Foto: Pixabay

De início foi um franzir sobrancelhas. “Tanto tempo no mar?”, duvidaram Carlos e Maria Antónia Bento quando um casal amigo lhes contou maravilhas de um cruzeiro pelas ilhas gregas e os desafiou a encetar igual façanha.

Ponderações feitas e receios atirados para trás das costas, lá foram. E não se arrependeram. Voaram até Veneza e entraram no enorme navio que os haveria de conquistar. As dúvidas desfizeram-se antes da primeira acostagem, em Bari, ainda em território italiano.

“Tudo muitíssimo bem organizado. Serviço de quarto excelente e personalizado. Cuidado extremo com todos os pormenores”, elogia Carlos Bento, consultor, 75 anos. “Em cada local que aportámos tínhamos informação completa sobre tudo o que poderíamos encontrar”, complementa Maria Antónia Bento, funcionária pública aposentada, 71.

“Não faltava nada dentro do barco. Catorze pisos, centros comerciais, bares, pistas de dança. Uma verdadeira cidade flutuante”, recordam com nostalgia.

Veio a Grécia, o Mar Jónico, o Egeu. E veio Santorini. “Absolutamente impressionante. Os pormenores, as ruínas, a mistura bem combinada entre o exótico e o agradável”, recordam Carlos e Maria Antónia, de Leça da Palmeira, mar bravo que lhe bate nos rostos dia após dia à porta de casa.

Seguiu-se Rodes, com as colunas de Hércules, os estádios desportivos da Antiguidade, o porto, a Fortaleza dos Templários. “Tudo a pé. Pelo meio fomos experimentando as bebidas típicas locais, como chás e cafés.”

Antes do regresso a Itália, tempo ainda para uma visita a Mykonos, “ilha pequena com movimento impressionante de gente jovem”. Lá, a surpresa. “Cruzámo-nos com um filho nosso que lá estava de férias e aproveitámos para conhecer a ilha de jipe.”

Grécia, um paraíso a descobrir via cruzeiros (Foto: Piqsels)

O ponto alto foi “um por do sol esplendoroso, de um laranja intenssísimo, testemunhado numa esplanada ao nível do mar.” E houve Dubrovnik, na Croácia, antes de Veneza se tornar destino final onde Carlos e Maria Antónia permaneceram ainda por mais dois dias.

O segundo cruzeiro que realizaram poucos anos tardou. Escolheram um destino mais a Norte, também na Europa. “Visitámos os países bálticos, Estónia, Letónia e Lituânia. E ainda São Petersburgo, na Rússia.” Um desafio diferente, igualmente aprazível na memória. “Também visitámos Copenhaga, na Dinamarca, e Estocolmo, na Suécia.”

O cruzeiro seguinte teve destino mais curto na geografia. Pelo Mar Mediterrâneo, com saída de Barcelona. “Parámos por Palma de Maiorca, nas ilhas Baleares (Espanha), depois Sicília e subimos a Porto Vecchio, ambas em Itália. No regresso, também parámos novamente em Barcelona”.

Coincidência histórica, quis o destino que a viagem fosse a bordo do Costa Concordia, navio transalpino que a 13 de janeiro de 2012 tombou junto a Isola del Giglio, Itália, causando a morte a 32 pessoas. “Fomos dos últimos a viajar no Costa Concordia. Três meses depois encalhou e afundou.”

Nem as más notícias demoveram Carlos Bento e Maria Antónia a realizar outro cruzeiro. Também com partida de Barcelona, aventuraram-se por França. “Dessa feita a navegação foi realizada sempre muito próxima da costa.”

Maria Antónia Bento e Carlos Bento são apaixonados por viagens em alto mar (Foto: DR)

Ficou o bichinho para mais. A pandemia de covid-19 estragou-lhes os planos para os próximos cruzeiros. Que saudades já têm, isso garantem. Que querem repetir a experiência, isso também é certeza absoluta.

“Esperamos fazer mais, claro. De passar novamente pela Grécia, de ir até aos fiordes da Noruega. De nos estrearmos numa viagem transatlântica até aos Estados Unidos.”

O sonho está presente, o desafio inquieta-os, o alto mar espera-os.

(texto publicado originalmente na edição nº 314 da revista Volta ao Mundo)

Partilhar