(Rosino/Flickr)

Uma iniciativa norte-americana está a ajudar a resgatar a identidade e o património histórico único da Ilha de Moçambique, gravemente ameaçada pelas alterações climáticas e pelo avanço do extremismo.

O barco típico do índico (Stig Nygaard / Wikimedia)

Um dhow típico do oceano Índico voltou a ligar a Ilha de Moçambique à aldeia piscatória costeira de Cabaceira Pequena. Construído com técnicas tradicionais, resultou do projeto de preservação do património “Sea Sound”, financiado pelos Estados Unidos.

Segundo a Embaixada norte-americana em Moçambique, o projeto envolveu seis jovens líderes comunitários e dez estagiários, que receberam formação em pesquisa do património oral e técnicas de gravação, filmagem e edição.

A histórica e paradisíaca ilha no norte do país foi escolhida por estar a ser “afetada pelas alterações climáticas e sob a ameaça de perder a sua história única devido à propagação do extremismo violento”.

“Foi construído um dhow de 8,5 metros, utilizando as tradições ancestrais da comunidade, que agora serve para transportar os moradores entre a Ilha de Moçambique e a Cabaceira Pequena. O processo de construção da embarcação faz parte de mais de 80 conteúdos sobre o património cultural marítimo e 120 canções de mulheres e homens do mar, gravadas em áudio e vídeo, que em breve estarão disponíveis numa plataforma digital e nas rádios comunitárias”, explicou fonte da Embaixada à Agência Lusa.

O dhow é um veleiro típico do oceano Índico, de várias dimensões e caracterizado por possuir pelo menos um mastro com velas latinas, utilizado durante séculos para transporte e pesca.

O Governo norte-americano refere ter disponibilizado 161.280 dólares para o projeto “Sea Sound”, defendendo que poderá “ser usado como uma ferramenta de turismo comunitário e de resiliência local às alterações climáticas”.

Esse financiamento foi garantido através do Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural, que volta assim a apoiar a defesa do património cultural local na Ilha de Moçambique, declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1991.

As três principais componentes do projeto “Sea Sound” incluem a identificação e documentação de canções tradicionais, cantos do mar, mitos, contos, relatos orais da escravatura, técnicas antigas de fabrico de barcos e de navegação através de entrevistas individuais aprofundadas e de análises sociológicas e antropológicas.

Também prevê a apresentação destes conteúdos em podcasts áudio e visuais “de forma criativa para sensibilizar para o património marítimo, utilizá-los para criar um programa de turismo sustentável da UNESCO e preservar este património para as gerações futuras em todo o Mundo”.

Incluirá igualmente o desenvolvimento de uma plataforma digital de património cultural marítimo “onde se pode ouvir e ver o podcast de oito episódios sobre o património marítimo da Ilha de Moçambique e ligações à diáspora africana”.

O conteúdo recolhido neste projeto já deu origem à “Nakhodha and the Mermaid” (Nakhodha e a Sereia), uma experiência imersiva de 33 minutos de meios mistos, que inclui financiamento adicional do Sound Connects Fund, uma iniciativa da Music In Africa Foundation (MIAF) e do Goethe-Institut, financiada pela União Europeia com o apoio da Organização dos Estados ACP (África, Caraíbas e Pacífico).

A exposição leva o visitante numa viagem sensorial e experimental, através de uma combinação de podcast áudio espacial, imagens de mapeamento de vídeo de 360° e realidade virtual. A exposição está disponível na Ilha de Moçambique para turistas e residentes de todas as idades.

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