Foto: Maria João Gala/Global Imagens

Sol e uma brisa refrescante, águas medicinais, floresta, história e boa mesa galega. Tudo isto cabe numa pequena ilha escondida na ria de Arousa.

Reza a lenda que foi um burro quem descobriu as águas termais de La Toja (La Toxa em galego). “Um verdadeiro burro, quadrúpede, coberto de mataduras e de ténia, abandonado na ilha deserta”, descreveu a romancista galega Emília Pardo Bazán, num boletim de 1899.

O animal terá sido levado pelo dono para ali perecer. Qual não foi o espanto do homem ao voltar à ilha meses depois e encontrar o seu burro de boa saúde.

“Em vez de um esqueleto, encontrou um burro saudável, a saltar, com o pelo tão brilhante que faria inveja ao de Sancho Pança. O animal tinha-se rebolado nas lamas. As suas feridas desapareceram”, narrou a escritora.

A partir daí, o poder curativo das fontes termais que brotam na ilha foi o catalisador de uma profunda transformação daquele paraíso. E o momento da sua descoberta está imortalizado com uma escultura, recém-inaugurada, do dito burro a espolinhar-se nas lamas que lhe curaram as maleitas.

Ao lado ergue-se a Capela de San Caralampio, revestida com conchas de vieira, e, em frente, um jardim pontilhado de palmeiras, com o mar no horizonte. Ao fundo, sobressai o portão branco e a fachada lateral do Gran Hotel La Toja – o primeiro cinco estrelas de Espanha e um dos primeiros resorts da Europa, erguido em 1908 a mando do marquês de Riestra, para atrair a elite europeia à ilha termal.

Hoje, sob a alçada Eurostars, o edifício é o resultado de várias intervenções. Da obra original do arquiteto Daniel Vázquez-Gulías conservou-se a estrutura e uma belíssima escadaria em ferro forjado no piso térreo, mais tarde replicada nos pisos superiores. A fachada atual, de estilo racionalista, data de 1945.

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

Já o charme do seu período áureo ficou imune ao tempo e transparece na decoração clássica e elegante e em espaços amplos e luminosos como o terraço, onde é servido o pequeno-almoço com vista para o mar e com tudo quanto se pode desejar: fruta, queijos, enchidos, croissants, churros, tortilhas e especialidades galegas como a típica tarte de Santiago.

Cartão de visita da ilha há mais de cem anos, o Gran Hotel La Toja, com quartos duplos desde 150 euros (só no verão), é o destino de férias de muitas famílias que regressam aos mesmos quartos espaçosos e confortáveis ano após ano.

Voltam pelas propriedades termais, pelo serviço atento e familiar, pelo abraço retemperador da ria e da floresta e pelo sossego, quase tão curativo quanto as águas.

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

O balneário do hotel tira proveito dessas fontes ricas em sais minerais com benefícios dermatológicos e musculares, para compor um ramalhete de tratamentos e massagens no moderno spa, num pavilhão envidraçado junto ao mar.

Ao lado fica a piscina exterior, rodeada de espreguiçadeiras e guarda-sóis amarelos, e uma esplanada onde se repõem as energias com uma bebida fresca e tapas: tosta de salmão fumado, vieiras braseadas, camarões panados, ou um doce preparado com fruta da época.

Na sala interior do restaurante Aires brilha o afamado marisco galego e pratos regionais como o polvo, as amêijoas e uma deliciosa paella de lavagante, preparados pelo chef Enrique Martínez, casados, por recomendação do chefe de sala, com um albariño das Rías Baixas.

Dois tesouros da Galiza que não é preciso sair do hotel para conhecer. Mas ainda que tudo seja um convite ao repouso, vale a pena ousar descobrir o muito que La Toja e arredores têm para oferecer.

Uma volta à ilha
Logo à entrada de La Toja, a que se chega através de uma pitoresca ponte branca, uma família de burros fariñeiros, autóctones da Galiza, dá pretexto a uma primeira paragem no passeio.

Embrenhando pelo parque florestal, chega-se daí a nada à aldeia dos Hobbits, um parque infantil inspirado no cenário do Senhor dos Anéis. E quase sem dar conta demos uma volta completa à pequena ilha – tem pouco mais de um quilómetro quadrado –, onde cabe ainda um punhado de praias para estender a toalha e dar um mergulho no mar, uma loja de sabões (em tempos eram produzidos ali e hoje, não o sendo, mantêm na sua composição os sais minerais de La Toja) e um mercado de rua permanente, onde artesãos vendem bonitos colares e pulseiras de conchas feitos à mão.

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

O barco do mexilhão
Do cais de La Toja parte quatro vezes por dia um barco turístico que leva a conhecer os viveiros de marisco da ria de Arousa. A bordo, por 18 euros por pessoa, são servidos tabuleiros de mexilhão à discrição, acompanhados com vinho “albariño”, sumo e água. O passeio dura aproximadamente uma hora e inclui uma paragem junto de uma “batea”, uma espécie de jangada onde se produzem mexilhões, ostras e vieiras.

Foto: Maria João Gala/Global Imagens

Ramadas e um solar azul
A 40 minutos da ilha, as Bodegas Granbazán são um exemplar único na região, cujos 18 hectares de vinha estão plantados em ramada devido à elevada humidade da zona. As uvas de alvarinho encontram-se a dois metros acima do solo, o que permite maior arejamento. Enquadrado nas vinhas destaca-se ainda um bonito solar revestido a azulejos azuis, obra de um artesão português. A visita pode ser feita por 15 euros por pessoa.

A “Volta ao Mundo” viajou a convite do grupo Hotusa.

 

Partilhar