Entrou no mundo da moda aos 21 anos e deixou para trás o curso de Psicologia. Enquanto modelo, conheceu o mundo – Tóquio, Milão, Londres, Viena, … – e depois decidiu enveredar pela representação. Primeiro no cinema, em 1996 foi distinguido com o Globo de Ouro de Ator Revelação ao protagonizar Cinco Dias, Cinco Noites, de José Fonseca e Costa, e depois na televisão com dezenas de telenovelas e séries no currículo.
Entrevista de Cláudia Arsénio e Ricardo Santos
Boa tarde, Paulo Pires.
Olá, boa tarde.
Tem saudades desses tempos em que corria o mundo com desfiles de moda ou era uma correria tal que não deixava tempo para nada?
Não, deixava imenso tempo. Correria é hoje em dia, na altura corria muito menos. O trabalho de modelo é um trabalho em que a pessoa espera muito mais e tem muito mais tempo morto, portanto eu não tenho saudades. Foram tempos dos quais tenho boas memórias mas não tenho propriamente saudades, nunca foi um trabalho que tivesse feito por, digamos… que fosse o meu sonho, foi sempre algo que me surgiu, que aconteceu, que apareceu essa possibilidade e eu tentei aproveitá-la. E com ela viajar e ganhar dinheiro também, na altura, que era e continua a ser uma preocupação minha e de qualquer pessoa.
Conheceu muitos países nesse tempo mais ligado à moda?
Conheci alguns, mas também era porque eu gostava de procurar, porque o trabalho de modelo permite viajar e trabalhar em qualquer parte do mundo, não é? Quando viajava ia trabalhar, ou procurar trabalhar, porque muitas vezes as coisas não eram absolutamente garantidas, eu não ia com trabalho marcado. Era de facto essa possibilidade de viver a vida, o dia-a-dia, num país e ser remunerado. Portanto era um curto espaço de tempo, três meses por exemplo – era essa a minha média, que fiz em alguns países, como no Japão, estive em Tóquio três meses, e em Taiwan (em Taipé), onde estive seis meses em duas vezes diferentes. Não fui propriamente aquela pessoa que esteve ali para ir aos museus. Não, eu ia ao supermercado, à lavandaria, àquelas lavandarias onde se punha moedas e deu-me de facto uma ideia completamente diferente inclusive daquilo que eu imaginava que era o Japão – uma coisa de gente sempre tudo a correr e eu encontrei outras coisas também.
Ainda se lembra de viajar sozinho? Era muito diferente?
Era mais barato, porque as viagens eram duas, ou uma, e não quatro. E os quartos a reservar era um e não dois, mas era mais fácil. Mas agora também é especial e as minhas filhas, desde pequenas e principalmente a mais velha, começaram a viajar desde muito cedo. Ela foi para o Brasil com três semanas de idade e voltou com cinco meses, que eu estava lá a fazer um projeto. Mas sim, é mais fácil, mas é mais especial viajar com elas, porque a partilha é sempre uma das coisas mais importantes na viagem, eu acho.
E mudou as escolhas dos seus destinos em função disso?
Talvez. Há um bocadinho mais de precaução quando se escolhe algum destino. Por exemplo, lembro-me que há dois ou três anos estive em Creta e apetecia-nos ir para um outro sítio que nos tinha sido recomendado e pensámos que ali, as estradas até são boas, mas não são rápidas, porque são muitas curvas e é a subir e descer constantemente. E estava num ponto um bocadinho afastado e com as miúdas é uma chatice e nunca se sabe o que acontece. Sim, claro, uma pessoa, se calhar, até daqui para África tem uma facilidade sozinha que não tem com crianças, porque pensa em malárias, pensa numa série de coisas.
Ouvi dizer que costuma viajar com pouca bagagem, seja sozinho ou acompanhado. Qual é o truque?
Não sei quem é que disse isso, mas eu adoro viajar com pouca bagagem, adoro mesmo. O meu sonho era viajar tipo George Clooney no [filme] Nas Nuvens – um trolley daqueles que se pode levar na cabina, esse é de facto o meu sonho. Tenho uma ideia daquilo que quero para a minha viagem e não levo roupa que não uso, levo roupa para usar. Inclusive não gosto de pôr mala no porão porque já me perderam a mala várias vezes, ou já me atrasaram a mala várias vezes e depois tive que ir buscá-la mais tarde e depois apareceram malas com o fecho partido, etc.. Já me aconteceu muita coisa. Já me aconteceu ir para Cambridge e as minhas malas chegarem praticamente quando eu já cá estava em Portugal. Já me aconteceu ir passar o Natal à Áustria e as prendas de Natal só apareceram no fim de ano, tive que andar com a roupa do meu sogro, porque a Áustria não é como Portugal, não é esta coisa de os centros comerciais todos abertos até às tantas da noite. Não, naquela altura as coisas estão fechadas.
Estava a falar da Áustria. Viena é uma das suas cidades preferidas?
É, absolutamente. Viena é uma cidade que eu conheço bem, da qual gosto muito. É uma cidade onde eu me movo. Ultimamente, nos últimos anos, até estou a ficar um bocadinho desatualizado em relação a Viena porque tenho ido menos regularmente. A minha mulher é do sul da Áustria, de Klagenfurt, mas é uma cidade à qual volto e que eu adoro. Costumo dizer que conduzo mais facilmente em Viena do que no Porto. Conheço melhor Viena do que o Porto. Vivi lá durante algum tempo e depois fui uma segunda vez e só nessa segunda vez é que conheci a minha mulher. A minha mulher estava também, tinha vindo do sul da Áustria para Viena, para fazer um trabalho e aí, enfim, mudou a minha vida. Não só porque me casei com essa mulher mas também porque passei a eleger como destino recorrente Viena. É uma cidade bastante organizada, com uma enorme qualidade de vida e digamos que aquele centro é, eu costumo dizer, nem precisas de andar muito à procura. Apanhas o elétrico 1 ou o 2 (acho que continua a ser), aqueles elétricos com três carruagens juntas. A pessoa pode apanhar esse elétrico e faz essa viagem num sentido e o 2 faz no sentido inverso. Presumo que deva continuar a ser assim, porque as coisas na Áustria são muito para durar e para continuar a ser como eram. E nessa viagem, que é uma viagem de, se calhar, 15 minutos, 20 no máximo, vê-se a Rathaus, a Ópera, uma série de edifícios, o Belvedere – não, o Belvedere acho que não se vê daí -, vê-se uma série de edifícios imperiais lindos. Uns góticos, outros enfim… é de facto uma cidade espetacular. E depois tem o Prater, o parque com aquela roda gigante super antiga. Eu vivi em Bocklinstrasse, perto do Prater e é um parque de que gosto muito, é antigo, tem personalidade, é um lugar diferente.
Mas outros dos seus destinos preferidos é Nova Iorque. Qual é o fascínio? É completamente diferente de Viena…
É completamente diferente. É uma cidade muito vertical, é uma cidade que às vezes me parece pequena porque Manhattan é de facto aquele centro, para mim e para a grande parte das pessoas, dos estrangeiros, dos europeus. É aquele centro super vertical em que a pessoa parece que vem de lá com uma hérnia na cervical porque anda sempre com a cabeça para cima, mas ao mesmo tempo é pequeno em extensão, coisa que já não acontece com Londres. Nova Iorque é uma cidade absolutamente familiar porque nós conhecemos aquilo tudo dos filmes. Às vezes nunca lá tínhamos estado e os nomes das ruas é super fácil, porque aquilo ou vai para um lado ou vai para o outro, a ordem decrescente ou crescente. Depois o Central Park é um sítio incrível. Eu hesitei aqui um bocadinho entre Nova Iorque e Boston, que é uma cidade que não está longe de Nova Iorque, naquela zona de New England. É uma cidade de que também gosto e que não quero deixar de falar porque aos meus amigos digo sempre que Boston é uma cidade que fui lá uma vez e achei incrível. É uma cidade jovem, com muitas universidades. Tem uma super boa onda, é super cool, é uma América culta, é uma América de parques, de esquilos a descerem pelas árvores e de gente cool, vestida de forma descontraída, a ler um livro de um grande autor. Tem aqueles edifícios ingleses, aquela arquitetura inglesa. Costumo até brincar: tem casas inglesas com americanos. É uma cidade também muito especial, mas Nova Iorque era a cidade onde gostava de viver, embora muita gente me diga que se vivesse em Nova Iorque não conseguiria, porque é uma pressão, mas pronto, está bem… nunca senti essa pressão, nunca estive o tempo suficiente.
E qual é a viagem de sonho? O que é que falta?
Falta muita coisa, falta tudo, mas a viagem de sonho que eu espero um dia concretizar é à Nova Zelândia. A Nova Zelândia é um país, são basicamente duas ilhas, uma mais pequena, maioritariamente duas ilhas e são incríveis pela diversidade, porque têm tudo. Têm glaciar, praia, montanha, verde, tem tudo ali num pequeno espaço de terra – pequeno, relativamente, aquilo é habitado por quatro milhões e qualquer coisa de pessoas. São os habitantes da Noruega, mas é num espaço maior e num espaço onde há muita qualidade de vida, segundo aquilo que eu já li sobre a Nova Zelândia e as pessoas que lá estiveram me falam. É um lugar jovem, também, no sentido em que as pessoas… há imensos desportos radicais, de parapente e de bungee jumping e de uma série de coisas desses desportos. Depois, com qualidade de vida e um certo nível cultural e com uma relação muito… uma boa relação cidade-campo, mas muito campo, muitas extensão de campo e isso agrada-me. É um país onde é difícil ir, porque é muito longe, mas, lá está, e aqui recorrendo àquela questão anterior das crianças, sim, se fosse eu sozinho – ou eu e a minha mulher – seria mais fácil. Principalmente depois também depende da idade das crianças, não é? As crianças ficam sempre fartas das viagens mais cedo do que nós, vamo-nos habituando a conformar com o tempo. Elas a partir da meia hora de voo já começam a dizer quando é chegamos e ir para a Nova Zelândia é um bocadinho complicado, mas espero concretizar esse sonho.
Oiça aqui a entrevista, emitida pela rádio TSF.