O embaixador Ioannis A. Metaxas relembra que só com a devolução pelos britânicos dos mármores que estão em Londres o Pártenon ficará completo.
Por Leonídio Paulo Ferreira
Mala diplomática publicada na edição de janeiro de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 303.
«Cresci no bairro de Plaka, em Atenas. De cada vez que abria a janela, via a Acrópole. E recordo-me de a visitar ainda criança», diz Ioannis A. Metaxas, embaixador da Grécia em Portugal. A conversa é em português, que o embaixador fala bem (é casado com uma portuguesa). E percebe-se que se trata de um apaixonado pela história, consciente da influência que a civilização grega tem até hoje. Não tem dúvidas de que a Acrópole é o maior símbolo da Grécia, mas considera que as ruínas no topo da colina e a cidade não podem ser dissociadas.
«É um monumento ligado à história de Atenas, desde a antiguidade. Sabemos que houve presença humana naquela colina desde o século XII a.C. Houve um templo inicial, mas aquele que conhecemos foi mandado construir depois da invasão da Grécia pelos persas. Foi uma decisão do general Péricles, o governante supremo, eleito a cada ano. O seu nome ficou associado ao Século de Ouro, o século V a.C. Naquela época Atenas não era só uma cidade com uma periferia, era a capital de um império de colónias, dependências e aliados. Com toda essa riqueza que o comércio permitia acumular, Péricles recorreu a arquitetos como Ictinos e Calícrates e escultores como Fídias para reconstruir a Acrópole», explica Ioannis A. Metaxas.
Hoje, o Museu da Acrópole, aberto em 2009, acolhe os objetos de mármore mais preciosos, para evitar danos pelas condições atmosféricas. Mas o embaixador relembra que a coleção não estará completa enquanto faltarem os Mármores do Pártenon, que estão no Museu Britânico, em Londres. «Nunca foi mostrado o édito que dizem ter a autorização do sultão para levar os frisos do Pártenon. Existe um documento mas a autorizar só a deslocação do embaixador britânico de Constantinopla até Atenas. O sultão era turco, mas nunca destruiu nada na Acrópole, a destruição foi causada por um cerco veneziano no século XVII. E além disso a administração otomana tinha gregos. Nunca autorizariam a retirada dos mármores», garante o embaixador, formado em Direito e diplomata desde 1983. Foi na última década embaixador no Azerbaijão e no Qatar e diretor-geral para os Assuntos Europeus.
Foi a atriz Melina Mercouri, ministra da Cultura nos anos 1980, quem exigiu primeiro os mármores levados por Lord Elgin. Na época, os britânicos argumentaram que não havia condições de preservação em Atenas, mas hoje, destaca o embaixador, «o Museu da Acrópole resolveu isso e o argumento britânico mudou para a vantagem de num museu como o de Londres as várias civilizações estarem em diálogo». Ioannis A. Metaxas está agora na expetactiva sobre a resposta britânica a participar numa exposição em 2021 na Grécia por ocasião dos 200 anos do início da Guerra da Independência grega. «A França já disse que sim, com o presidente Emmanuel Macron a dar resposta positiva ao primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis sobre o empréstimo de peças do Louvre», salienta.
Imagem de destaque: iStock/D.R
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