Com verões repletos e um aumento das unidades de alojamento local, Faial, Pico e São Jorge apostam em festas como as do Espírito Santo para estender a generosa procura turística a outros períodos do ano.
Na edição de 2024 da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), a decorrer na Feira Internacional de Lisboa (FIL) até domingo 3, os Açores são território de destaque. Por uma questão física, devido à imponência do seu stand, montado à entrada do Pavilhão 1, com a palavra “Açores” desenhada a madeira e em grandes dimensões, acolhendo atrás de si áreas dedicadas às nove ilhas. Mas também por uma questão formal, já que o arquipélago é o destino nacional convidado da feira (a nível nacional, os restantes agraciados são Coimbra, município convidado; e Aveiro, cidade convidada).
Pela ação conjunta, sobressai na representação açoriana a Associação de Municípios do Triângulo (AMT), que une Faial, Pico e São Jorge, e respetiva meia dúzia de municípios. Para Luís Silveira, que acumula funções de presidente da AMT e da câmara de Velas (São Jorge), um bom resultado em termos turísticos no final de 2024 para estas três ilhas seria uma “diminuição da sazonalidade. Em época alta, de maio a setembro, a verdade é que estamos cheios. A capacidade esgota-se”. O que se pretende é “começar o verão um bocadinho mais cedo, pois a primavera nos Açores é muito boa, e aproveitar também o outono, de forma a ter uma época baixa, ou média, melhor do que aquelas que temos tido”.
Para alargar a procura turística em meses não estivais, o responsável aponta como aposta central o turismo religioso – “começámos agora a trabalhar nisso e os frutos serão já para 2025”. A atenção concentra-se, em especial, nas festas do Espírito Santo, “que são muito ricas nos Açores, em particular nestas três ilhas, e que antecipam o verão”. As celebrações acontecem nos sete domingos a seguir ao domingo de Páscoa.
“As festas do Espírito Santo são muito ricas pelo lado da fé, mas sobretudo pela cultura daquele povo, as tradições (a música, os carros de bois, os foliões) e uma gastronomia fortíssima. Aqueles que vão sem saber que [o Espírito Santo] existe, ficam fascinados. Cortam-se vias para colocar mesas, para que toda a gente possa comer e beber gratuitamente. E é diferente de freguesia para freguesia, de ilha para ilha.”
Luís Silveira diz-se satisfeito com o facto de as camas disponíveis no Triângulo virem aumentando sobretudo graças “ao forte crescimento do alojamento local”.
“Para nós, isso é positivo porque não temos a problemática da habitação que se sente nos grandes centros urbanos. Há uma série de casas que estavam em ruínas, sobretudo devido aos fluxos de emigração de há algumas dezenas de anos. Essas ruínas, que são de famílias que emigraram sobretudo para os Estados Unidos e Canadá, vão sendo recuperadas por familiares desses emigrantes (muitas vezes já de segunda, terceira ou quarta geração), ou por investidores que as adquirem”. É um movimento com importância “ambiental, bem como na manutenção da traça arquitetónica e no embelezamento dos concelhos e das ilhas”.
Depois de vários anos de uma “aposta clara” no turismo estrangeiro, “sobretudo europeu”, o rescaldo da pandemia trouxe mudanças ao perfil de quem visita Faial, Pico e São Jorge: “Há agora uma incidência muito forte no turismo interno, do mercado continental. Por vários motivos. Porque é uma viagem próxima, porque vão para um destino que é seguro… Para lá das belezas naturais, gastronomia, cultura, etc. O turismo nacional é cada vez mais importante e é uma aposta ganha. Mas continuamos a apostar nos países nórdicos – a nossa primavera e outono têm temperaturas belíssimas para quem vem do norte da Europa”.
Quem visita o triângulo ainda pertence, sobretudo, a faixas etárias elevadas, mas Luís Silveira deteta um aumento do público jovem. “Os Açores têm feito uma aposta nos desportos radicais: no rappel, no canoeing, nadar com tubarões. Os mais novos gostam desse tipo de desafios.”