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Uma viagem de sonho pelos Parques Naturais dos EUA

Veja as fotografias de alguns dos mais belos Parques Naturais dos EUA, clicando nas setas. [Imagens: Shutterstock]
1. Grand Canyon Sendo muito provavelmente o parque natural mais popular dos Estados Unidos, o Grand Canyon é também uma das paisagens mais belas e memoráveis. Esculpido pelo rio Colorado ao longo de 17 milhões de anos, o desfiladeiro estende-se por 450 quilómetros, chegando a ter 24 de largura e 1,6 de altura. Por incríveis que estes números sejam, só quando nos deparamos fisicamente com a imensidão deste desfiladeiro é que começamos a sentir-nos realmente pequenos.
1. Grand Canyon Na sua magnitude, são inúmeras as perspetivas que o Grand Canyon nos oferece. Por um lado, a sul, o horizonte é vasto e quase infinito, um teatro natural que frequentemente está presente em diversas revistas e filmes. Já do lado norte, o cenário é bem diferente: estamos num ponto mais alto e fresco, e a natureza que nos envolve é rica e vibrante. Aqui, a Janela do Anjo (Angel’s Window) é um dos pontos mais procurados: o retângulo recordado na rocha oferece-nos o enquadramento perfeito para uma fotografia-postal.
1. Grand Canyon A relação entre o rio Colorado e o Grand Canyon reflete uma constante mudança ao longo de milénios, e este conceito também está presente no ideal americano. Está ao alcance do indivíduo renovar-se e criar transformação no ambiente que o rodeia, através da dedicação e do trabalho árduo. Tal como o rio persistiu em esculpir o desfiladeiro, também o homem é capaz de talhar o seu próprio destino. E foi esta a proposta dos fundadores dos Estados Unidos no século xviii, que promoveram a América como a terra da oportunidade. Não uma terra de enriquecimento fácil, mas antes de trabalho árduo, de persistência e, acima de tudo, de audácia. E, assim, nasce a América, não apenas como país independente em 1776, mas também enquanto ideal romântico.
2. Death Valley O Vale da Morte é o local mais baixo, quente e seco dos Estados Unidos da América. Com uma temperatura máxima registada de 56,7° C demonstra como a América do Norte é um lugar de extremos. A sinalização alerta-nos para os perigos de caminhar nas dunas, tal é o calor, ainda assim, corremos 30 metros antes de tirar uma fotografia.
2. Death Valley São 15h00 e estão 46,7° C. A garganta seca e sentimos tonturas. Não arriscamos repetir a proeza. Mesmo na era do ar condicionado e dos veículos modernos, o calor do Vale da Morte é implacável e continua a representar um desafio para os viajantes e prova disso mesmo são os telefones que encontramos periodicamente ao longo da estrada.
2. Death Valley Lembramo-nos dos colonos americanos que atravessaram a América e vieram em busca do desconhecido no Oeste. E é neste vale inóspito que encontramos uma réplica dessa audácia. Aqui, somos todos pioneiros, frágeis, por mais viajados, aventureiros e corajosos que possamos ser.
3. Monument Valley A expetativa era enorme. O Oeste americano que imaginamos corresponde a cerca de 13 quilómetros quadrados do Monument Valley. A chuva e os relâmpagos preenchiam o horizonte, para nosso desalento. Mas o nosso pesar ia além da frustração de sairmos dali sem uma fotografia digna de lembrança. Parámos para abastecer. Na bomba uma mulher de cara vermelha e enrugada atende-nos sem nos passar muita confiança. O ar é pesado. O solo laranja e verde parece tirado de sonhos. Os pilares que se erguem do chão compõem um retrato vasto e sublime. A perspetiva lá de baixo confere escala ao panorama fantástico lá de cima. Enquanto olhávamos o horizonte de um dos miradouros, aproxima-se um guia do parque. Avisa-nos para ter cuidado e conduzir com vagar. Começamos a falar sobre a história dos nativos americanos. Quando os colonos chegaram, a terra não era de todo inabitada. Diversas tribos ocupavam o território e tinham culturas complexas e variadas. «Índios» foi o que lhes chamaram. A «ambição do homem branco», tentado pela riqueza da terra, conduziu à dizimação desta civilização.
3. Monument Valley Os seus descendentes acabaram confinados em reservas autónomas, com leis e entidades próprias. O Monument Valley (que aliás não pertence ao National Park Service), pertence à Nação Navajo, a maior destas reservas. Hoje, os quase 200 mil habitantes ocupam as terras que lhes foram atribuídas no final do século xix, carentes de recursos naturais e inóspitas. A taxa de desemprego ronda os 45 por cento e cerca de 40 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza. Com alguma relutância, John, o guia, admite que a população é afligida por desemprego e o alcoolismo. A melancolia que vínhamos a sentir sem compreender, de repente, fez sentido. Uma nação que carrega a amargura dos antepassados num presente de desesperança. Isolados, segregados, erodidos. Tal como as formações rochosas que se desenhavam ao longo do horizonte.
3. Monument Valley Antes de nos deixar, sem esboçar um sorriso, partilha connosco o seu cartão-de-visita. Afinal, quer convidar-nos para um tour. Sorrimos nós, explicando que já estávamos de partida. Lemos o cartão: «Não podes ver o futuro com lágrimas nos teus olhos», um provérbio tribal navajo. Essas palavras ecoam, enquanto contemplamos o cenário. O céu para de chorar. À medida que o Sol se põe, os seus raios rasgam o vale. Atrás de nós surge, surpreendente, um arco-íris, dois arco-íris. Haja esperança. Haja futuro.
4. Bodie (a cidade fantasma) Quando rumores da abundância de ouro na California chegaram aos ouvidos dos colonos, iniciou-se a febre do ouro, a desalmada procura do eldorado. A promessa de trabalho árduo converteu-se na cobiça do enriquecimento. Eram os tempos do Faroeste, marcado pelo profundo individualismo do self-made man, entre a desordem e a violência. Em 1859 um grupo de prospetores encontrou ouro em Bodie, a 80 quilómetros de Yosemite. No pico da sua prosperidade terá atingido cinco mil habitantes, na década de 1970, auxiliada pela chegada de linhas férreas e eletricidade ao Oeste.
4. Bodie (a cidade fantasma) Porém, apenas dois anos volvidos, a cidade entrou num declínio, que foi sendo acelerado pelos vários incêndios que assolaram Bodie. Em 1932, o fogo deixou apenas 10 por cento da cidade de pé. Depois da saída dos últimos residentes nos anos 1940, James S. Cain, último proprietário da cidade, encarregou um guarda com uma caçadeira, dizendo: «Se alguém se aproximar, dispara!» Bodie é hoje uma cidade fantasma, preservada tal como foi deixada nos anos 1940.
4. Bodie (a cidade fantasma) Caminhando entre as casas de madeira, espreitando o passado através das janelas baças, somos transportados para uma época perdida, para o Faroeste que vemos nos filmes. A mercearia permanece recheada à espera de clientela. O saloon implora por gritos e confusão. Mas, no bar, acumula-se pó sobreos copos vazios. Bodie serve de testamento a uma América que já não existe. Uma América que procurou a fronteira a todo o custo. Uma América em busca da oportunidade e da liberdade individual, que a consumiu. Hoje, pode apenas encontrar refúgio do mundo moderno e materialista na solitude da floresta ou o desafio do deserto.
5. Yosemite Cinco horas separam Death Valley e Yosemite, mas aqui a vida brota. Verde e imponente, é um reduto da natureza, com vegetação exuberante, uma vida animal que teima em nos vigiar a cada canto, e ao longe ouve-se o rugido das quedas de água. Estamos na Sierra Nevada. No centro deste ecossistema está o Vale de Yosemite, que se estende ao longo de 13 quilómetros. Para vê-lo em todo o seu esplendor, temos de subir a Glacier Point, o miradouro natural mais popular do parque, que se ergue a mais de dois mil metros acima da linha do mar.
5. Yosemite Com mais de 700 metros de altura, as cataratas de Yosemite são majestosas e as mais altas da América do Norte. A água é, aliás, um denominador comum do parque, banhado por dois rios e centenas de lagos que matam a sede à fauna vibrante que vive no parque: urso-negros, raposas-vermelhas, linces, veados, carneiros selvagens. O grande arauto deste vale idílico foi John Muir, no século XIX. Este filósofo naturalista defende o caráter silvestre da Terra, em oposição à fronteira americana.
5. Yosemite Não conformado com a terra convertida numa fonte de oportunidade para o Indivíduo, torna-se impaciente para com os valores da América do destino manifesto, partindo para o vale, vivendo isolado, pelos seus próprios meios, durante dois anos. O «virar-se para a floresta» torna-se parte da mitologia americana, símbolo da busca de refúgio na bondade da natureza quando as regras do homem parecem arbitrárias e gananciosas. Após anos de luta, a petição de Muir é aceite em 1890 e Yosemite torna-se num parque nacional. Anos mais tarde, viria a torna-se um dos primeiros parques protegidos pelo National Park Service.
6. Zion A cerca de duas horas de carro da encosta norte do Grand Canyon, encontramos o Zion National Park, entre o deserto Mojave, o planalto do Colorado e a grande bacia do Nevada. Esta mistura cria as condições ideais para que vários ecossistemas coexistam, tornando a paisagem dramática e variada. À semelhança dos puritanos, também os mórmones se organizaram em comunidades fechadas e altamente conservadoras. Em meados do século XIX ocuparam esta área, dedicando-se ao cultivo da terra. Na sua religião a Terra Prometida - sociedade utópica onde reina a justiça e os bons valores - é apelidada de Zion e daí vem o nome atual deste parque natural.
6. Zion Este conceito de Terra Prometida não é exclusivo dos mórmones e por esta altura estava já disseminada na América a crença no destino manifesto, segundo a qual é por especial virtude do povo americano sua missão refazer o Ocidente à imagem das suas novas instituições e da procura da liberdade individual. Graças a este destino, acreditavam obter, por seleção divina, acesso à Terra Prometida, vasta, rica e bela. Hoje, mais de cem anos depois da sua ocupação, a herança religiosa persiste, até, pelos nomes dados aos monumentos naturais: Grande Trono Branco, Os Três Patriarcas ou Aterragem do Anjo (Angel’s Landing). Esta última formação rochosa de 454 metros de altura é o mais popular desafio que se coloca aos visitantes. Um trilho de quatro quilómetros de subida vertiginosa e serpenteante. O último quilómetro é feito com o apoio de correntes, vendo o desfiladeiro, de cada lado, a poucos passos. Visto de longe, não admira que se pensasse que só um anjo conseguisse atingir o topo. Hoje está ao alcance de todos, desde que consigam suportar o calor, a subida e a vertigem.
6. Zion Os Estreitos (The Narrows) é outro dos trilhos mais desafiantes. Nele, os visitantes sobem rio acima entre dois penhascos totalmente verticais. À medida que as horas vão passando, as paredes vão-se aproximando, o caminho fica mais estreito e a profundidade do rio vai aumentando. Se iniciamos o percurso apenas com os pés molhados, para terminá-lo, é necessário dar algumas braçadas dentro de água. Olhando para a beleza do pousio dos anjos e dos caminhos entre desfiladeiros, torna-se difícil negar que Zion seja uma Terra Prometida concedida pelos deuses.

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Em busca do sentimento americano

Texto de Diana Guerra e José Araújo
Fotografias Direitos Reservados

As paisagens, os povos e a cultura da América do Norte são pertenças da bagagem cultural de cada um de nós graças à imortalização de Hollywood. O imaginário de todos nós tem um pouco dos EUA. Mas para encontrar o verdadeiro Sentimento Americano, temos de ir além da fervilhante Nova Iorque, além da praia californiana, além mesmo do espírito da Smalltown que vemos nos filmes. Só nos Parques Naturais podemos encontrar a América mítica.

No sentido de preservar a integridade ecológica e histórica das maravilhas naturais dos EUA, foi criado o National Park Service, em agosto de 1916, há exatamente cem anos [publicado em outubro de 2016]. É esta a entidade responsável por preservar os monumentos naturais e históricos para usufruto e apreciação do público. Hoje, o Park Service protege 401 locais, 59 dos quais são parques nacionais. A melhor forma de os conhecer é ao volante. Só trilhando a terra temos noção de como é imensa, e podemos imaginar as longas e duras viagens dos primeiros colonos, em caravanas de cavalo e carruagem.

As primeiras colónias puritanas vindas de Inglaterra instalaram-se na costa Este do continente e centravam o seu estilo de vida em torno de um firme sentido de comunidade, onde se dedicavam aos valores da devoção religiosa e retidão moral. Porém, o pulsar do continente ressoava no coração dos colonos. Uma terra vasta e misteriosa estava à espera de ser descoberta! A tentação da aventura acordou um desejo de liberdade individual que viria a caraterizar o povo americano, ditando o fim do governo puritano. Em seu lugar, nasce uma nacionalidade americana moldada pela constante expansão e por um novo conceito de fronteira – não mais seria uma barreira fixa que delimitava os povos, como acontecia na Europa.

A fronteira americana torna-se a linha que separava a civilização do mundo ermo e inexplorado, em constante progresso a caminho do Oeste. Aquilo que viriam a encontrar excederia as suas maiores expetativas. As terras eram férteis e fáceis de cultivar; os recursos, também eles abundantes, incluíam ouro e petróleo; e a paisagem, essa, era variada e incomparavelmente bela.

Imagem de destaque: Shutterstock/D.R