Russ Cook no "Ponto mais setentrional do continente africano", onde chegou rodeado de apoiantes (Fethi Belaid / AFP)

Um jovem aventureiro britânico sagrou-se o primeiro a atravessar África de Sul para Norte a correr. A épica viagem de Russ Cook demorou 351 dias.

Tem 27 anos, uma idade em que os sonhos persistem em comandar a vida. Russ Cook, é o nome dele, deixou-se levar. E cumpriu o onírico desejo de atravessar África de Baxio para cima. Fácil? Comum? Talvez não. Porque Russ correu.

Russ Cook no “Ponto mais setentrional do continente africano” (Fethi Belaid / AFP)

Era final de tarde do passado dia 7 de abril quando o aventureiro britânico chegou ao “Ponto mais setentrional do continente africano”.

Em frente ao corredor ruivo de barba extensa, uma escultura com a forma de África marcava a marginal de Cape Angela, na Tunísia.

Atrás dele, mais de 19 milhões de passos, 351 dias e 16.250 quilómetros a correr e um recorde – nunca ninguém havia tentado tal coisa. À roda de Russ, os familiares emocionados e dezenas de tunisinos em aplausos.

À chegada, depois de 351 dias a correr (Fethi Belaid / AFP)

Russ partiu a 22 de abril de 2023 de Cape Agulhas, no extremo sul da África do Sul. Desde então, atravessou 16 países e correu o equivalente a 385 maratonas.

O jovem originário de Worthing, no sul da Inglaterra, e apelidado de “Hardest geezer“, (em português, o tipo mais duro) passou por montanhas, florestas tropicais e desertos, incluindo, claro, o Saara.

“Percorremos um longo caminho”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).

Russ chegu a Cape Angela rodeado de apoiantes (Fethi Belaid / AFP)

A viagem não foi fácil. Depois de percorrer a África do Sul e a Namíbia em 50 dias, ele e a equipa foram vítimas de assalto à mão armada em Angola. Ficaram sem câmaras, sem telemóveis, sem dinheiro e, o pior, sem passaportes.

Depois foram as dores a travar-lhe o passo, obrigando-o a reduzir as etapas por uns dias. Mais a norte, no Saara, teve de correr de noite para evitar o calor. E as dificuldades em obter visto para a Argélia quase arruinavam o projeto.

Com este “Projeto África”, Russ conseguiu angariar perto de 670 mil euros para doar à organização britânica Running Charity, que ajuda jovens sem-abrigo, e para a Sandblast, que trabalha na proteção de indígenas do Saara Ocidental.

Antes da partida, explicara à agência britânica PA que o seu objetivo era aproveitar a vida ao máximo.

Russ Cook: “O espírito humano é uma coisa bonita” (Fethi Belaid / AFP)

“Sou um homem completamente normal, por isso, se consigo fazer isso, espero que as pessoas possam aplicar isso nas suas vidas da forma que quiserem”, afirmou.

“Para 99% das pessoas, não se trata de atravessar África a correr, mas talvez de perseguir um pouco mais os seus sonhos.”

Este ano pode ter sido “o mais duro” da vida de Russ, mas foi sobretudo “uma imensa honra”. “Conhecemos pessoas incríveis em todos os países por que passámos, onde nos acolheram com amor e simpatia. O espírito humano é uma coisa bonita”.

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