Tesouros dos Emirados Árabes Unidos vistos pelo embaixador em Portugal, Moosa Abdulwahid Alkhajah
Texto de Leonídio Paulo Ferreira
«Não é segredo que há quarenta anos não havia nada do que se vê hoje no país. Os Emirados Árabes Unidos eram o deserto, com algumas casas espalhadas pela costa, mas tivemos um líder que fez toda a diferença na nossa história. Era o xeque Zayed, a quem chamamos carinhosamente o nosso pai fundador. Foi ele, trabalhando com os governantes dos vários Emirados, que teve a iniciativa de fazer nascer uma nação no meio do deserto», explica Moosa Abdulwahid Alkhajah, embaixador em Portugal desde 2017.
«Eu assisti a esta transformação. Estamos gratos por termos passado de simples beduínos do deserto a cidadãos do mundo. O que não significa que não sejamos um povo árabe, muçulmano, que carrega certos valores. Quem nos visita ou vive connosco pode comprovar que somos um país moderno, mas sempre nascido do deserto», acrescenta o diplomata, nascido em 1960, onze anos antes da independência dos sete emirados, antes uma espécie de protetorado do Império Britânico.
Situados na Península Arábica, os Emirados são hoje famosos por projetos como o Palm Jumeirah, um arquipélago artificial, ou o Burj Khalifa, o maior arranha-céus do mundo. A aposta na modernidade, graças aos recursos petrolíferos, tem criado uma sociedade cosmopolita que atrai os estrangeiros, tanto residentes como turistas. Dos nove milhões de habitantes, 85 por cento são imigrantes — de mais de cem nacionalidades —, incluindo alguns milhares de portugueses a quem o embaixador agradece o contributo ao país.
Apesar de todo o cosmopolitismo, «a ligação ao deserto mantém-se forte. As famílias procuram usufruir dele», diz o embaixador, formado em Ciência Política e com um vasto currículo diplomático, com passagens por Bruxelas, Damasco, Beirute, Pequim, Estocolmo e Seul. Antes de Lisboa, Moosa Abdulwahid Alkhajah foi embaixador em Manila.
Os Emirados têm cerca de 9,5 milhões de habitantes
«Por exemplo, o hábito de comer com a mão é do deserto. Vem da partilha da comida com a família e os amigos. E gosto ainda de o fazer, apesar de toda esta experiência de vida internacional. É uma forma de ligação às origens. Dá-me especial prazer», diz. «E há consciência oficial dos sete Emirados em manter esta ligação ao deserto. Por isso o Estado apoia comunidades beduínas que querem manter os hábitos», sublinha o embaixador.
País do deserto, mas também do mar, os Emirados tiveram contacto com os portugueses logo no século XVI, com ruínas de fortalezas a comprová-lo. O próprio embaixador sente essa ligação marítima: «Também somos um povo do mar. Tradicionalmente na pesca e extração das pérolas. E a costa atrai muita gente. Venho de Sharjah e cresci entre casas dos pescadores». Pretexto para falar do emirado onde nasceu: «Há grande notoriedade de Abu Dhabi, capital política, e do Dubai, capital económica, mas Sharjah quer ser a capital cultural». Uma diversidade que o xeque Zayed, falecido em 2004, soube unir e fazer prosperar. Segundo o Índice de Desenvolvimento da ONU, os Emirados são 42.º, logo atrás de Portugal.
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