Lançar pontes sobre o que deve ser o futuro do turismo e o mercado de viagens em Portugal e no Mundo foi o mote da conferência “VM Talks: viajar depois da pandemia”, organizado pela revista Volta ao Mundo esta terça-feira, 27 de abril.

Dela nasceram ideias que prometem arrepiar caminho, sugestões para um futuro melhor e o retrato fiel de um setor que aponta à retoma gradual e ao fulgor do passado recente já a partir do próximo verão.

O estudo, elaborado pelo Grupo Europ Assistance, que revelou a enorme vontade de os portugueses fazerem férias em Portugal, foi central num encontro que juntou Rita Marques, secretária de Estado do Turismo, João Horta e Costa, chief comercial officer da Europ Assistance para Portugal, Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens, José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, e Rui Barbosa Batista, vice-presidente da Associação de Bloggers de Viagem Portugueses.

A razão para esta opção maioritária dos portugueses tem explicação clara, considerou João Horta e Costa, chief comercial officer da Europ Assistance para Portugal, para quem a escolha do território nacional para uns dias de descanso joga com o facto de as “pessoas sentirem apetência maior para se sentirem protegidas, nomeadamente através da contratação de seguros para algum problema relacionado com a covid-19 e não só.” Uma lanterna acesa de “alguma esperança” de que este ano possa ser o da “retoma do turismo e de que os portugueses sejam o motor dessa retoma.”

“Todos, coletivamente, sentimos vontade de desconfinar e de viajar”, assinalou, por sua vez, Rita Marques, que recordou os 450 mil postos de trabalho gerados pelo setor turístico em Portugal, cerca de 50 mil dos quais foram eliminados desde o início da pandemia.

“O turismo vive problemas mais agudos e graves do que o resto da economia, com empresas sem faturação, receitas que voltaram aos valores de 2011 e dormidas a recuarem aos números de 1994”, desfiou a secretária de Estado do Turismo durante a conferência, que teve moderação de Pedro Ivo Carvalho, diretor da revista Volta ao Mundo.

No entanto, há motivos que permitem acalentar o otimismo, acredita Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens: “O importante não é saber se a retoma será lenta ou rápida, é que não haja recuos. A luz ao fundo do túnel é a vacinação, aí reside a chave que todos precisamos para que seja possível o regresso das viagens internacionais.”

O responsável sustentou que o mercado internacional começa a dar sinais de “que está a mexer” e o que o confirmado aumento dos depósitos bancários e das poupanças das famílias “vai permitir mais dinheiro para viajar.” e um “regresso gradual” dos destinos internacionais ao topo das escolhas.

José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, que conta com uma cadeia de 100 hotéis espalhados pelo Mundo, partilhou do sentimento de que o turismo internacional é decisivo para o setor, não apenas ao nível global, como no caso específico de Portugal. “Além da vacinação, é também importante que existam regras claras em relação aos transportes aéreos e aos aeroportos, de forma a evitar o que aconteceu em 2020, nomeadamente com os voos de e para Inglaterra”, traçou.

Nesse sentido, José Thetónio apontou o certificado digital que a União Europeia pondera disponibilizar a partir do início do verão como um “fator de confiança” para os clientes turísticos e os países recetores.

Outra das alavancas pode passar pela aposta na angariação de novas rotas aéreas. “Nomeadamente as provenientes de mercados distantes, que permitam estimular a operação turística e promover Portugal, um destino seguro e de excelência”, defendeu, por seu lado, a secretária de Estado do Turismo.

Já Rui Barbosa Batista, vice-presidente da Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, afirmou que neste período “a segurança é dos fatores de confiança que vai pesar mais na escolha do destino de férias dos portugueses”. A esta questão junta-se a “consciência ambiental, que veio para ficar”, e terá lugar marcado nas agendas dos principais players do mercado daqui em diante.

“A sustentabilidade a todos os níveis é uma das palavras-chave daquilo que nos espera no futuro. Governo, operadores, agentes de viagens, todos têm que se ajustar e perceberem que o Mundo mudou”, frisou Rui Barbosa Batista.

Esta preocupação foi partilhada pelos restantes intervenientes no debate. “O futuro vai trazer uma série de oportunidades, como a captação do serviço incoming, complemetado com compras locais para garantir que ecossisestema funcione a todos os níveis”, antevê João Horta e Costa.

Rita Marques concordou que a “conetividade aérea é absolutamente essencial para o turismo” e lembrou que a sustentabilidade faz parte do dicionário de ações de operadores aéreos, “cujo compromisso em relação a essa matéria é imenso.” Ao Governo e ao Estado caberá encabeçar incentivos que permitam “que as rotas aéreas venham cheias, para diminuir a pegada ecológica.”

O presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens assinou por baixo e estruturou que “viajar verde não é um estado de alma, antes um conjunto de práticas que têm de ser otimizadas ao longo da programação das viagens.” Uma oportunidade de ouro, disse Pedro Costa Ferreira, “para que as agências se possam especializar nessa matéria.”

José Theotónio lembrou, a propósito, que o setor hoteleiro tem feito um “esforço grande nesse sentido”, dando o exemplo da reconversão energética das unidades de alojamento pertencentes ao Grupo Pestana, ou “a redução de plásticos e até mesmo a promoção de ementas mais saudáveis.”

Rui Barbosa Batista rematou sugerindo que os bloggers de viagem podem ter aqui um papel relevante a desempenhar. “As viagens verdes estão muito enraizadas entre os bloggers, os quais promovem Portugal e a coesão do território como ninguém através de iniciativas multimédia que depois são partilhadas nas redes sociais”, especificou.

Ideias que ficaram de um debate que teve a duração de cerca de uma hora e abriu horizontes em relação ao turismo, às ideias que o sustentam e às vias que lhe vão permitir respirar a todo o fôlego a curto e médio prazo.

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