Corria o ano de 1993 e João Costa estaria longe de imaginar que exatamente três décadas depois faria parte de um Governo enquanto ministro da Educação. Era então um jovem estudante de 21 anos com uma licenciatura em Linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em mãos.
Quando surgiu a hipótese de experimentar o programa Erasmus não hesitou por um simples segundo que fosse. Preparou tudo, fez as malas e disse um adeus temporário a Portugal. O destino foi a Universidade de Groningen, nos Países Baixos, autêntico ninho de multiculturalidade e de uma experiência de ensino singular.
Ali passou um ano da vida académica. Inesquecível, tão inesquecível que dele se recorda com saudade forte e singular.
“Foi uma oportunidade única e que, na verdade, determinou o meu percurso académico”, conta João Costa à “Volta ao Mundo”. A marca ficou tão profunda que o futuro ministro multiplicou o tempo previsto de estadia nos Países Baixos.
“Acabei por ficar a fazer o doutoramento nesse país, na Universidade de Leiden. Fui por um ano e acabei por ficar lá cinco.”
Há 30 anos, o conceito Erasmus era o mesmo que na atualidade continua a guiar o programa como linha principal. Embora com algumas diferenças, porque os tempos que se seguiram foram de constante aperfeiçoamento para o melhorar e limar a fim de se tornar cada vez mais aliciante.
“À data, o Programa Erasmus era relativamente recente e não havia tantos acordos de cooperação entre universidades. A oportunidade foi-me apresentada por dois professores e pude escolher entre três universidades, duas nos Países Baixos e uma em França.”
Groningen, a tal que lhe ficou presente para sempre, acabou por ser a escolha. E revelar-se-ia essencial.
“Escolhi-a por ser a que tinha um programa de estudos mais intenso na área da linguística em que me pretendia especializar após a licenciatura, a sintaxe teórica”, descreve.
Mas havia mais, havia o companheirismo e a amizade com parceiros de percurso que não queria deixar para trás e, assim, partilhar uma experiência que viria a demonstrar na prática ser única de tão enriquecedora.
“Em Groningen havia também duas vagas e podia ir com uma amiga e colega de curso.” E foi. Aliás, foram. E de lá voltaram com um background que viria a ser de utilidade profunda no que aí viria na vida profissional e não só.
“O Erasmus traz mundivisão”, resume João Costa. Uma abertura ao Mundo e a diferentes mundos que alarga conhecimentos, confere experiência, proporciona o que dificilmente um percurso universitário unicamente cingido a Portugal proporcionaria. Uma janela aberta a tudo e a todos, que acabaria por não se fechar.
“Conhecemos não apenas outras realidades culturais, mas também diferentes metodologias de ensino. Somos desafiados a estudar noutra língua e ganhamos amizades a uma escala europeia.”
Uma escala inimaginável de tamanho em termos de consequências práticas na aprendizagem e nos reflexos futuros dessa mesma aprendizagem. “Em muitos casos, podemos frequentar unidades curriculares inexistentes nas instituições de origem, alargando os horizontes em termos académicos.”
Por isso, o ministro da Educação – que antes de governante foi professor catedrático de Linguística na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e diretor dessa mesma instituição, além de presidente do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades da Fundação para a Ciência e Tecnologia, membro do Conselho Científico do Plano Nacional de Leitura, da Comissão Nacional do Instituto Internacional da Língua Portuguesa e do Conselho Consultivo do Instituto Camões e líder da Associação Portuguesa de Linguística – não pensa duas vezes quando o desafio é o de enumerar as vantagens que o programa Erasmus traz para quem o experimenta.
“Para além das óbvias competências linguísticas, há competências de autonomia e desenvolvimento pessoal que são desenvolvidas. Sobretudo, a oportunidade dada ao aluno de traçar o seu programa de estudos é, muitas vezes, um primeiro passo para a decisão sobre percursos futuros.”
A quem (ainda) estiver hesitante se deve, ou não, optar por Erasmus no seu percurso estudantil, João Costa aconselha a “colocar as dúvidas de lado”. As justificações são várias e podem resumir-se numa frase só: “É uma experiência única e determinante para o futuro pessoal e profissional”.
Até porque, hoje, “já não temos sucesso se nos confinarmos nas nossas fronteiras”, daí que o Erasmus se assuma como o primeiro de um conjunto de grandes passos rumo a uma valorização pessoal, académica e profissional sem paralelo.
“É, para muitos, o primeiro passo de uma experiência global, determinante ao longo das nossas vidas”, aponta João Costa. Ele que ainda hoje aporta para o Ministério da Educação ensinamentos que apreendeu enquanto estudante nos Países Baixos.
“Há claramente uma capacidade de perceber que os desígnios dos sistemas educativos são partilhados e comuns, apesar das especificidades de cada país. Isso entusiasma-me para os laços de cooperação internacional e para os debates globais sobre educação que acontecem e em que Portugal participa ativamente.”
Saiba mais sobre destinos Erasmus na edição de junho da sua Volta ao Mundo. Disponível em formato digital.