É bem verdade que imaginar não é o mesmo que ir. Tal como ir não se dá bem com impossível. Mas é precisamente de viagens irrealizáveis, impossíveis, que trata este artigo. Lembramos a edição de maio de 2020 e um dos sítios que jamais poderá visitar, por muito que seja essa a sua determinação: não existe.

Apocalypse Now
Esta jornada irrealizável é só mesmo própria para o homem-viajante em regime de confinamento forçado, prisioneiro por vontade própria e por razão alheia, senhor todo-poderoso do sofá da sala, soberano da calça de fato-de-treino e do chinelo-de-enfiar, bicho encantoado, entediado.

[Imagem: iStock]
Mas tão livre de espírito como Melville e a sua baleia, como todas as Dulcineias deste mundo e também as de La Mancha, como Alice defronte do espelho, como o balão de ar quente de Willy Fog a ascender nos descrentes céus de Londres. Quanto tempo duraria esta nossa viagem impossível, os mesmos 80 dias? E como a faríamos, dentro de uma cesta de vime? E onde a daríamos por terminada, no fim do mundo? Isso mesmo, acabemos no fim do mundo que, para os navegantes portugueses de quinhentos levava o nome de Cochinchina.

A designação é difícil de pronunciar, mas não apareceu por obra e graça das monções. Os malaios, gente também dada ao mar, chamavam Cochim a toda a grande região para lá do Golfo de Benguela. Como os portugueses já tinham, feito da outra Cochim, na Índia, a sua sede asiática, sem grande criatividade chamaram Cochim da China às terras do fim do mapa que hoje, mais coisa menos coisa, correspondem ao território do Vietname. Uma vez que a cartografia da região não era de fiar, os portugueses deram ao mundo não uma nova possessão, aliás os negócios ali correram-nos horrivelmente mal, mas uma nova designação para um local longínquo, desterrado, de geografia incerta, quase impossível de alcançar: a Cochinchina.

Quedas de água de Ban Gioc Detian
[Imagem: iStock]
Por falar em maus negócios: há filmes de Hollywood, e não são assim tão poucos quanto isso, que dão conta dessa fatalidade para os ocidentais. Ou, como diria John Rambo do fundo da sua mais fina sensibilidade, “aqui, as coisas às vezes são confusas”. E, entretanto, houve-se o flap-flapflap das pás de um helicóptero de resgate. Let’s go home!

Cochinchina
1516 – …
Capital: Saigão
Língua oficial: vietnamita
Atual República Socialista do Vietname
É o termo que melhor pode definir a ousadia e a aventura global das navegações portuguesas de quatrocentos e quinhentos. E a sua autoria deve-se ao capitão António de Faria, que terá sido o primeiro europeu a pôr os pés no território do atual Vietname. Cochinchina é um país que não existe, nem nunca existiu, de facto, mas a sua denominação atravessa diversas línguas quando se quer referir algo longínquo e em parte incerta.

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Artigo publicado originalmente na edição de maio de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 307.

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