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Dez miradouros para descobrir o Planalto Mirandês

Clique nas setas para ver mais imagens. Paradela - O mais a Oriente O GPS vai pensar que este ponto, tão a oriente, é engano. Esta aldeia é um lugar de segredo. Os animais, que dormem na estrada, não conseguem perceber porque estamos aqui. A horticultura é muito artesanal. Não sei se aqui as meloas são as mais doces, se as batatas têm mais joanetes ou se as cebolas têm maior diâmetro, mas Paradela é o ponto mais oriental de Portugal e aquele onde o sol nasce primeiro. É essa a efeméride que também faz companhia às pessoas. [Imagem: D.R.]
Vale de Águia - A letra 'U' O miradouro de Vale de Águia é dos mais recônditos do Planalto Mirandês. Prepare-se para estacionar o carro ou a bicicleta e andar um pouco a passo. É uma representação física da vigésima primeira letra do alfabeto português, um 'U', deitado, a olhar para o teto. É deixarmos a luz entrar pela janela de cima e perdermos a pressa. No entretanto, podemos rir enquanto procuramos palavras com a letra 'U'. [Imagem: D.R.]
Cércio - Parapente de abutres Interrogue-se se em algum miradouro do mundo já viram ajuntamento tão grande de abutres selvagens para fazer parapente. Este cenário parece criado para esse fim: um lugar de lançamento de abutres. Quando abrem as asas chegam a fazer sombras de dois metros. E nós somos o telheiro que os resguardam. [Imagem: D.R.]
Picote - Fraga do Puio O acesso a este miradouro é muito fácil uma vez que todas as setas da aldeia parecem ter vontade própria e apontam para aqui. O miradouro da aldeia de Picote, conhecido como Fraga do Puio, foi totalmente reconstruído após um incêndio em 2017. Tem uma parte frontal, em vidro, que parece que nos deixa fora do mundo. Esse novo mundo, onde entramos, continua a ter Espanha logo ali do outro lado. [Imagem: D.R.]
Picote e Barrocal do Douro - O rio Douro Apenas acessível de jipe, de bicicleta ou a pé, a partir da aldeia de Picote. Pode ir e ficar o tempo que se quiser uma vez que não há parquímetro. A subida é exigente, mesmo para o jipe. Paulatinamente, a imensidão do rio Douro transforma-nos em miniaturas. É deixar o drone, ou as máquinas fotográficas, adaptarem-se a essa vertigem. A existência das águias, insetos e peixes é o ruído mais ensurdecedor que vai escutar. [Imagem: D.R.]
Sendim - Postal “obsceno” Quem chega ao centro da vila de Sendim basta seguir a indicação que diz "Pisões". Depois, durante esse trajeto, fica-se confuso com a quantidade de miradouros que se detêm. Mas há uma solução: vê-los a todos. À medida que se desce, até chegar ao cais fluvial, a paisagem vai ganhando proximidade e intimidade. E não há nenhum dia do ano em que as milenares arribas do douro não se transformem num cenário de postal “obsceno”. [Imagem: D.R.]
Urrós - O escondidinho Ao chegar a Urrós certifique-se do que leva alojado na barriga porque este miradouro apressa mecanismos interiores. É, de todos eles, o mais escondido e, portanto, o melhor para para soltar um grito. O 'eco eco eco' é o sinal vital de qualquer miradouro. Já no final do percurso, a uns 200 metros antes do topo, tem de se andar a pé e às apalpadelas uma vez que não há indicações. Mas esse tempo é benéfico para começar a calibrar os olhos. As coisas acalmam se houver um semi-agachamento, como se estivéssemos nós a esconder-nos dele. [Imagem: D.R.]

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Percorra as fotogalerias para conhecer dez miradouros para descobrir o Planalto Mirandês.

Há uma sensação de que o tempo que passamos nos aviões só existe ao levantar e aterrar. Nós estamos sempre lá e, se olharmos para o mostrador, percebemos que essa impressão não passa de uma patranha.

Com as fronteiras fechadas, os miradouros são os novos aviões e, também eles, paralisam o tempo entre a chegada e a partida. Estes são dez miradouros recônditos do planalto mirandês (Paradela, Aldeia Nova, Vale de Águia, Cércio, Freixiosa, Vila Chã de Braciosa, Barrocal do Douro, Picote, Sendim e Urrós). Estão ordenados de norte para sul e cada nome é o da aldeia a que pertencem.


Rui Peres nasceu em 1982 na aldeia de Picote, Miranda do Douro, Trás-os-Montes, Portugal. É licenciado em Engenharia de Telecomunicações e Informática mas continua a usar máquina de escrever. Trabalhou em projectos para aviões e comboios mas prefere andar a pé. Viveu em vários países. Editou centenas de poemas nas toalhas de mesa dos jantares de família. Está a cumprir o seu sonho – dar a volta ao mundo. Partilha histórias com pessoas e lugares no seu projeto @mal.parado.