A Acrópole, aqui "iluminada" por uma mensagem de alerta da Greenpeace para a necessidade de preoteger os oceanos contra a ganância corporativa (Greenpeace Greece / AFP)

Tem 5000 euros para investir em duas horas e ter a Acrópole de Atenas só para si. Em breve será possível. Mas há quem alerte: “reservar” para ricos algumas horas no símbolo maior da Democracia é tudo menos democrático.

A ideia do Conselho Arqueológico Central, conselheiro do Ministério da Cultura, foi anunciada no final do ano passado para ser implementada a partir deste mês de abril.

Por 5000 euros, será possível embarcar num tour privado com, no máximo, quatro pessoas, e usufruir do templo que marca o horizonte de Atenas entre as sete e as nove da manhã ou as 20 e as 22 horas, às terças, sextas e sábados, exceto em noites de lua cheia. Entrarão apenas cinco grupos por dia, guiados por arqueologistas e com direito a souvenirs.

A medida insere-se na nova política de bilheteira dos museus e locais arqueológicos da Grécia geridos pelo Estado. Em causa está a criação de preços em função da quantidade de visitantes.

A Acrópole, o sítio mais visitado de todos – atingiu um pico diário de 22 mil pessoas no verão de 2023 –, custará 30 euros. A entrada nos outros sítios com mais de 200 mil visitantes ficará por 20 euros. Os menos visitados custarão entre cinco e 15 euros.

Ainda que se entenda a necessidade de regular o acesso a sítios demasiado pressionados pelo turismo, parece difícil engolir esta medida em particular. Porque apenas concentra em menos tempo (a abertura ao público costumava ser à oito da manhã) a quantidade de visitantes comuns.

Ao jornal britânico “The Guardian”, um representante da Federação Pan-helénica de Guias Turísticos alertou para o risco de saúde. “Há muitos anos que a nossa federação tem pressionado para que se antecipe a abertura da Acrópole por causa das alterações climáticas. Sem sombras, é muito mais quente lá em cima”, avisa Kriton Piperas.

No verão passado, temperaturas recorde acima dos 45 graus obrigaram ao encerramento da Acrópole durante vários dias…

Do seu lado, Costas Zambas, que liderou os trabalhos de restauração do monumento, denuncia o “elitismo” da medida quando se alarga o fosso entre ricos e pobres. “A simples noção vai contra o espírito de um lugar que associamos com a democracia. Não fica bem” num monumento visto pelos atenienses como um símbolo da Atenas democrática da igualdade perante a lei.

Já os arqueologistas temem começar a ver abusos. Esses visitantes “sentir-se-ão no direito de fazer o que lhes apetecer ali, já que gastaram tanto dinheiro…”, lamenta ao mesmo jornal Despina Koutsoumba, vice-presidente da associação nacional de arqueologistas.

No geral, os opositores questionam a perspetiva da Acrópole como “um produto”. Mas Nikoleta Valakou, da Organização de Desenvolvimento de Recursos Cutlurais Helénica, dependente do Ministério da Cultura, trata-se de gerar receitas para reinvestir em projetos culturais. E são estimadas em 40 mil euros por dia…

Mas admite tratar-se de um projeto piloto a avaliar futuramente.

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