os portugueses. E tem essa influência, como tem das cançonetas napolitanas também, porque fala da saudade, do amor perdido, das mães, fala de tudo. E o tango soube crescer no rio da Prata, sendo hoje Património Imaterial da Humanidade».