Uma amostra dos tapetes de serrim de Elche de La Sierra (Epikzo/Wikimedia)

A celebração do Corpo de Cristo em Elche de la Sierra é um momento único. Porque a parte bela da coisa dura três horas para o visitante. Mas merece definitivamente o desvio até Albacete e à região espanhola que serviu de cenário para a maior das aventuras: D. Quixote de la Mancha. Mostrou-se na BTL.

(José Maria Moreno Garcia / Flickr)

Há 60 anos, cumpridos este ano, cinco habitantes de Elche de la Sierra mudaram-se temporariamente para Barcelona, em trabalho. E descobriram a tradição dos tapetes de flores. Fascinados, decidiram que fariam o mesmo no seu pequeno povoado de pouco mais de 3800 habitantes. Só que aquele lugarejo de Albacete não tinha flores. Só madeira. Muita. E resíduos dela. Serrim.

Serrim haveria de ser. Na noite antes do Corpo de Cristo, sem falar com ninguém, fizeram os primeiros tapetes, que ali se chamam alfombras. E surpreenderam os conterrâneos, que acordaram para um espetáculo único: as ruas cobertas de desenhos.

Elche de la Sierra é o único lugar em Espanha onde estes tapetes temporários são feitos exclusivamente de serrim e isso faz deles património nacional. O passo que se segue é o património cultural pela UNESCO.

E porquê?

Porque tudo aquilo é pura magia – 1700 metros quadrados de tapetes com desenhos que vão ao mais ínfimo pormenor, reproduções de ícones religiosos, arte efémera de precisão que 600 habitantes criam numa noite em 27 ruas e três praças e que só pode ser vista nas três horas que vão do amanhecer à procissão.

Três horas que no ano passado juntaram 15 mil curiosos, e que podem ser revividas no museu local, onde estão recriados trechos de alfombras e se conta a história e o processo.

Este milagre de uma noite de Elche de la Sierra (a 1.30 horas de Madrid) foi mostrado na BTL no âmbito da participação da região espanhola de Castela-Mancha, num ano de regozijo para Espanha: ultrapassou França como primeiro destino turístico mundial.

Para lá da cultura, das tradições, da arqueologia, toda a região é história. E literatura. É o cenário de D. Quixote de la Mancha. E oferece mesmo um roteiro para os mais afoitos ou mais brindados com o tesouro do tempo: 1500 quilómetros de percursos por caminhos rurais a ligar os lugares da mítica obra de Miguel Cervantes, que inclui Toledo, Ciudad Real e Albacete entre os 165 municípios que cruza.

Castela – La Mancha tem no visitante português o seu terceiro mercado turístico (cerca de 30 mil pessoas que ficam a pernoitar). E está em Lisboa a promover o “destino das maravilhas” com a garantia da sustentabilidade. Uma das maiores redes de trilhos de Espanha, rotas de cicloturismo, turismo astronómico graças a um céu limpo de poluição luminosa e o prazer do mundo rural às portas de Madrid é a mensagem verde trazida à Bolsa de Turismo de Lisboa, que abre esta sexta-feira as portas ao público depois de dois dias dedicados aos profissionais do setor.

A BTL encerra no domingo.

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