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Praias paradisíacas, praias desertas, peixe, fruta, chocolate, café, história. Tem tudo e não tem nada. Tem problemas complexos, mas simplicidade e leveza únicas. Um destino turístico como é suposto ser o final dos grandes filmes e livros: tão óbvio quanto surpreendente.

A expectativa e a realidade entram num avião… O destino? São Tomé. Se um dos problemas do paraíso é o excesso de gente, bastam algumas horas na ilha maior do arquipélago para perceber que, ao contrário do que se possa pensar, o número de turistas será tudo menos um drama.

O aeroporto, apesar de internacional, continua a ter dimensão e tráfego caseiros. Portugal «aterrou» aqui em 1470, mas o mundo parece ainda não ter descoberto São Tomé. Os viajantes estrangeiros contam-se pelos dedos. Há hotéis e algumas guesthouses, mas nada de areias e marginais carregadas de resorts. Veem-se alguns carros alugados, mas poucos. E a maior parte das praias estão desertas.

Um local de sonho sem ninguém é a praia das Sete Ondas. Um areal de fácil acesso, à beira da estrada, a pouco mais de meia hora da capital. A vegetação é densa, um mar de coqueiros às costas, tudo tão belo e inesperado quanto previsível.

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Ilha-postal

O primeiro (e duradouro) impacto é esse, a confirmação de que este é um país de postal. O verde é verde, apesar dos múltiplos tons, não há filtros, apesar do excesso de cores e da saturação, a vegetação é total. Uma terra com poucas estradas, sem saneamento básico, com constantes cortes de eletricidade, mas com um mar gordo de peixe e um céu de onde parecem chover frutos. Fruta-pão, banana, jaca, matabala, manga, goiaba, cacau, papaia, sape-sape, coco, a lista é extensa, com tamanhos, cores, formas e nomes de que muitos apenas ouviu falar. A verdade é que neste país só morre de fome quem é preguiçoso.

No entanto, não se podem viver apenas de fruta e, por isso, uma franja dos são-tomenses tem problemas de subnutrição. Um postal tem sempre dois lados e não se pode esconder nenhum deles. O país é pequeno – tem uma área inferior à da Grande Lisboa – e pobre, com carências que podem apanhar alguns visitantes desprevenidos.

A primeira roça de São Tomé a implementar a cultura de cacau, no final do século XVIII, e uma das muitas que contribuíram para que o país tivesse sido o maior produtor mundial. Hoje é uma sombra desses dias, sobretudo lá no alto, onde ainda resiste um antigo hospital. Um edifício tão belo quanto decadente, sem o mínimo de condições de habitabilidade, mas que é a casa de algumas famílias. Desenganem-se, contudo, aqueles que pensam que a maioria das roças – durante muitos anos a base económica do país, até à independência em 1975 – estão todas votadas ao abandono. Ainda há vida, muita vida. É verdade que muitas caíram numa espécie de letargia, mas outras há que foram e continuam a ser recuperadas, reinventadas. Quase todas um compêndio da história do país, do colonialismo, da escravatura. Da humanidade.

O futuro (também) está nas roças

São João dos Angolares, Monte Café e Casa-Museu Almeida Negreiros. Três bons exemplos de roças que se têm reinventado. Qual visitar? Todas. Deveriam ser as três de visita obrigatória, apesar de estarem situadas em partes distintas da ilha, até porque uma semana e alguma curiosidade são mais do que suficientes para lá chegar. E todas merecedoras de visita demorada, pois têm restaurante e alojamento próprios.

A Roça de São João dos Angolares é a mais procurada, muito por culpa do anfitrião – João Carlos Silva, carismático apresentador de Na Roça com os Tachos, programa da RTP que há mais de década e meia abriu a janela do arquipélago para muitos portugueses.

Também na Casa-Museu Almada Negreiros e no Monte Café tudo isto se mistura. A primeira tem vindo a ter uma nova vida desde 2015, altura em que Joaquim, guia durante muitos anos, percebeu que este espaço (antiga Roça Saudade, no interior da ilha, a mais de 800 metros de altitude) tinha um grande potencial turístico. E nem sequer desconfiava de que aqui tinha nascido e vivido durante alguns anos um dos maiores artistas portugueses – José de Almada Negreiros

É certo que o nome ajuda, mas as bases estão no trabalho de recuperação, da gastronomia à hotelaria. Acabam de inaugurar uma guesthouse com três quartos onde abundam frases de Almada. Em breve as refeições serão finalizadas com café da casa. A replantação já foi feita e daqui a três anos prometem ter produção própria.

Algo que já acontece na Roça Monte Café, cujo atual tesouro maior é o café biológico, exportado para vários países. Há um museu com visitas guiadas onde se explica todo o processo e também um restaurante e alojamento, a Efraim Guesthouse.

Vamos de jipe?

É difícil estar numa ilha e não querer ver tudo, há uma espécie de febre dos viajantes – e que afeta também alguns turistas – que obriga a dar a volta, a ir visitar todas as praias, todos os pontos de interesse. São Tomé merece ser explorada de uma ponta à outra, merece um sentido de aventura apurado, merece que se alugue um jipe e se faça uma roadtrip, mesmo que muitas estradas pareçam tudo menos estradas.

A Nacional que leva ao Sul, e que todos aqueles que vão ao ilhéu das Rolas têm obrigatoriamente de fazer, é o exemplo disso mesmo. Muito antes de Porto Alegre, onde se apanha o barco para uma viagem de 30min em direção ao ilhéu, o asfalto desaparece e dá lugar a terra. Mas é por estas estradas que se chegam a locais como a praia Inhame, no Sul, areal que tem também restaurante e um ecolodge com 13 casas de madeira, ou a praia da Jalé. Micondó ou N’Guembu são outros nomes a decorar.

No entanto, o melhor de São Tomé continua a ser as pessoas, com a sua natureza e leveza. Diz-se que no voo de regresso o peso do avião é inferior. Que os passageiros regressam com a bagagem cheia, mas mais leves do que nunca.

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