Terceira lei de Newton: toda a ação tem uma reação. Se a potência colonizadora impõe que se cante e dança as músicas e os ritmos da metrópole, o povo arranja maneira de fintá-la. A marrabenta nasceu, em jeito de resistência cultural, nos anos 1930, principalmente nos subúrbios de Lourenço Marques. Fundiu ritmos tradicionais, como magika, xingombela e zukuta, juntou-lhe depois a influência das bandas negras sul-africanas e os temas do quotidiano, com a ocasional crítica social e os anseios de liberdade de uma população urbana. Começou com instrumentos tradicionais e outros improvisados, incluindo guitarras de lata, que mais tarde se combinaram com instrumentos convencionais. Tão importante como a música é a dança, feita de movimentos acentuados de cintura, de um enérgico deslizar de pés, de gestos requebrados que estão, diz-se, na origem do nome, como se o corpo se «arrebentasse» de tanto dançar. A música, quando é contagiante, tem essa reação.
Três discos essenciais:
Nyoxanini
FANY MPFUMO
{ 1999 }
Um dos primeiros grandes nomes da marrabenta, com o seu quinhão de problemas com a PIDE nos tempos da censura. Nyoxanini, álbum editado a título póstumo, reúne temas que se tornaram hinos do género, como Famba Ha Hombe e Georgina, verdadeiros bálsamos para o espírito.
Independance
ORQUESTRA STAR MARRABENTA MOÇAMBIQUE
{ 1989 }
Nos anos 1980, foi uma das bandas mais requisitadas de Moçambique. À marrabenta tradicional, juntava tricotados de guitarra, alguma influência soul e três grandes vozes, Dulce, Mingas e Wazimbo. O disco arranca com o contágio imediato de Elisa Gomara Saia – a ouvir-se apenas um tema de marrabenta, é começar por aí.
Soul Marrabenta
MABULU
{ 2001 }
Entre a estreia em 2000 e o fim, dois anos depois, o supergrupo Mabulu lançou um segundo disco tão empolgante como o primeiro. Lado a lado, a nova e a velha guarda – o jovem rapper Chiquito ombreia com Lisboa Matavel e Dilon Djindji (na foto), figuras basilares da marrabenta. A unir tudo, uma secção rítmica coesa que põe festa naquilo que faz.