Depois da Segunda Guerra Mundial, 50 médicos alemães renderam-se às qualidades terapêuticas das areias do Porto Santo. Numa decisão ainda hoje envolta em algum mistério, construíram na primeira linha de praia um espaço que pudesse receber visitantes de todo o mundo. Assim nasceu o Vila Baleira, o hotel que leva o nome da mais importante localidade desta ilha do arquipélago da Madeira. Hoje, depois de algumas mudanças de mão, faz parte do grupo Ferpinta, mas nunca como antes a sua vocação de bem-estar esteve tão presente. Afinal, é ali que se localiza o maior centro de talassoterapia de Portugal. Mas já lá vamos.

Comece-se pelo início, pelas duas formas de chegar ao Porto Santo – pelo ar ou pelo mar. A avioneta foi o meio de transporte escolhido, mas poderia ter sido um avião de maior porte, para isso bastava estar atento às ligações entre Lisboa e a ilha, que prometem ser mais regulares já no início de 2016. É fácil perceber a razão de os povos do Norte para aqui voarem cada vez mais: os invernos rigorosos europeus nada têm que ver com o badalado clima ameno deste arquipélago português ao longo de todo o ano. Poderia também ter-se optado pela travessia desde o Funchal (aproximada-mente 45 milhas náuticas, duas horas e meia de duração) a bordo do ferryboat Lobo do Mar. Um veleiro e um grupo de amigos seria igualmente boa opção e basta olhar para o porto de abrigo do Porto Santo para perceber que já alguém – muita gente – teve ideia igual.

Aqui está instalado o maior centro de talassoterapia nacional. Tem 3500 m² de área e tratamentos variados.

Ao contrário do que acontece nos paraísos caribenhos ou brasileiros, o transporte do aeroporto internacional para a unidade hoteleira não é um martírio pós-voo. Aliás, a própria ligação aérea quase não se sente – hora e meia de Lisboa ao Funchal e mais 20 minutos na pequena aeronave. O caminho até ao hotel faz-se em cinco minutos e do ar já se antevia a facilidade de movimentos na ilha: 11 quilómetros de comprimento para seis de largura, assim é o Porto Santo, porção de terra com cinco mil residentes e que guarda as memórias de Cristóvão Colombo, que aqui terá vivido com a sua mulher, filha do primeiro capitão donatário da ilha, Bartolomeu Perestrelo.

Leva, pois, dois dedos de conversa o contacto inicial com a primeira ilha do arquipélago a ser povoada até se chegar à porta do Vila Baleira Resort – Porto Santo Thalassa & Spa. Bruno Martins é o diretor e já vem de sorriso rasgado receber os visitantes. Estes e também os outros. Ultimamente não tem tido mãos a medir. Com a decisão pioneira de ter porta aberta durante a maior parte do inverno (encerra apenas nas duas primeiras semanas de janeiro), está a sentir na pele o aumento da procura e do interesse numa ilha que nem sempre tem sido bem tratada quanto à divulgação turística – conclusão nossa, não dele. É aquilo de estar na sombra do irmão mais forte, neste caso a irmã, a sempre badalada Madeira.

No edifício principal, o primeiro caminho é em direção ao buffet do restaurante Atlântico. Já há umas boas dezenas de hóspedes que se dedicam ao almoço pensado pelo chef Manuel Santos e pela sua equipa. Manuel tem 31 anos e nove de Porto Santo, vem de Santa Maria da Feira e rendeu-se aos produtos da ilha. Tem sempre peixe nas suas ementas e prepara um bolo do caco especial para a equipa – na grelha, com duo de alfaces e bacalhau à Brás, apresentado em fóssil da Fonte da Areia, um local a não perder em Porto Santo. Desaparece rapidamente após as fotografias serem tiradas e vai ser uma das apostas para o Beach Bar do Vila Baleira, o espaço que iremos visitar logo a seguir a atravessarmos o túnel que nos leva ao maior centro de talassoterapia português (3500 metros quadrados de área). Está instalado num edifício independente do hotel, a meia dúzia de passos do areal que é a origem de tudo isto. Foi graças às propriedades terapêuticas destas areias que os 50 médicos alemães aqui se instalaram após a Segunda Guerra Mundial.

O chef Manuel Santos inspira-se na dieta mediterrânica, também ela, como o hotel, bom meio para uma vida saudável.

Estavam à frente do seu tempo e viram um potencial que só agora começa a ser explorado de forma sustentável. Ou, como é explicado na apresentação oficial do hotel, «a praia é composta por uma areia carbonatada e biogénica, com propriedades físicas, químicas e térmicas que permitem o seu uso com sucesso comprovado em processos de naturoterapia». Doenças do foro reumático, fisiátrico e ortopédico têm aqui os dias contados, dizem os especialistas. Junte-se à areia uns banhos de água do mar aquecida a 37 graus, diversas salas de tratamentos, e massagens, saunas, banhos turcos e banhos vichy e eis a razão de tanta gente circular de roupão, touca e chinelos pelo espaço virado para o mar que dá pelo nome de Vila Baleira Thalasso & Spa. Rendemo-nos às evidências e fazemos uma volta de tratamentos. Comprova-se: o stress diminui de forma drástica.

Antes de se chegar às piscinas exteriores e à praia, a tal das areias douradas que vem em todas as campanhas turísticas da Madeira mas que só existe no Porto Santo, uma palavra para os 300 painéis solares que alimentam toda a estrutura do hotel (mais de 65 mil metros quadrados de área). A sustentabilidade ambiental é aposta do Vila Baleira e não faria sentido que fosse de outra forma quando se está instalado numa praia única. Atravessando a zona de piscinas exteriores e seguindo o caminho até ao areal, chega-se ao Beach Bar, aos seus irresistíveis almofadões e pufes e à praia – a praia. Ao longo de todo o ano, convida. Em especial quando se sabe da época dos nevões no centro e norte da Europa e aqui ainda se sentem as temperaturas a rondar os 20 graus. Dá mesmo para fazer roer de inveja. E se ainda não der para acreditar, fica a sugestão de dar um passeio para observação de cetáceos e golfinhos em redor da ilha. Do ar, do mar ou de terra, Porto Santo é especial. E está cada vez mais apetecível.

Vila Baleira Resort
Sítio do Cabeço da Ponta – Apartado 243
9400-909 Porto Santo
Tel.: 291980800
Preço: Quarto duplo a partir de 60 euros por noite.
Web: vilabaleira.com

Texto de Ricardo Santos - Fotografias de Fernando Marques
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