“Temos de repensar a forma como viajamos ou o nosso impacto vai ser irreversível.” Tyson Sadler é jornalista e documentarista e enviou até Guimarães um verdadeiro murro no estômago.
A plateia do ABVP Travel Fest, o certame anual de palestras promovido pela Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, engoliu em silêncio o filme “The Last Tourist”, que aborda os excessos do turismo de massas, a perda de relevância do destino contra o protagonismo do turista, a praia paradisíaca de uma ilha de pescadores feita lixeira sobrepovoada com ritmos de dança, os erros de quem quer enriquecer à custa desta moda de ir atrás do mesmo, seja o abuso de elefantes na Tailândia, seja o voluntarismo que multiplicou orfanatos onde se despejam crianças nem sempre órfãs em vários países asiáticos.
A pergunta ficou a marinar nas mentes. Estaremos a cometer um pecado ao querer viajar e abraçar o Mundo inteiro numa só vida?
Podemos estar, se não pensarmos a sério naquilo que andamos a fazer.
Viajar com responsabilidade pode resumir o primeiro dia deste evento imperdível para quem faz da viagem um objetivo.
E deu azo a um debate concorrido, cuja seriedade só seria quebrada pela intervenção que se seguiu. E que, na verdade, carregou a mesma mensagem. Mas com humor.
Falamos de Janek Rubes, o checo campeão do YouTube com as suas aventuras anti-turistas. “Eu odeio turistas”, avisou, logo à entrada. Mas ama a estupidez (a classificação é do próprio) que o leva a fazer coisas incríveis.
Como denunciar os burlões de turistas e os turistas que seguem a mesma cenoura, as redes sociais onde importa ser igual aos outros, vestir um escudo de invisibilidade (um fato de macaco de homem das obras) e cortar os cadeados dos turistas à volta da imagem de um padre morto, pedir para tocar num candeeiro em vez de tocar na dita imagem, ou oferecer a hipótese de cortar os ditos cadeados dizendo tratar-se de uma tradição.
Ou sugerir que se gaste o dinheiro do cadeado num crowdfunding para um sino em falta numa torre sineira (e conseguir com isso repô-lo).
No final, Janek admite que adora turistas. Porque goza com eles e ajuda-os. Ao ponto de lhes dar, em plena pandemia, a receita dos trdlo, esses bolos tipicamente de lado nenhum que a internet diz serem de Praga. Não são checos, sequer, e são horríveis, garante. E diz mais: trdlo, em checo, significa idiota.
Fica tudo dito. É a guerra declarada à imitação macaca. E faz rir. Janek assina #honestguide. Vale a pena, diríamos, imitá-lo.