É bem verdade que imaginar não é o mesmo que ir. Tal como ir não se dá bem com impossível. Mas é precisamente de viagens irrealizáveis, impossíveis, que trata este artigo. Lembramos a edição de maio de 2020 e um dos sítios que jamais poderá visitar, por muito que seja essa a sua determinação: não existe.
Apocalypse Now
Esta jornada irrealizável é só mesmo própria para o homem-viajante em regime de confinamento forçado, prisioneiro por vontade própria e por razão alheia, senhor todo-poderoso do sofá da sala, soberano da calça de fato-de-treino e do chinelo-de-enfiar, bicho encantoado, entediado.
A designação é difícil de pronunciar, mas não apareceu por obra e graça das monções. Os malaios, gente também dada ao mar, chamavam Cochim a toda a grande região para lá do Golfo de Benguela. Como os portugueses já tinham, feito da outra Cochim, na Índia, a sua sede asiática, sem grande criatividade chamaram Cochim da China às terras do fim do mapa que hoje, mais coisa menos coisa, correspondem ao território do Vietname. Uma vez que a cartografia da região não era de fiar, os portugueses deram ao mundo não uma nova possessão, aliás os negócios ali correram-nos horrivelmente mal, mas uma nova designação para um local longínquo, desterrado, de geografia incerta, quase impossível de alcançar: a Cochinchina.
[Imagem: iStock]
Cochinchina
1516 – …
Capital: Saigão
Língua oficial: vietnamita
Atual República Socialista do Vietname
É o termo que melhor pode definir a ousadia e a aventura global das navegações portuguesas de quatrocentos e quinhentos. E a sua autoria deve-se ao capitão António de Faria, que terá sido o primeiro europeu a pôr os pés no território do atual Vietname. Cochinchina é um país que não existe, nem nunca existiu, de facto, mas a sua denominação atravessa diversas línguas quando se quer referir algo longínquo e em parte incerta.