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Mónica “reformou-se” para viajar e fazer voluntariado

Fotos: DR

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Aos 25 anos, Mónica Pacheco definiu uma meta meta para a vida: nunca mais tomar decisões com base em dinheiro. Hoje, aos 32 anos, considera-se reformada e viaja a fazer voluntariado. Conheça a história da @pacheca_no_mundo, na primeira pessoa.

O que significa nunca mais tomar decisões com base em dinheiro?

Crescemos numa sociedade em que está tudo mais ou menos pré-definido: Terminar os estudos e arranjar trabalho. Como estudei arquitetura, arranjar trabalho depois da universidade não foi tarefa fácil.

Ao fim de uns meses estava insatisfeita com o que fazia e iniciava a procura de algo em que realmente sentisse que aplicava as minhas competências. Experimentar, fazer auto análise e muito “fake it til you make it”.

O problema é que aos 25 anos é difícil ter liberdade financeira para poder ir atrás daquilo de que se gosta realmente e rejeitar empregos – que até estão em linha com os interesses mas não permitem pagar renda e alimentação.

Comecei a abrir o horizonte, procurei programas que me levassem ao estrangeiro, bolsas de trabalho, concursos, etc. Consegui viver um ano no Brasil a trabalhar na área que queria e dar o primeiro passo para me tornar uma profissional sem cargo definido.

É verdade, sou muita coisa e não consigo encontrar um cargo que me defina. Sou design strategist, problem solver, UX designer, business developer, digital manager, arquiteta (serei sempre), construtora, fotógrafa, cozinheira, etc.

Foram anos difíceis, de muita rejeição por ter um perfil demasiado multidisciplinar e de muita poupança, desde procurar moedas enterradas no sofá, como ajudar os meus pais fotógrafos aos fins de semana nos casamentos.

Aos 28 consegui dar entrada para um apartamento num bairro social, por ser algo mesmo muito económico. Cheguei a chorar por achar que seria um erro, mas foi a melhor coisa que fiz.

Foi nessa altura que me despedi pela primeira vez de um emprego estável, fugindo ao tal caminho pré-definido. E tive de me despedir porque tinha de fazer obras e não tinha dinheiro para pagá-las, pelo que andei quatro meses a tratar disso.

Não há palavras que descrevam o quão duro foram esses meses, mas foi a partir daí que a minha vida mudou realmente. Hoje tenho vários investimentos, ainda me meto a “matar” em obras, mas felizmente já consigo pagar para ter ajuda.

Então e a parte da reforma e de estar a viajar?

Foto: Mónica Pacheco

Essa é a parte boa. Continuo a ter empregos, porque gosto de trabalhar, gosto de estar ativa e de ter desafios. Mas escolho sempre com base no que quero realmente fazer.

Para além disso, há quatro anos participei num programa de voluntariado de dois meses na ilha indonésia Bangka Belitung, para ajudar os negócios locais a evoluir.

Aproveitei o facto de estar daquele lado do Mundo e continuei: juntei-me a um centro de refugiados em Myanmar (a experiência mais dura emocionalmente que já vivi), ajudei numa clínica em Cebu, nas Filipinas, e juntei me a uma ONG que transformava plástico do lixo emplacas para construção, em Da Nang, no Vietname.

Foto: Mónica Pacheco

Ao fim de meio ano, regressei a Portugal e juntei-me a um projeto que estava mesmo a arrancar e que fazia todo o sentido para mim: a Fundação José Neves, onde estive até recentemente a trabalhar como digital manager.

Passados quatro anos e por várias razões decidi fazer uma pausa sabática e voltar ao voluntariado na Ásia, desta vez com o meu namorado, para viajar um pouco mais.

Foto: Mónica Pacheco

Encontrámos um projeto na ilha malaia Labuan, que consiste em dar aulas a “stateless kids”: filhos de imigrantes nascidos na Malásia que não são reconhecidos como cidadãos.

Têm apenas um certificado de nascimento, mas não têm direito a documentação de identificação pessoal. Apesar de a escola pública ser gratuita, sem documentos são impedidos de frequentá-la.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema, em 2017 havia cerca de 23 mil crianças
sem documentação em todo o estado de Sabah.

Foto: Mónica Pacheco

A primeira coisa que nos disseram foi: “Estes miúdos são de ninguém, não são aceites pelas Filipinas nem pela Indonésia porque não nasceram lá e não são aceites pela Malásia por serem filhos de imigrantes e por isso não terem documentação. Não podem ir à escola, não têm direito a viajar, não têm direito aos direitos do país”. Mas a vida deles é aqui, este é o país deles, “são malaios”.

Há três anos, Alvin, um campeão de artes marciais, quis ajudar e passou a receber as crianças no seu ginásio para ensiná-las a ler e a escrever. Hoje, acolhe voluntários de todo o Mundo que lhes ensinam inglês e oferecem uma visão global.

Nós tivemos a oportunidade de ser dois desses voluntários, de dar aulas das 9h às 16h, passando por um pouco de tudo, matemática, geografia, inglês, nutrição, ciências, etc.

Foto: Mónica Pacheco

Alvin apoia 18 crianças porque não consegue receber mais, apesar de ter dezenas de pedidos de pais.

Conseguem imaginar o impacto no vosso futuro se não tivessem tido a oportunidade de ir à escola? Não aprender significa não ter futuro, não ter oportunidades de emprego, de viajar, de pertencer.

Como podemos ajudar?

São precisos mais voluntários que cedam parte do seu tempo. Fazer voluntariado é uma das melhores formas de se conhecer realmente a cultura e as pessoas de um país. E dar aulas a estas crianças é sem dúvida uma experiência muito enriquecedora, mesmo para quem nunca ensinou.

Partilho tudo no @pacheca_no_mundo, de forma genuína, sem filtros nem drones. Gosto de fotografia porque sou filha de fotógrafos, mas gosto acima de tudo de rir quando as coisas correm mal.

Foto: Mónica Pacheco