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Há um lugar na Quinta da Marinha que consegue fazer “desaparecer” as paredes e envolver-nos de Natureza, como se só nós e ela existíssemos naquele momento.

Penetrar no arvoredo da Quinta da Marinha e dar de caras com o The Oitavos começa por ser um choque. Há que admiti-lo. Diante de nós ergue-se uma imensa fachada de vidro e metal e a estátua gigante de uma mulher modigliânica.

A mensagem não entra à primeira. Não. Só depois de alguns momentos as coisas desatam, lentamente, a fazer sentido. O edifícios do hotel de cinco estrelas propriedade da família Champallimaud é apenas um intermediário, um lugar que nos transporta para uma Natureza incólume, sem se fazer notar, com um design minimalista dominado por transparências.

Os vidros refletem o pinhal e o mar, lá longe, a piscina infinita termina no campo, a sauna é “aberta” para a paisagem, a banheira do quarto está literalmente à janela, a sala de jantar do Ipsylon (nome que herdou da forma do hotel) tem vista para as ervas (agora) amareladas de uma vegetação selvagem, é como se não houvesse paredes à nossa volta.

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E esta parece-nos ser, seguramente, a grande mais-valia deste hotel de luxo escondido no Parque Natural Sintra-Cascais e com quartos duplos desde 331 euros. Esta e a mestria de um dos melhores sommeliers que nos passaram pelas mesas desta vida.

Chama-se Luís Ribeiro, agarra no nosso pedido de jantar, avalia todos os ingredientes e escolhe o melhor néctar para cada sabor, na certeza de que o néctar que se segue não pode abafar o que passou.

Luís admite (porque Luís atarda-se a conversar apaixonadamente sobre vinho): demos-lhe trabalho, porque enfiámos nas entradas o recheio de sapateira e o bolo do caco com chambão confitado e crosta de queijo, antes de sossegar no conduto com stir fry de legumes e arroz de shitake fritos e massa cavatelli de lulas com pesto, só para dar tudo no final e voltar a explodir com o biscuit de avelã, creme e ganache montée de chocolate de leite (das melhores sobremesas de sempre…), que Luís apaziguou com um dedo de Solar de Serrade Alvarinho Colheita Tardia.

Valeu ao atento sommelier a abundante garrafeira do The Oitavos, cujas estrelas são os vinhos da Montez Champallimaud. A experiência prolonga-se ao ritmo do dia que se põe e repete-se, sem a harmonização, na carta do almoço no Verbasco (o filete de pescada meunière é de ir às lágrimas), um restaurante campestre cuja vista só já não é maravilhosa como era porque nasceu nela, demasiado próximo, o mastodonte que servirá de casa a Cristiano Ronaldo nas suas passagens por Cascais. É uma pena, mas não arruína o palato.

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Do azul-claro pontuado de brancos do The Oitavos sai-se para o verde extenso do Oitavos Dunes, assinado Arthur Hills e já classificado como um dos melhores campos de golfe do Mundo, ou vai-se mais longe, até onde as pernas (e a bateria da bicicleta elétrica) permitirem, quem sabe até à Boca do Inferno ou ao vibrante centro de Cascais ou, porque não, à quietude da bonita aldeia de Areia, regressando pela marginal selvagem. Cansar-se para voltar a mergulhar, na piscina ou nas salas de balneoterapia, na contemplação e nos sons da Natureza.

 

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